Descalços, de bermuda ou com as calças rasgadas, cobertos de papel higiênico, cercados por uma rede de proteção. Uns cabeludões, outros não, todos tocam tango à meia-luz. Num primeiro momento, o inusitado da combinação desperta a curiosidade e chama o público por si só. Mas, para trazer quatro turnês a São Paulo e atrair paulistanos a seus shows em Buenos Aires, conquistas da jovem Orquesta Típica Fernández Fierro, há que ir além das provocações visuais. “Tocamos rápido, apertando forte os instrumentos e em alto volume, como o rock, mas sempre com as armas do tango”, diz o cantor Walter “Chino” Laborde, que não descarta o apelo performático. “De olhos fechados, soa como tango; de olhos abertos, parece outra coisa.”
Em sua nova visita ao Auditório Ibirapuera, sala na qual se exibe desde 2007, o conjunto de quatro bandoneons, três violinos, viola, violoncelo, contrabaixo, piano e voz apresenta o novo CD, intitulado apenas ‘Fernández Fierro’. O álbum segue a proposta de privilegiar um repertório contemporâneo, caso dos temas ‘Niebla Dura’ e ‘Avenida Desmayo’. Nos espetáculos, dá-se espaço a um ou outro clássico, como ‘Corrientes y Esmeralda’, interpretado com incrível dramaticidade por Chino, que, aliás, aparece no filme ‘Clube da Lua’, do vencedor do Oscar Juan José Campanella. Boêmios, os rapazes se esbaldaram em barzinhos da Vila Madalena no ano passado. Desta vez, querem encontrar um bom lugar para beber e ver as partidas da Copa do Mundo. “Numa TV bem grande”, pede o contrabaixista Yuri Venturín.