Mostra recupera história do circo em São Paulo
Grandes figuras do circo paulistano são lembradas na Galeria Olido
É como dar uma espiada nos bastidores do espetáculo. Uma bem montada exposição em cartaz na Galeria Olido encanta os olhos mais nostálgicos ao trazer, por meio de 124 fotos, um pouco da trajetória da arte circense em São Paulo. “Exibir as imagens nesse endereço é emblemático”, diz a curadora Verônica Tamaoki, pesquisadora especialista em história do circo. Ela se refere ao largo em frente à galeria – que empresta nome à mostra Largo do Paissandu, Onde o Circo se Encontra. A história da região está intimamente ligada ao desenvolvimento do circo na cidade. “Desde o século XIX, com as temporadas ali realizadas, esse lugar se tornou um terreno sagrado do circo”, conta. Durante décadas, bares e cafés localizados nas proximidades alternaram-se como ponto de encontro de artistas, sempre às segundas-feiras (dia de sua folga semanal). O costume, em menor intensidade, ainda sobrevive.
As trupes circenses incluíram São Paulo em seu roteiro por volta de 1870. Vinham, sobretudo, atraídas pelo dinheiro do café. A existência na capital de muitos imigrantes, que já haviam conferido espetáculos do gênero na Europa, contribuiu para que palhaços, acrobatas e anões fossem vistos com interesse pelo público. Algumas apresentações ocorriam em teatros e cabarés. Outras, em tendas armadas no Largo de São Bento, no Largo dos Curros (atual Praça da República) e no próprio Largo do Paiçandu. Foi ali que o faquir Silki realizou dois de seus quatro longos jejuns – em 1957, quando teria ficado 107 dias sem comer; e em 1980, a última e maior abstinência, de 115 dias.
Mas a grande figura do circo paulistano foi Abelardo Pinto, o Piolin. Nascido em Ribeirão Preto, em 1897, ele se consagrou no início dos anos 20, na companhia do grupo uruguaio Irmãos Queirolo. Mais tarde, montou a própria trupe. Em 1972, para comemorar o cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, o então diretor do Masp, Pietro Maria Bardi, convidou o Circo Piolin para se apresentar sob o vão livre do museu. O palhaço que divertiu gerações de crianças e adultos morreu em 1973, após se engasgar com uma bala. Na data de seu aniversário, 27 de março, passou a ser comemorado o Dia do Circo.
A exposição em cartaz na Galeria Olido pode ser a primeira de uma série de iniciativas para preservar a arte circense. Há planos para que um prédio na esquina do Largo do Paiçandu com a Avenida Rio Branco, tombado em janeiro, seja transformado em uma escola municipal de arte circense. “Até o fim do ano começaremos as obras”, promete o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. No mesmo edifício deverá funcionar um centro de memória. “Já estamos reunindo o acervo, comprando material e recebendo doações”, diz Calil. Outra novidade é a Praça do Circo, perto do Viaduto Antártica, na Barra Funda. Com previsão de inauguração até dezembro, o local se tornará um espaço pronto para receber tendas circenses. Quem foi mesmo que disse que o circo morreu?
Largo do Paissandu, Onde o Circo se Encontra. Galeria Olido. Avenida São João, 473, centro, 3331-8399, Metrô República. Segunda, 12h às 19h; terça a sábado, 12h às 21h30; domingo, 12h às 19h30. Até dia 27.