Repleta de lagos e ilhas, a gelada Finlândia tem três quartos de sua área tomados por florestas. Sua população atinge pouco mais de 5,2 milhões de habitantes (metade da cidade de São Paulo) e se comunica num dos idiomas mais complexos do mundo, cheio de vogais e tremas. No inverno, as temperaturas batem facilmente os 20 graus abaixo de zero. O cineasta Mira Kaurismäki desistiu de viver lá e, desde 1992, mora no Brasil. Seu irmão, o também diretor Aki Kaurismäki, continua em Helsinque tocando filmes tão estranhos quanto fascinantes. ‘Luzes na Escuridão’, o mais recente deles, tem pré-estreia neste sábado (1º) e será lançado na sexta (7).
O cinema de Aki Kaurismäki distingue-se, sobretudo, pelo humor seco e pelas situações por vezes surreais. Há quase sempre uma iluminação de penumbra, em belo trabalho do diretor de fotografia Timo Salminen. Aki Kaurismäki finaliza aqui a trilogia composta de ‘Drifting Clouds’ (1996), inédito no Brasil, e ‘O Homem sem Passado’ (2001), premiado no Festival de Cannes. Na trama da vez, Koistinen (Janne Hyytiäinen), pouco notado pelos colegas de trabalho, é segurança noturno em uma joalheria. Seu expediente quase sempre termina em diálogos de duas ou três frases com uma vendedora de cachorro-quente (papel de Maria Heiskanen). Esse ser solitário, contudo, encontra na misteriosa Mirja (Maria Järvenhelmi), pessoa igualmente de poucas palavras, a companhia ideal. Mas mal sabe Koistinen que a loira gelada tem segundas intenções no relacionamento. Por abdicar de qualquer reação, esse homem sem futuro provoca incômodo na plateia.
No silêncio de suas atitudes, porém, se esconde a radiografia de uma Helsinque invadida por mafiosos russos e petrificada por um frio de gelar a espinha.
AVALIAÇÃO ✪✪✪