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Países do Oriente Médio, da Ásia e o Brasil consomem mais produtos de luxo

Estudos mostram que as vendas mundiais devem ter um aumento médio de 4% neste ano — impulsionadas principalmente pelos países emergentes

Por Marisa Folgato
Atualizado em 5 dez 2016, 18h47 - Publicado em 27 Maio 2010, 19h54
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  • Com faturamento global de 153 bilhões de euros (352 bilhões de reais), o ano passado foi considerado o pior de todos os tempos para o mercado mundial do luxo — em relação a 2008, houve queda de 8% nos ganhos. Mas as grifes enfrentaram a crise sem perder a pose. Apesar de ter diminuído a marcha na Europa e nos Estados Unidos, o consumo acelerou como uma Ferrari no Oriente Médio e na Ásia, principalmente na China. No continente asiático, as vendas registraram um crescimento de impressionantes 10%, de acordo com relatório divulgado em abril pela empresa de consultoria Bain & Co e pela Altagamma Fondazione, que representa as grifes italianas preferidas dos endinheirados. O mesmo estudo mostra que neste ano as vendas mundo afora devem ter um aumento médio de 4%. E a China? Sozinha, deve crescer 15%.

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    Segundo Elisabeth Ponsolle des Portes, diretora de desenvolvimento do Comité Colbert, que representa 75 marcas francesas de luxo, a crise afetou o setor tanto do ponto de vista econômico quanto psicológico. “Mesmo podendo pagar, muitos consumidores não se animavam a comprar”, explica. Para os membros do Colbert, Europa, Estados Unidos e Japão continuam mercados importantes, mas tem havido uma demanda por produtos franceses cada vez maior em novos territórios, como China, Rússia, Índia, Oriente Médio e… Brasil, claro.

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    De acordo com especialistas na atividade do luxo, a aposta é que no Brasil a elevação das vendas chegue a 20%. “Tivemos um ano excelente no país, com um crescimento de 21% no faturamento da butique própria, na Rua Haddock Lobo, e de 12% nas concessionárias entre abril de 2009 e março de 2010, em relação ao mesmo período do ano anterior”, afirma a diretora de marketing da Cartier no Brasil, Véronique Claverie. Ela não fala em cifras, mas o resultado animou a empresa a abrir mais uma loja em São Paulo ainda neste ano ou, no máximo, em 2011. A única certeza é de que será em um shopping. “Queremos um local com maior tráfego de pessoas e volume de vendas de produtos como canetas, chaveiros e acessórios.” São peças de preços, digamos, mais módicos, como a caneta Diabolo com banho de platina, de 840 reais, ou a carteira de couro colorido da coleção Les Must, de 825 reais. Por aqui, a taxa de conversão (pessoas que vão à loja e efetivamente fecham uma compra) fica em torno de 40%. “É um número incrível, porque no mercado de luxo um índice de 15% já pode ser considerado bom”, diz Véronique. Alguns desses clientes entraram na fila de espera para adquirir uma das peças mais cobiçadas da marca: o relógio feminino de ouro rosa da linha Ballon Bleu, de 65 880 reais.

    Público para peças como essas — e outras ainda mais caras — não falta. O Brasil tem dezoito pessoas entre os bilionários da lista anual da revista americana ‘Forbes’, divulgada em março. Juntas, somam uma fortuna de 90,3 bilhões de dólares (o equivalente a cinco vezes o PIB da Bolívia). O empresário Eike Batista responde, sozinho, por boa parte desse total — na oitava posição geral na lista de 1 011 nomes, ele acumula cerca de 27 bilhões de dólares. Segundo relatório do banco de investimentos americano Merrill Lynch, o Brasil tinha 131 000 milionários em 2008. A pedido de VEJA SÃO PAULO, a consultoria MB Associados calculou, com base nos dados do IBGE, quantas são as famílias da chamada classe AAA, aquelas que ganham a partir de cinquenta salários mínimos mensais (25 500 reais): 173 981, com renda média de 33 211 reais. Desse total, 50 930 estão no estado de São Paulo e 32 518 na Grande São Paulo. “A crise forte no fim de 2008 e em 2009 afetou todas as classes de renda, mas a mais alta sofreu apenas parcialmente e não deixou de consumir”, explica o economista-chefe da MB, Sérgio Vale.

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    Em 2008, o setor de luxo movimentou cerca de 5,99 bilhões de dólares no país, de acordo com pesquisa realizada pela MCF Consultoria e Conhecimento e pela GFK Brasil. “Só a cidade de São Paulo representa em torno de 70% desse mercado”, afirma Carlos Ferreirinha, presidente da MCF. “Pela primeira vez vi o Brasil numa posição confortável em meio a uma crise mundial”, diz o professor Silvio Passarelli, diretor do MBA em gestão do luxo da Faap. “Não foi uma marolinha, mas também ficou longe de um tsunami, como nos Estados Unidos e na Alemanha.”

