Luiz Felipe Scolari, o rei de copas
Técnico leva o Palmeiras ao título da Copa do Brasil e põe a equipe entre as 32 que disputarão a Libertadores de 2013
A separação durou dez anos. Protagonistas de um período glorioso no fim da década de 90 — com a conquista da Copa do Brasil e da Mercosul de 1998, da Libertadores de 1999 e do Rio-São Paulo de 2000 —, Luiz Felipe Scolari e Palmeiras amargaram um longo período de afastamento e raras voltas olímpicas. Depois de chegar ao ponto máximo da carreira ao levantar a Copa do Mundo de 2002 com a seleção brasileira, o treinador perdeu uma Eurocopa em casa com Portugal, fracassou no Chelsea (Inglaterra) e ganhou apenas o irrisório campeonato do Uzbequistão. Já o Verdão, desde a Copa dos Campeões de 2000 — em que o comandante foi Flávio Murtosa, o próprio auxiliar de Felipão —, só faturou um Campeonato Paulista, em 2008.
Quis o destino e (talvez?) a mística que Scolari e o Palmeiras — reunidos novamente desde 2010 — escrevessem juntos outro capítulo antológico da história alviverde: ao empatar por 1 a 1 com o Coritiba na noite da última quarta no Estádio Couto Pereira, na capital paranaense, a equipe tornou-se campeã da Copa do Brasil de forma invicta (na partida de ida, havia vencido por 2 a 0). A façanha garantiu aos palmeirenses, com folgada antecedência, uma das 32 cobiçadas vagas da Libertadores de 2013. O título foi comemorado durante toda a madrugada de quinta pela sua grande e orgulhosa torcida, que fechou ruas de Perdizes e Pompeia, redutos alviverdes, e um trecho da Avenida Paulista. No retorno a São Paulo, os jogadores desfilaram em carro aberto e foram recebidos com festa na Academia de Futebol, centro de treinamento na Barra Funda.
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Scolari é o terceiro treinador com mais títulos de expressão no Palestra Itália: são cinco, atrás de Oswaldo Brandão e Vanderlei Luxemburgo, com sete cada um. Tem ainda 393 jogos, contabilizando as duas passagens. Só Brandão dirigiu time mais vezes, com 580. Essa relação, no entanto, está longe de ser um mar de rosas. Felipão e Palmeiras vivem eternamente entre o amor e o ódio, resultado da forte personalidade gaúcha do técnico e do sangue quente dos descendentes de italianos (colônia ligada ao clube). Em sua primeira passagem pelo Parque Antártica, o treinador criou polêmica com torcedores das numeradas que criticavam seu trabalho, cunhando para eles a expressão “turma do amendoim”. Mais recentemente, voltou a implicar com as sociais ao usar o termo “turma do limão” para definir o comportamento dos corneteiros mais ácidos.
Ele também colecionou atritos com dirigentes nos últimos tempos, acusando vários cartolas de tumultuar o ambiente do clube. O sentimento de antipatia era recíproco, como demonstraram os constantes apelos que chegavam aos ouvidos do presidente Arnaldo Tirone exigindo a cabeça do técnico. Seu colossal salário, estimado em 700.000 reais por mês, estava entre os principais argumentos a favor da demissão, na linha de que o custo não compensava o benefício.
Nem os jogadores ficaram imunes às ranhetices de Felipão. Em declarações públicas, reclamou de que havia solicitado a contratação de “camarões” (jogadores de renome) e só recebera “juquinhas” (atletas inexpressivos). Mas foi com os juquinhas que formou o time brigador responsável pelo triunfo da semana passada, mesmo sem contar na última partida com dois de seus principais destaques, o meia Valdivia (suspenso) e o atacante Barcos (recuperando-se após uma crise de apendicite). Com isso, tornou-se o técnico com mais títulos na história da Copa do Brasil. Além do bicampeonato com o Verdão, venceu o torneio com o Criciúma (1991) e com o Grêmio (1994).
Seja pelo temperamento arrebatador, seja pela galeria de troféus, o fato é que Scolari acumula fãs entre os palmeirenses, dos anônimos aos mais influentes. “Ele é mestre na disputa de torneios do tipo mata-mata, é Ph.D. no assunto e tem grande facilidade em montar equipes vencedoras”, derrete-se o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, responsável pela contratação do técnico em 2010, quando ocupava o cargo de presidente do clube. “Essa conquista foi mais do comandante do que do elenco”, afirma o ex-jogador Edmundo, o Animal, destaque do Palmeiras nos anos 90 e hoje comentarista da Band. Quem esteve sob suas ordens tem saudade. “É um dos melhores com quem trabalhei”, diz o ex-atacante Evair, um dos maiores ídolos da história recente do clube. Na arquibancada, é voz corrente que o time atual não inspirava muita confiança.
“Dificilmente seríamos campeões sem ele, que tem o dom de extrair o melhor de jogadores medíocres”, acredita o ex-tenista Flávio Saretta. “Felipão não se coloca numa posição superior à dos jogadores, entra em campo uniformizado e grita, sofre, briga e chora”, diz a ex-modelo Gianne Albertoni. Há quem elogie até suas confusões. “É uma figura polêmica, não tem paciência para lidar com a imprensa, e gostam dele exatamente porque é autêntico”, resume o apresentador Otávio Mesquita. Com o encerramento do contrato do técnico marcado para o fim do ano, já começa a pipocar um movimento “Fica, Felipão”. Afinal, depois de igualar a façanha da Copa do Brasil de 1998, por que não tentar repetir a da Libertadores de 1999?
QUATRO ORGULHOS PALESTRINOSApós anos de fracassos, alviverdes recuperam autoestima
– Clube com o maior número de títulos nacionais: oito Campeonatos Brasileiros, duas Copas do Brasil e uma Copa dos Campeões.
– Principal algoz do Corinthians na Libertadores. Em 1999, enfrentaram-se nas quartas. O Verdão de Scolari ganhou nos pênaltis e depois chegou ao título. Em 2000, na semifinal, venceu novamente nos pênaltis.
– Único clube a representar a seleção brasileira: no dia 7 de setembro de 1965, foi convocado, incluindo sua comissão técnica, para um amistoso contra o Uruguai: venceu por 3 a 0.
– Conquistou o Campeonato Paulista com 100% de aproveitamento em 1932, façanha jamais igualada: ganhou as onze partidas que disputou.