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Mico culinário na Virada Cultural

Falhas de organização como falta de luz, água e de estrutura para comportar o público marcaram a última edição do evento

Por Pedro Henrique Araújo
Atualizado em 5 dez 2016, 17h10 - Publicado em 12 Maio 2012, 00h50
Erick Jacquin na Virada Cultural 2012 - Cidade 2269
Erick Jacquin na Virada Cultural 2012 - Cidade 2269 (Arnaldo Lorençato/)
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A alta gastronomia representa o refinamento máximo da cozinha. Seu resultado tem sempre preços muito altos, que se justificam pelo preparo artesanal, muitos profissionais em ação na cozinha e uso de matérias-primas sofisticadas. Reproduzir essa experiência em larga escala é quase impossível. Na Virada Cultural realizada no último fim de semana, ao convidarem chefs consagrados como Alex Atala e Erick Jacquin para exibir sua arte adaptada para o formato comida de rua em barraquinhas espalhadas pelo Elevado Costa e Silva, os organizadores criaram uma expectativa de que seria possível degustar suas iguarias a preços populares, entre 5 e 15 reais. A iniciativa provocou uma enorme confusão. Milhares de pessoas se dirigiram ao Minhocão e muitas delas saíram de lá frustradas, sem conseguir comer nada. “Parecia a entrada de um mega-show”, lembra o consultor de tecnologia Daniel Neves, de 32 anos, que suportou o empurra-empurra durante seis horas até desistir.

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A maioria das pessoas chegou ao local para conferir a performance de Alex Atala. Seis dias antes, um de seus restaurantes, o D.O.M., havia sido eleito o quarto melhor do mundo pela revista inglesa Restaurant, subindo três posições em relação ao ranking do ano anterior. Isso só aumentou a expectativa de muita gente pela oportunidade de ver de perto um popstar das panelas e, de quebra, ainda saborear uma de suas especialidades por uma módica quantia. Ele prometia distribuir 500 porções da galinhada do Dalva e Dito, outro de seus estabelecimentos na capital. Cerca de 5.000 pessoas acabaram comparecendo. A multidão, bem acima do planejado, e uma estrutura pior que a de uma quermesse de interior contribuíram para o caldo entornar.

Alguns insatisfeitos com a espera ensaiaram vaias. Ao final, depois do anúncio de que a “boia” servida em embalagens de papelão havia acabado, os presentes reconheceram o esforço dos cozinheiros. Os poucos que conseguiram se aproximar da barraca ganharam uma refeição fria, já que a energia elétrica foi instalada com duas horas de atraso. Por decisão de Atala, anunciada na própria hora, ninguém pagou nada. O próprio chef não foi ao local. Ao ver a confusão formada nas redondezas do Minhocão, resolveu dar meia-volta com o seu carro. “Ninguém esperava tanta gente”, diz Daniela Narciso, da KQi Produções, empresa escolhida pela prefeitura para cuidar do evento.

O tremendo erro de cálculo do público não foi a única falha de organização, que prejudicou o investimento de Atala e mais de vinte outros chefs convidados a se apresentar entre a madrugada de domingo e ao longo do mesmo dia. Devido ao planejamento precário, os participantes tiveram de improvisar, lavando as mãos e utensílios com galões de água mineral e baldes. Dono do melhor restaurante francês segundo a edição especial “Comer & Beber” de VEJA SÃO PAULO, Erick Jacquin, assim como sua equipe, esperou por mais de duas horas para abrir os trabalhos, tudo porque o caixa demorou a chegar. Por volta das 4 horas da madrugada, finalmente, eles começaram a servir sopa de cebola (nesse caso, pelo menos, o prato estava quente). “Nossa intenção era pôr a gastronomia num evento cultural e isso deu certo”, avalia Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura. “Mas talvez o Minhocão não seja o melhor lugar para uma coisa dessas.”

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O primeiro acontecimento do gênero realizado na capital ocorreu em abril, organizado por Checho Gonzáles, que dirigia as panelas do extinto Ají, e pelo cozinheiro do Sal Gastronomia, Henrique Fogaça. Na festa realizada em Higienópolis e batizada de O Mercado, treze chefs estiveram presentes, atraindo um público de aproximadamente 2.500 comilões. A procura foi tanta que cerca de 1.300 pessoas ficaram do lado de fora. Agora, a dupla de idealizadores planeja uma nova edição em breve. “Queremos encontrar um espaço que comporte mais gente”, afirma Gonzáles. Um dos locais que estão sendo considerados por eles é o Museu da Imagem e do Som (MIS). Animada com a popularidade alcançada pelo tema, a prefeitura também fala em criar ainda neste ano uma “Virada Gastronômica”. Diante da proliferação da moda, é fundamental que o episódio ocorrido no Minhocão sirva de exemplo para que essa receita não resulte em outro grande mico culinário.

TROPEÇOS NA MADRUGADA

Os principais erros cometidos no evento da prefeitura

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➜ LUZ

A energia elétrica foi instalada com mais de duas horas de atraso e o primeiro prato da noite, a galinhada do Dalva e Dito, do chef Alex Atala, acabou sendo servida fria.

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➜ ÁGUA

Sem esquema de abastecimento, os chefs foram obrigados a improvisar com galões de água mineral e baldes para lavar as mãos e utensílios.

➜ ENTRADAS

A organização divulgou que a entrada ocorreria apenas pela Rua Helvétia. Devido à falta de segurança privada e da Guarda Civil Metropolitana, que só apareceu depois das 2 horas da madrugada, as pessoas chegaram ao local pelos seis acessos do elevado, o que provocou uma grande confusão.

➜ PÚBLICO

Cerca de 200.000 pessoas passaram pelo Minhocão durante toda a programação, mais que o dobro do total esperado pelos responsáveis.

 

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