Empresário comanda Kinoshita, Clos de Tapas e Mercearia do Francês
Conheça Marcelo Fernandes, restaurateur com cinco endereços gastronômicos na cidade
Desde o momento em que tomou gosto pelo universo dos restaurantes, o empresário Marcelo Fernandes não parou mais. Seu mais novo empreendimento atende pelo nome de Clos de Tapas e é o quinto endereço do pequeno grupo gastronômico montado por ele. A casa espanhola de cozinha moderna, inaugurada em 8 de janeiro, foi precedida pela Mercearia do Francês, rede com três unidades distribuídas por Higienópolis, Moema e Perdizes, e pelo premiado Kinoshita, na Vila Nova Conceição. Seus estabelecimentos empregam 130 funcionários e, segundo ele, faturam 800.000 reais por mês.
Cheio de planos, o empresário está desenvolvendo o projeto de um izakaya, pub japonês para beber e petiscar em versão mais sofisticada, cuja inauguração deve ocorrer ainda neste ano. Também promete um italiano conectado ao Novo Mundo. Mas, afinal, o que seria isso? “Uma casa de raiz italiana com ingredientes brasileiros em suas receitas”, explica Fernandes.
Antes de vestir o personagem do restaurateur, esse paulistano de 44 anos pensava em seguir os passos do pai, dono de um escritório de contabilidade, no qual se viu obrigado a trabalhar ao ser reprovado na antiga 6ª série do 1º grau. Do emprego paterno, migrou para uma agência bancária. “Mas minha alma era de empreendedor”, diz.
A primeira guinada na carreira aconteceu ao ser convidado por um cliente para se associar a uma empresa de produtos de higiene e limpeza, da qual continua sendo um dos donos até hoje. No papel de patrão, juntou um pé-de-meia e decidiu abrir um restaurante, embora não tivesse nenhuma experiência no ramo. Procurou então um colega da época de colégio, no Ipiranga, com quem perdera o contato. O amigo, conhecido na escola pelo primeiro nome, Milad, tornara-se o renomado chef Alex Atala. Fernandes pretendia abrir uma filial do minúsculo e charmoso Namesa, que pertencia ao cozinheiro. “O D.O.M. estava em obras e não tínhamos dinheiro para terminá-lo”, conta Atala. “Convidei o Marcelo para entrar na sociedade e ele não hesitou em fazer um cheque de 125.000 reais.”
Nos primeiros tempos, Atala recorda-se de Fernandes assustar-se com o preço das matérias-primas. E de tremer diante de desperdícios. Foi ele quem sugeriu ao chef criar um prato usando as aparas de foie gras, que deu origem a uma salada ao vinho do Porto. “O Marcelo é um ótimo administrador. Se não fosse o empenho dele no início, teríamos falido”, afirma Atala. Um terceiro sócio do restaurante decidiu sair e abriu vaga para a entrada de Lucas Souza. Gourmet de trânsito internacional, Souza descortinou o circuito da culinária de vanguarda para a dupla, em especial os experimentos de Ferran Adrià. “Devemos nosso aprimoramento ao Lucas”, reconhece Fernandes.
Formado em administração de empresas, ele não tomava conta apenas do livro-caixa. Encarregava-se também do atendimento. Foi assim que conheceu Marco Ceresa, milionário italiano e ex-fornecedor de peças para a montadora Fiat. Em 2005, um ano antes de o D.O.M. entrar para o ranking dos cinquenta melhores restaurantes do mundo da revista inglesa “Restaurant”, Fernandes e Souza venderam a Ceresa sua parte na sociedade. “Precisava me capitalizar por causa de um incêndio na minha empresa de produtos de limpeza”, diz.
Logo depois, abriu a Mercearia do Francês associado a Steven Kerlo. Embora não vá além do razoável no menu e no atendimento, o restaurante deu tão certo que chegou ao terceiro endereço em outubro. Em 2007, soube que o antigo e simplíssimo Kinoshita, na Liberdade, tinha os dias contados. De imediato, propôs sociedade a Tsuyoshi Murakami, chef da casa. Assim, o Kinoshita surgiu em versão refinada na Vila Nova Conceição, bairro onde Fernandes mora em um belo apartamento com vista para o Parque do Ibirapuera.
O caríssimo endereço japonês, erguido ao custo de 1,5 milhão de reais nos cálculos de Fernandes, celebra três anos na sexta (18). Esse tempo foi suficiente para conquistar, em 2008, o título de chef do ano para Murakami na edição especial “Comer & Beber” de VEJA SÃO PAULO e, no ano passado, o de melhor em sua categoria.
Para montar o Clos de Tapas, que está bombando, começou um namoro comercial com a paulistana Ligia d’Andretta Karazawa e o marido dela, o espanhol Raúl Jiménez García. Numa visita ao restaurante Mugaritz, em San Sebastián, onde o casal trabalhava, Fernandes disse que gostaria de contratar os dois, caso eles decidissem viver no Brasil. No ano passado, aceitaram o convite. O restaurante foi instalado na mesma Vila Nova Conceição, quase vizinho ao Kinoshita, numa casa paroquial remodelada ao custo de 1,6 milhão de reais. “Agora, só consigo pensar nos próximos projetos.”