Vizinhos chegam a andar uma hora para entrar no Parque Bruno Covas
Moradores da Peinha, Real Parque e Jardim Panorama estão a metros do local e pedem mais acessos para pedestres
Apenas oito faixas da Marginal Pinheiros separam o Jardim Panorama do Parque Bruno Covas, mas quem quiser se aventurar a ir de um ponto a outro a pé vai demorar ao menos uma hora. E aventura não é modo de dizer: é preciso caminhar pelas margens da via de alta velocidade até as pontes Cidade Jardim ou Laguna, dois dos apenas quatro pontos que permitem que uma pessoa sem carro ou sem bicicleta acesse o parque.
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Inaugurado parcialmente em junho do ano passado — a segunda fase ainda está sendo executada —, o Parque Bruno Covas tem 8 quilômetros de extensão, entre a Ponte Cidade Jardim, na Zona Oeste, e a região de Santo Amaro, na Zona Sul.
Mas muita gente que mora próximo nem sequer sabe que na beira do Rio Pinheiros há um espaço aberto ao público, com entrada gratuita, onde é possível praticar esportes, caminhar e levar as crianças para brincar, justamente por estar circundado por uma via exclusiva para carros.
De acordo com um levantamento feito pelo Laboratório Rio Pinheiros, formado pelo escritório de urbanistas Metrópole 1:1, pela organização SampaPé! e pela Farah Service (que faz parte do consórcio gestor do parque), há 97 comunidades no raio de influência do parque, sendo a Peinha, o Real Parque e o Jardim Panorama as mais próximas. A primeira está localizada próximo à Ponte João Dias, mas do lado oposto onde há o acesso ao parque. As duas últimas estão na altura da Ponte do Morumbi, onde não há acesso ao parque.
Os acessos para pedestres só existem nas pontes Cidade Jardim e João Dias, por meio de uma escada, e na Ponte Laguna, por meio de rampa. Caroline Viana, moradora do Jardim Panorama, diz que muitos vizinhos dela nem sequer sabem da existência do parque. “A única entrada que a gente tem é pela Cidade Jardim, a gente gasta mais ou menos uns quarenta minutos, quem anda rápido, para chegar até lá. E não é um caminho seguro, é beirando a marginal”, reclama.
O Laboratório Rio Pinheiros fez uma reunião, na semana passada, com representantes das subprefeituras do Butantã e do Campo Limpo e apresentou como sugestões a criação de uma faixa de pedestres com semáforo na Ponte João Dias; a criação de um acesso ao parque pela Ponte do Morumbi, inclusive com a implantação de faixa de pedestres; a diminuição das velocidades nas pontes e no trajeto, e a sinalização de prioridade de pedestres nas travessias.
Leticia Sabino, diretora-presidente do SampaPé!, explica que a dificuldade de acesso ao equipamento é um problema sabido desde o início, justamente por sua localização peculiar. “Tem comunidades realmente muito próximas, que não têm acesso a nenhum espaço público e que agora teriam com o parque, mas há muita dificuldade para chegar”, aponta. A entidade fez caminhadas com mulheres até o parque para estudar as melhores soluções sob uma perspectiva de gênero, para deixar o caminho mais seguro e agradável para elas. Mas o que foi observado é que não há apenas um obstáculo físico de acesso, mas também de integração social com as áreas vizinhas. “A população do entorno não entende que pode ir nesse lugar, é zero convidativo. Além de não ter uma integração física, não há uma integração simbólica, de comunicação”, aponta.
Michel Farah, fundador da Farah Service, diz que é uma missão da administração “levar o parque para as comunidades”. “A Peinha, por exemplo, está a 200 metros do parque e leva 45 minutos para chegar ao parque, isso fazendo o certo. Porque o caminho que a gente detectou é muito mais perigoso, atravessando a João Dias. É muito perigoso. Na Peinha, os moradores chegariam em sete minutos se tivesse toda a transformação. Ali no Real Parque, as dificuldades são inúmeras, porque o canal do Rio Pinheiros sempre foi uma área de serviço, em meio a pistas de alta velocidade. A gente urbanizou de uma maneira totalmente descompromissada com as pessoas”, opina. Farah espera conseguir as autorizações e parcerias com o poder público municipal e estadual para que, dentro dos próximos oito meses, os acessos sejam atualizados e melhorados. “No começo, eram 17 000 pessoas por mês, entre parque e ciclovia. Mês passado, foram 310 000 visitantes. A gente quer que até o fim do ano chegue a 1 milhão de pessoas visitando”, afirma.
Em nota, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) informaram que “avaliam as solicitações dos representantes do Laboratório Rio Pinheiros em conjunto com a concessionária responsável pela implantação do Parque”. Já o governo estadual afirmou, em nota, que a primeira etapa do Parque Bruno Covas deve ter, na segunda fase, “conexão intermodal com ciclovias e as estações de ônibus, Metrô e CPTM” e que, atualmente, governo e prefeitura “avaliam os planos viários e legislações vigentes para viabilizar o projeto”.
Publicado em VEJA São Paulo de 12 de abril de 2023, edição nº 2836
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