Advogado acusa racismo em pastelaria da Avenida Paulista; loja nega
Publicação do rapaz no Twitter tem mais de 100 000 curtidas
O advogado Flavio Roberto Moura de Campos gravou um vídeo acusando uma pastelaria localizada na Avenida Paulista de não ter vendido um yakissoba para ele pelo fato de ser negro. O episódio ocorreu em uma franquia do Pastel da Maria, no número 2001 da via, e o registro do caso circula pela internet nesta quarta-feira (23), com mais de 100 000 curtidas no Twitter.
Campos relata ter parado na lanchonete com seus irmãos (duas meninas que aparecem na gravação). No local, conta ter pedido um yakissoba. A franquia oferece em seu cardápio não só uma variedade de sabores de pastel, como também salgados em geral, e também o prato típico da culinária oriental, vendido a 18 reais.
Segundo a versão, o atendente da loja afirmou que não havia mais ingredientes para fazer yakissoba. Pouco tempo depois, Campos conta que um casal de brancos chegou e fez o mesmo pedido, sendo prontamente atendido.
Revoltado com a situação, ele compartilhou a história nas redes sociais. “Eu e meus irmãos chegamos e pedimos yakissoba. Disseram que não tinha. Chegou esse casal aqui de loiros, de brancos, e começaram a preparar o yakissoba”, reclamou o jurista, que explica ter feito um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).
Outro lado
Em entrevista à Vejinha, o gerente da pastelaria da Paulista, Fabio Hokama, explicou que existem dois tamanhos de yakissoba servidos no Pastel da Maria, um grande e o pequeno, e que os ingredientes vêm em saquinhos porcionados. O que o advogado tinha solicitado era o yakissoba versão grande, de acordo com Hokama. “Esse era o que tinha acabado. O pequeno ainda estava disponível”, afirma.
O gerente da lanchonete conta que Campos pediu, então, pasteis. Quando foi pagar, Hokama relata que o cartão do advogado não estava funcionando. “O rapaz saiu para sacar dinheiro. Quando voltou, viu o casal comendo o yakissoba, mas eles tinham pedido a porção pequena”, explica. “E aí ele não quis ouvir ninguém. Já foi sacando o celular, gravando o vídeo e dizendo que tinha sido vítima de racismo. Mas nós temas imagens do circuito de câmeras para nos resguardar e mostrar como tudo aconteceu realmente.”
À Vejinha, Campos rebate que sua irmã pediu o yakissoba “mais barato”, ao que a equipe do restaurante respondeu que não estava disponível. “Fiquei indignado, foi uma revolta muito grande”, disse.
No vídeo, Campos mostra sua família comendo pastel e afirma que todos tinham acreditado na versão do funcionário da lanchonete sobre a falta do yakissoba. “Está registrado. Está aqui todo mundo comendo pastel, porque demos a ele a presunção de boa fé. Achávamos que ele estava sendo sincero e ele não estava”, diz. “É só para vocês saberem como funciona. Algumas questões são veladas aqui nesse país. Mas, vira e mexe, elas nos afetam. E dói.”
Rede
A lanchonete gerida por Hokama não pertence à dona da franquia, a japonesa Kuniko Yonaha, conhecida aqui no Brasil pelo nome de Maria. “A dona Maria era parceira de três lojas da Paulista, mas depois saiu da sociedade. Hoje, elas são tocadas por outras pessoas. A dona Maria só permitiu o uso do nome”, afirma Marcos Matsunoto, gerente da marca.
Matsunoto atesta também que, mesmo assim, eles advertiram o dono da loja onde ocorreu o episódio com Campos. “A dona Maria repudia qualquer tipo de discriminação. Ela tem vários funcionários, de várias etnias, que trabalham com ela há mais de trinta anos”, explica.