    Exclusividade e excelência. Esses dois ingredientes ajudaram algumas marcas de luxo a se manterem mais preservadas na turbulência que afetou o setor no ano passado. Aquelas que massificaram produtos ficaram mais sujeitas aos efeitos da instabilidade econômica. “Essa é a lição da crise”, conta Alejandro Pinedo, diretor-geral da consultoria Interbrand. Em um levantamento do valor das marcas da consultoria, divulgado em 2009, a Hermès foi a única grife de luxo a registrar um aumento (de 1%) em relação ao ano anterior. “Assim como a Ferrari, ela tem a ver com a origem do desejo”, afirma Pinedo. “As duas produzem peças em escala muito limitada.” Caso oposto, explica, ocorreu com a Armani, que buscou alcançar um consumidor um pouco menos abonado, com iniciativas como a Armani Exchange. “Ela teve uma queda de 6%.”

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    O diretor mostra outros aspectos relevantes na valorização. “A origem da marca é importante. As mais antigas estão explorando isso, como a Bulgari, que celebrou seus 125 anos em 2009, e a relojoaria Vacheron Constantin, com a campanha 1755, ano da fundação da empresa.” Outra tendência é mimar os clientes fiéis. Valem convites para descobrir uma loja escondida em Tóquio ou para ir a bares secretos de Nova York onde acontecem festas para poucos e bons. Canais diferenciados para ver e comprar também ganham espaço. “A Dior tem um aplicativo do iPhone, o Lady Dior, que transmite desfiles pela internet apenas a quem tem acesso especial.” Afinal, para aqueles que estão dispostos a gastar pequenas fortunas em bolsas, relógios, joias e afins, gentileza nunca é demais.

     

    O BRASIL E O LUXO

    Dezoito brasileiros são bilionários

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    90,3 bilhões de dólares é a fortuna desse grupo

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    173 981 famílias têm renda mensal de mais de cinquenta salários mínimos (25 500 reais) no país – 30% delas vivem no estado de São Paulo

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    6,45 bilhões de dólares é a estimativa de faturamento anual do setor de luxo no país – 70% na cidade de São Paulo

     

    A VISÃO DO PAULISTANO

    Com exclusividade para VEJA SÃO PAULO, o instituto Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado (APPM) entrevistou, em abril, 100 pessoas com renda acima de 10 000 reais mensais. A ideia é conhecer alguns hábitos desses paulistanos e saber como eles enxergam as grifes mais bacanas do mundo.“Num primeiro momento, o luxo foi qualificado como escesso, superficialidade, vaidade, exibição…” conta Antonio Prado, diretor-geral da APPM. “Depois, acabou descrito como apuro na qualidade dos produtos e objetosm prazer, glamour, conforto e status.” A seguir, algumas das conclusões:

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    68% dos entrevistados estiveram no exterior nos últimos doze meses

    26% visitaram os Estados Unidos em sua última viagem

    77% afirmaram que viajaram a lazer

    58% dizem ser fundamental comer somente em bons restaurantes quando estão fora do país

    63% aproveitam para comprar em maior quantidade quando viajam para o exterior

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    19% acham a Chanel a marca de perfumes mais luxuosa do mundo (a grife também está à frente entre as de moda, com 16% da preferência)

    24% apontam a Mercedes-Benz como a fábrica de automóveis que mais admiram

    35% consideram a Rolex a marca de relógios top

    16% citaram as joalherias H. Stern e Tiffany como as mais luxuosas

    66% acreditam que Paris é o lugar mais chique do mundo

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    50% acham que a gastronomia paulistana é comparável à das melhores cidades

    15% sonham conhecer a Grécia

     

    AS DEZ MAIORES MARCAS DO MUNDO…

    1ª Coca Cola – 68,7 bilhões de dólares

    2ª IBM – 60,2 bilhões de dólares

    3ª Microsoft – 56,6 bilhões de dólares

    4ª GE – 47,7 bilhões de dólares

    5ª Nokia – 34,8 bilhões de dólares

    6ª Mcdonald’s – 32,2 bilhões de dólares

    7ª Google – 31,9 bilhões de dólares

    8ª Toyota – 31,3 bilhões de dólares

    9ª Intel – 30,6 bilhões de dólares

    10ª Disney – 28,4 bilhões de dólares

     

    …E A POSIÇÃO DAS PRINCIPAIS GRIFES DE LUXO NO RANKING

    16ª Louis Vuitton – 21,1 bilhões de dólares

    41ª Gucci – 8,1 bilhões de dólares

    59ª Chanel – 6,0 bilhões de dólares

    68ª Rolex – 4,6 bilhões de dólares

    70ª Hermès – 4,5 bilhões de dólares

    76ª Tiffany & Co. – 4,0 bilhões de dólares

    77ª Cartier – 3,9 bilhões de dólares

    87ª Prada – 3,5 bilhões de dólares

    89ª Giorgio Armani – 3,3 bilhões de dólares

    98ª Burberry – 3,0 bilhões de dólares

    Fonte: Consultoria Interbrand 

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