Mudanças em registro causam subnotificação de mortes por Covid-19 em SP
Ministério da Saúde adicionou novos campos que dificultam o preenchimento de ficha para catalogar pacientes no sistema oficial sem aviso prévio
Nesta terça-feira (23), o Ministério da Saúde fez alterações na ficha de cadastro dos pacientes no Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), plataforma utilizada para registrar pacientes com Covid-19.
Com a mudança, passaram a ser exigidas informações como CPF, número do cartão nacional do SUS (CNS) e a nacionalidade de pacientes, o que dificulta a contabilização de casos e porte por Covid – principalmente pela falta de aviso antes de mudar a regra. Também há um campo sobre vacinação contra a Covid-19. Nenhum desses campos existiam na versão anterior da ficha, em utilização desde julho de 2020.
O estado de São Paulo registrou, nesta terça, recorde de mortes diárias por Covid-19: foram 1.021 óbitos. Porém, com a mudança no cadastro, o número de mortes por Covid nas últimas 24 horas no estado despencou para 281.
A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo enviou ofício nesta quarta (24) ao Ministério questionando a decisão de mudança nos critérios de registro de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave no sistema, o que incluiria os doentes com Covid-19.
A secretaria afirma que não foi “comunicada previamente a respeito da atualização da ficha” e que não deu tempo de os municípios se prepararem. Como consequência, a secretaria disse que recebeu relatos de cidades do estado que não conseguiram registrar todos os óbitos no sistema nacional, além de enfrentarem instabilidade do próprio Sivep-Gripe.
Um técnico do próprio Ministério confirmou as informações à coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Ele disse que haveria um problema de instabilidade já reportado ao Datasus, que cuida do sistema de informações da pasta.
“O erro apresentado nestas funções impacta diretamente no monitoramento e encerramento dos casos e óbitos confirmados para Covid-19, divulgados diariamente por esta SES/SP”, diz o texto enviado pela secretaria ao Ministério da Saúde.
“Aguardamos as providências para o restabelecimento da normalidade, com a brevidade que a situação epidemiológica requer”, segue o documento. Ele é assinado por Tatiana Lang D’Agostini e Regiane Cardoso de Paula.
Já o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) afirmou, em nota enviada à TV Globo, que os novos campos já estavam sendo discutidos anteriormente, mas houve “falta de comunicação adequada” no momento em que a mudança foi oficialmente instituída. “Por este motivo solicitamos a retirada desses campos como obrigatórios por enquanto”, afirmou o conselho.
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