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Navio centenário é encontrado na orla de Santos

Arqueólogos aguardam autorização da Marinha para iniciar as escavações da embarcação naufragada

Por Barbara Öberg Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 nov 2017, 06h00 - Publicado em 10 nov 2017, 06h00

No último dia 21 de agosto, a cidade de Santos enfrentou uma forte ressaca. Ventos, ondas fortes e chuva alagaram ruas e causaram estragos na orla. Dessa vez, porém, nem todas as consequências do fenômeno foram desagradáveis. No dia seguinte, a erosão na faixa de areia revelou parte da estrutura de um navio que teria naufragado há mais de um século nas redondezas da Praia do Embaré, próxima ao Canal 5. Ou seja, um tesouro arqueológico.

A descoberta atraiu centenas de curiosos. Duas vezes por dia, no pico da maré baixa, por volta de 10 e de 19 horas, é possível ver pedaços de madeira organizados em fileiras. “É emocionante pensar que ele estava aqui o tempo todo”, diz o empresário Arthur de Castro, que faz exercícios diários na praia.

Detalhe do navio naufragado que apareceu na orla de Santos (Divulgação/Veja SP)

Passados quase três meses desde a descoberta, no entanto, não há o menor indício de qual será o destino da embarcação. Há diversos órgãos envolvidos no caso. Por ter sido encontrada na zona de maré, a carcaça é responsabilidade da Marinha. Mas quem assumiu a missão de evitar danos e proteger os banhistas foi a prefeitura local.

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“Flagramos pessoas tentando retirar pedaços e também vandalizar o navio”, diz a subprefeita da orla, Fabiana Garcia. “Para impedir isso, isolamos a área e disponibilizamos iluminação noturna e uma câmera de monitoramento”, completa.

Ao Ministério Público coube a tarefa de cobrar dos órgãos responsáveis estudos sobre a causa da erosão e garantir que o patrimônio arqueológico seja preservado. “Vamos checar se há interesse histórico”, diz o promotor Daury de Paula Júnior.

Por fim, a ONG Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas (Cerpa), convidada pela Secretaria do Meio Ambiente de Santos, tem se debruçado em descobrir mais detalhes sobre o barco. A equipe de nove pessoas, composta de biólogos, historiadores e arquitetos, realizou testes similares a exames de raios X no material e descobriu que a estrutura pertence a um navio com 48 metros de comprimento. Seu nome, por enquanto, é um mistério.

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Manoel Gonzalez: pesquisas em jornais antigos (Davi Ribeiro/Veja SP)

Autor do livro Naufrágios do Brasil, o jornalista José Carlos Silvares chegou a defender a tese de que seria o Vapor Glória, retratado em um quadro pelo pintor Benedito Calixto após a embarcação ter encalhado por ali em 1909. Essa hipótese, no entanto, está descartada.

Depois de pesquisas feitas em periódicos antigos, foi possível identificar uma referência que combina com as informações coletadas até agora.

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A suspeita mais forte é que os fragmentos sejam do Kestrel, um veleiro de bandeira inglesa, com três mastros. Seu naufrágio ocorreu após uma tempestade no dia 11 de fevereiro de 1895, na Praia do Boqueirão, hoje conhecida como Praia do Embaré, sendo noticiado à época pelos jornais Comércio de São Paulo, Santos Comercial e Correio Paulistano.

“Tenho 99% de certeza, mas só consigo confirmar se a estrutura for retirada dali”, afirma o arqueólogo Manoel Gonzalez, que está à frente das investigações. “É uma guerra contra o tempo, porque as partes expostas ao sol, oxigênio e água estão se deteriorando rapidamente”, explica.

Pintura do veleiro Kestrel (Divulgação/Veja SP)

A intenção dos pesquisadores é escavar a área e remover o navio inteiro. “Após restaurá-lo, seria bacana expor essa carcaça em um museu e contar sua trajetória”, afirma Gonzalez. A Marinha definiu um prazo de quatro meses para decidir qual será o destino da embarcação. Além dessa burocracia, estima-se que a remoção dure mais dois meses e custe em torno de 2 milhões de reais. Nenhum dos órgãos dispõe desse valor no momento. O grupo de pesquisa, liderado por Gonzalez, pretende procurar empresas privadas para bancar a conta.

Se nada disso for concretizado, não será a primeira vez que um caso como esse terá ocorrido na orla de Santos. A poucos metros daquela área, outro tesouro descoberto na cidade permanece com restos à mostra em dias de maré baixa. Trata-se do navio Recreio, que encalhou na faixa de areia da Ponta da Praia em 26 de fevereiro de 1971, após uma noite de forte temporal e mar revolto.

Na época, a embarcação estava ancorada na Praia do Góes, mas se soltou e foi levada até o Canal 6. A Marinha autorizou sua retirada, mas os recursos para isso nunca foram reunidos.

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O principal suspeito

Nome: Kestrel
Data de construção: 1871
País: Inglaterra
Tipo de embarcação: veleiro de três mastros
Tamanho: 48 metros de comprimento, 12 metros de largura e 5 metros de altura
Material: madeira
Capacidade: quinze tripulantes
Rota: Inglaterra, Estados Unidos e Brasil

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