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Livre das drogas, a ex-modelo Loemy comanda centro de recuperação

Comunidade Terapêutica Caminho de Luz fica no município de Machado, em Minas Gerais

Por Adriana Farias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 16h04 - Publicado em 3 Maio 2018, 06h00

Quatro anos depois de ficar famosa como “a modelo da Cracolândia”, Loemy Marques, 28, se emociona ao falar da nova fase de sua vida. Recuperada do vício em crack graças a um tratamento de quase dois anos em clínicas e moradias assistidas de São Paulo, ela agora comanda a Comunidade Terapêutica Caminho de Luz, também destinada aos cuidados de dependentes químicos. “Eu não imaginava chegar a esse ponto”, diz ela, com lágrimas nos olhos. “A moda não me trouxe fama, mas a fama está me possibilitando ajudar outras pessoas.”

Situada a 10 quilômetros de distância do centro do pequeno município de Machado, no sul de Minas Gerais, a iniciativa está instalada em uma área verde de 20 000 metros quadrados, com lagoa, piscina, horta e galinheiro. O custo mensal de manutenção do espaço gira em torno de 16 000 reais, boa parte dele bancada com doações de entidades como o Rotary Club e as redes locais alimentícias Marine e Frigoabat. Há ainda uma mensalidade desembolsada pela maioria dos pacientes, que varia de 1 500 a 2 000 reais — cinco vagas são gratuitas.

O visual da comunidade terapêutica de Machado (Rodrigo Ayer/Ayer Drone/Veja SP)

Os dezessete internos, todos homens, são atendidos por uma equipe formada por seis profissionais, como psiquiatra, psicólogo, enfermeiro, terapeuta e conselheiros em dependência química. A rotina inclui uma reunião grupal para pôr em prática a técnica dos “doze passos”.

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Utilizada por irmandades como Alcoólatras e Narcóticos Anônimos, ela consiste em uma série de etapas para superar o vício, como admitir o problema e buscar ajuda na espiritualidade. “Esse método fez toda a diferença na minha recuperação, promoveu uma espécie de limpeza mental para que eu escapasse do hábito do uso de drogas”, diz Loemy, que conheceu o conceito em clínicas privadas.

O exemplo de superação da ex-modelo é utilizado para estimular a dedicação dos pacientes na Caminho de Luz. “Ver o que ela passou me encoraja, dá esperança e mostra que eu também sou capaz”, afirma o paulistano Vinicius Rodrigues, de 28 anos, internado há seis meses no local. Nascido em uma família de classe média do bairro de Itaquera, na Zona Leste, ele cresceu frequentando escolas particulares. Acabou mergulhado no vício depois de experimentar drogas na adolescência.

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No auge da crise, largou tudo na capital paulista para tentar a virada no interior mineiro. “Entrei no ônibus todo sujo, só com a roupa do corpo, fechei os olhos e acordei aqui. Desde então, minha alma rejuvenesceu”, diz ele, que está prestes a receber alta.

Loemy administra o centro de recuperação em parceria com o namorado, Hoxinton Coelho, 36. Nascido em Machado, foi ele que teve a ideia de montar o projeto na área rural da cidade. O rapaz também é ex-dependente de álcool e drogas e conheceu a história de Loemy por meio da imprensa. “Eu estava limpo fazia nove meses quando vi a reportagem e fiquei chocado”, relembra. Ele a localizou nas redes sociais e, após muita conversa virtual, os dois marcaram de se encontrar em São Paulo, no fim de 2016. “Ali começou a nossa história, e eu espero que ela dure uma eternidade”, diz Coelho.

O casal pretende agora expandir a iniciativa, com a criação de um centro terapêutico para mulheres. No dia 13 de abril, eles conseguiram a concessão de um imóvel de 10 000 metros quadrados junto à prefeitura de Machado. “Queremos levar a unidade masculina para esse novo espaço e implantar a feminina onde já estamos”, explica Coelho. A perspectiva é que a nova ala esteja em operação até junho.

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O namorado, Hoxinton: parceria na administração (Adriano Conter/Veja SP)

Antes, o local precisará passar por uma reforma, pois está abandonado há dois anos. A administração municipal vai desembolsar 10 000 reais na obra e seis das 32 vagas serão cedidas à prefeitura. Como o dinheiro não é suficiente, o casal está em busca de mais patrocinadores.

Nascida em Mato Grosso, Loemy desembarcou em São Paulo em 2012, para tentar a carreira de modelo. Por nunca se curar de uma depressão — consequência de um abuso do padrasto sofrido por ela na infância — e por não conseguir emprego no mundo da moda, ela se envolveu com drogas e viveu por dois anos na rua, na região da Cracolândia.

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Sua história ficou conhecida por meio de uma reportagem de VEJA SÃO PAULO, em 2014. Com a repercussão, inclusive internacional, a jovem acabou servindo de inspiração para uma personagem da novela Verdades Secretas, da Globo, interpretada por Grazi Massafera. O drama também mobilizou pessoas, entidades e empresas, que se uniram a ela no enfrentamento do vício.

Foi o caso do programa Hora do Faro, da Record, que a levou para uma clínica e exibiu a sua reabilitação em 2016. Loemy começou a trabalhar como atendente em um consultório odontológico, mas essa fase inicial ainda teve percalços. Em uma recaída que durou um dia, ela voltou a usar drogas na região do Parque Dom Pedro, no centro. “Fiquei conhecida, mas não soube administrar o assédio, sou uma pessoa de família humilde, criada de forma simples”, diz. “Choro toda vez que revejo os vídeos sobre mim.”

Na Cracolândia, em 2014: abuso sofrido na infância provocou depressão (Adriano Conter/Veja SP)

A fama repentina era mais difícil de gerenciar em uma metrópole como São Paulo. Assim, superado o período mais agudo de apoio médico e social, Loemy resolveu se mudar para a pequena cidade do interior de Minas Gerais. A jovem continua fazendo terapia duas vezes por mês e toma duas medicações por dia: um ansiolítico, para controlar a ansiedade, e um antidepressivo.

“É um processo lento. Primeiro a droga precisa sair do corpo, depois é preciso aprender a abandonar os sentimentos ligados ao desejo e focar outras atividades e interesses”, afirma. O serviço no centro de tratamento é mais uma etapa de sua recuperação, mas ela já planeja voos mais altos. “Meu plano é cursar a faculdade de psicologia para continuar a desenvolver meu trabalho”, diz Loemy.

 

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