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O primeiro dia de aula presencial em uma escola particular

Professora relatou como foi voltar à sala após 10 meses de atividades on-line

Por Vinicius Tamamoto
1 fev 2021, 21h09
Sala de aula: vazias durante a pandemia da Covid-19
 (Rubén Rodriguez on Unsplash/Veja SP)
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Neste 1º de fevereiro, as escolas particulares de São Paulo puderam retomar às aulas presenciais com 35% da capacidade de alunos em casa sala. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieesp) diz que 95% das instituições privadas decidiram pela retomada nesta segunda. A Vejinha conversou com uma professora que relatou como foi o retorno na escola onde ela trabalha. A profissional aceitou falar sob anonimato.

Leia o depoimento abaixo:

“Eu dou aula de português para o Ensinos Fundamental II e Médio em uma escola particular no Butantã, na Zona Oeste.  Sinceramente, eu não esperava que as salas de aulas estivessem com sua capacidade máxima permitida, de 35%. Quase todas as turmas estavam cheias. Foi um sentimento dúbio, de alegria em voltar ao contato presencial e ver os alunos levarem um pouco de vida à escola, mas também de apreensão, porque não estamos em condições normais.

Eu estava há 10 meses realmente fechada em casa, saindo para o estritamente necessário e, de repente, veio esse contato com várias pessoas. Foi um impacto. Comecei a aula e tive que lidar com a questão do ensino híbrido, com uma parte dos alunos em casa e outra ali comigo. É difícil dividir a atenção e isso acaba afetando a dinâmica da aula. Antes havia uma interação maior, que acabou sendo prejudicada.

Iniciei o dia em uma sala com 7 alunos, mas como vou trocando de turma, surge o medo: será que os procedimentos de higiene e de segurança estão sendo seguidos? Pela urgência algo pode acabar ficando pelo caminho. A aula, que durava 45 minutos, agora tem 40 e nós precisamos entrar na sala virtual pontualmente no horário estabelecido. Como não levo meu computador pessoal, preciso passar álcool em gel no mouse, no teclado…

Durante o intervalo, os alunos ficaram dentro da sala de aula. O professor sai e entra um assistente para acompanhar a refeição. A circulação nas áreas da escola não é permitida, os estudantes podem sair apenas para ir ao banheiro e um de cada vez. Como, obviamente, é preciso tirar a máscara para comer, fiquei preocupada com as turmas mais numerosas, que têm 12, 13 alunos.

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Há um revezamento semanal, uma parte da turma vai durante a semana inteira até a escola e a outra comparece na semana seguinte. Por causa disso, acho que os protocolos tendem a ser seguidos pelo reforço que há quando uma nova leva chega. Nossos alunos também são bem responsáveis e, de modo geral, costumam seguir as orientações. Acredito que seja mais complicado com as crianças menores.

A direção da escola estabeleceu saídas em diferentes horários para cada ciclo. O Fundamental I vai embora ao meio dia, o Fundamental II às 12h10 e o Ensino Médio às 13h. Isso ajudou na organização, mas como choveu, houve uma aglomeração embaixo de uma cobertura.

Observei também problemas de infraestrutura. Eu vi na televisão que algumas escolas têm as carteiras protegidas com uma barreira de acrílico. Nós não temos isso. Há computadores em todas as salas de aula, mas nem todas têm projetor, então fica difícil compartilhar vídeos, por exemplo. A saída é cada aluno usar o próprio celular, só que a rede wifi do colégio acaba ficando sobrecarregada e a internet cai. Por isso, algumas vezes eu percebi que a qualidade da minha aula em casa foi melhor.

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Lá eu usei uma mascara N95, com a qual fico o tempo inteiro, não tiro nem para tomar água, porque fico apreensiva. Eu terminei o dia depois de 8 aulas, 6 de manha e 2 à tarde, muito cansada. A garganta estava dolorida, com um cansaço maior do que o normal. Não via a hora de chegar em casa e tirar a máscara. Ela abafa a voz, não dá pra entender o que a gente diz. Os alunos também falam e a gente não entende.  

Ouço de muitos colegas que a gente passou 10 meses se cuidando muito e de repente a gente é exposto a um risco de contaminação por conta do momento que a gente tá vivendo, com a pandemia ainda em aceleração. É uma incoerência porque está equivalente a meses em que não se cogitava voltar para o colégio, então isso é muito louco. A sensação é de apreensão mesmo, uma incerteza com os cuidados que o outro está tomando. Temos que ficar ligados o tempo inteiro nessas questões.” 

 

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