O Museu da Língua Portuguesa é o preferido dos paulistanos
Quase 900 000 visitantes passaram pelo Museu da Língua Portuguesa desde sua inauguração, em março de 2006
Quase 900 000 visitantes passaram pelo Museu da Língua Portuguesa desde sua inauguração, em março de 2006. É um número altíssimo para um museu brasileiro, ainda mais para um tão específico como esse. O Museu de Arte de São Paulo (Masp), por exemplo, foi freqüentado por 468 910 pessoas durante todo o ano de 2006. Alguns motivos explicam o sucesso retumbante do Museu da Língua Portuguesa: sua instalação numa das alas da secular construção da Estação da Luz, que, por si só, constitui uma atração; a reforma projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que alia com harmonia elementos tradicionais a outros contemporâneos num só espaço; as instalações multimídia, que despertam a atenção especialmente dos jovens pouco habituados a ir a um museu; e, por último, o preço dos ingressos (R$ 4,00).
A primeira exposição, Grande Sertão: Veredas, em homenagem aos cinqüenta anos da obra de Guimarães Rosa, com curadoria e cenografia de Bia Lessa, conquistou 45 000 visitantes por mês. Agora, em sua última semana em cartaz, Clarice Lispector – A Hora da Estrela brilha soberana entre as mostras mais visitadas da capital neste ano. De 24 de abril, data de abertura, até 27 de setembro, a administração do Museu da Língua Portuguesa contabilizava a passagem de 257 965 pessoas pela catraca da entrada em direção ao universo das palavras e dos pensamentos da escritora ucraniana que se radicou no Brasil. Agora, a média mensal de visitas do museu, 49 850, ultrapassa a da vizinha Pinacoteca do Estado. Junto com a Estação Pinacoteca, o prédio em frente chega à marca de 41 000 espectadores a cada trinta dias.
Se há um ano e meio muita gente questionava o gasto de 37 milhões de reais com o projeto (6 milhões vindos dos cofres do estado e o restante de patrocinadores, por meio da Lei Rouanet), hoje até os antigos críticos olham com admiração e espanto para o êxito de um templo dedicado ao idioma português. O fato é que o lugar pegou e já integra o calendário oficial de cultura da cidade. Não só mostrou ser possível exibir um conteúdo vivo e virtual, de idéias de autores célebres à evolução do português ao longo dos tempos, como provou que se pode fazer isso de um jeito interessante. Quase sempre com fila na porta.
A exposição em torno de Clarice Lispector (1920-1977) lembra os trinta anos do romance A Hora da Estrela, publicado meses antes da morte da autora, vítima de um câncer de ovário. Criada entre Maceió e Recife, ela se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1935 e lá experimentou um período de grande efervescência cultural. A curadoria de Ferreira Gullar e Júlia Peregrino usa informações do cotidiano de Clarice. “Espalhamos trechos de seus livros pelas salas com o intuito de seduzir novos leitores. Acreditamos que muitas de suas frases fazem com que os visitantes tenham vontade de conhecer as histórias completas”, explica Júlia Peregrino.
Corajosa a ponto de declarar seu sentimento dúbio de encanto e desajuste com relação ao mundo e decidida a falar sobre o que lhe parecia indizível, Clarice emociona mesmo uma platéia diversa. Não raro se vê alguém tirar da bolsa papel e caneta para copiar algo que lê na parede, como esta frase do livro A Paixão Segundo G.H.: “Não entendo, e tenho medo de entender. O material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas”. Ponto alto da exposição, as 2 000 gavetas com 65 manuscritos originais, documentos e cartas trazem dados curiosos sobre seu cenário criativo.
Entre as fotos e carteiras de identidade dispostas na instalação, depara-se com uma lista feita pela escritora com tarefas prosaicas para ser cumpridas ao longo do dia. Ao lado de itens como ginástica e tinturarias, colocou uma meta profunda: “Viver melhor as 24 horas do dia”. Clarice era assim. Densa e prática ao mesmo tempo. Linda, como comentava na semana passada uma senhora, diante de uma de suas imagens. E sortuda. Ocupar um andar do Museu da Língua Portuguesa significa a chance de sensibilizar a geração do videogame e do computador. Quem acreditava que leitura e tecnologia não combinavam está hoje revendo seus conceitos.
Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, s/nº (Estação da Luz), tel: 3326-0775, Metrô Luz. Terça a domingo, 10h às 18h. R$ 4,00. Grátis aos sábados. Até domingo (14). Abre na sexta (12).
Visitantes do museu
897 300
em um ano e meio, desde a inauguração
49 850
em média, por mês
257 965
para a exposição de Clarice Lispector, até 27 de setembro, sendo deste número 80 420 alunos de 1 776 escolas públicas e particulares
45 000
por mês para a exposição de Guimarães Rosa, que ficou onze meses em cartaz