Para quem costuma acordar cedo para trabalhar, um agradável alarme natural. Para quem está chegando em casa da balada, o aviso de que a noitada talvez tenha sido longa demais e o sol está prestes a raiar. O bucólico despertador tem um nome: sabiá-laranjeira.
O canto desse passarinho ecoa logo cedo em diversas pontos da cidade, junto com o barulho dos primeiros carros que começam a circular pelas ruas. Embora seja o comportamento natural da espécie, o sabiá-laranjeira tem sido obrigado a iniciar a cantoria cada vez mais cedo para conseguir se adaptar no ambiente urbano.
“Os machos cantam para marcar território ou para atrair fêmeas. Nas grandes cidades, existe a competição de espaço sonoro, que começa muito cedo pela manhã com o barulho feito pelos humanos”, explica Fabio Olmos, biólogo formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em pássaros. “O sabiá-laranjeira então aproveita os horários mais silenciosos na cidade para cantar. É uma forma de adaptação”.
Segundo o biólogo, o sabiá-laranjeira é uma das espécies de pássaro que mais se adaptou à realidade urbana de São Paulo. Eles costumam ser mais vistos – e ouvidos – em áreas mais arborizadas da capital. “Moro perto do Largo Paissandu, no centro, e escuto sabiás todos os dias, graças à presença de árvores por ali. O mesmo acontece, por exemplo, na Praça da República”, afirma.
Olmos salienta também que é possível ouvir outras espécies cantando em São Paulo. “Falamos só do sabiá-laranjeira porque o canto dele é o mais musical. Mas cantam também bem-te-vis e sanhaços. É só prestar atenção”, explica.
Observador e admirador confesso de aves, Olmos aproveitou para dar um puxão de orelha em paulistanos que reclamam do canto do sabiá-laranjeira. “Ouço muita gente se queixando durante a madrugada. Essas pessoas, na verdade, tinham é que reclamar da poluição sonora provocada pelos ônibus em São Paulo. Essa é a verdadeira tragédia para a vida das pessoas. E também das aves”, desabafa.