“Mão e Pescoço” recorre às metáforas para abordar a solidão
Protagonizada por Gilda Nomacce, Majeca Angelucci e Germano Melo, montagem apropria-se, sem causar estranheza, de recursos usados em filmes
Vez ou outra, as linguagens de cinema e teatro se misturam. Se o menos é mais na tela, conforme defendem alguns realizadores, o palco em certas ocasiões busca os excessos para valorizar detalhes. O cineasta e roteirista paraense Elzemann Neves (premiado no Festival de Paulínia pelo roteiro do curta-metragem “Depois do Almoço”) estreia na direção teatral com a tragicomédia Mão e Pescoço, texto de sua autoria em cartaz na Sala Experimental do Teatro Augusta. Protagonizada por Gilda Nomacce, Majeca Angelucci e Germano Melo, a montagem apropria-se, sem causar estranheza, de recursos usados nos filmes.
A peça, de tom sóbrio e bela plasticidade cênica, recorre a uma série de metáforas para abordar a solidão e a carência. Leonarda (interpretada por Gilda, presença sempre marcante) é uma mulher atormentada, sobretudo, pelo abandono recorrente dos homens. Na tentativa de amenizar os problemas, ela procura uma amiga cartomante (papel de Majeca), pessimista ao extremo. Leonarda encontra na casa da outra mulher um homem (Germano) contraditório e de imaginação um tanto fértil. Em um perturbador embate psicológico, o trio passa a se confrontar em diálogos que estimulam o espectador a decifrar o subtexto. Os três atores dominam a encenação com expressividade peculiar e, muitas vezes, dispensam a palavra para transmitir o conflito dos personagens. As cores soturnas e fortes do cenário e dos figurinos formam um painel de imagens, em uma interessante fusão com o cinema.
AVALIAÇÃO ✪✪✪