Lixo: prefeitura muda contrato de varrição e testa novas tecnologias
Projeto prevê a fusão de vários serviços em um só pacote orçado em 2 bilhões de reais para os próximos três anos de concessão
O governo municipal começou a selecionar na última semana os dois consórcios que deverão assumir um novo modelo para a varrição das ruas de São Paulo. O projeto prevê a fusão de vários serviços em um só pacote, orçado globalmente em 2 bilhões de reais para os próximos três anos de concessão. Rompendo uma descentralização observada na capital desde a década de 80, a prefeitura resolveu unificar no contrato não apenas os trabalhos de passar a vassoura em 6.900 quilômetros de vias por dia, mas também as tarefas de desentupir as 400.000 bocas de lobo, arrancar cartazes de postes, conservar monumentos, recolher o entulho descartado ilegalmente e instalar e manter 150.000 novas lixeiras. Hoje, cada uma dessas funções é realizada por órgãos distintos. Na argumentação oficial, o arranjo facilitará a cobrança das empresas responsáveis pela faxina, criando um canal mais estreito para direcionar a fiscalização, evitar omissões e obrigar as contratadas a manter São Paulo sempre limpa — inclusive aos domingos, dias em que, atualmente, os locais não recebem a atenção dos garis.
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A reorganização sugerida pela administração de Gilberto Kassab recebeu elogios até de oposicionistas. Como as duas áreas de abrangência criadas correspondem aos mesmos limites usados atualmente para a coleta domiciliar — Noroeste e Sudeste —, existe a possibilidade de que, futuramente, sejam negociadas alternativas para uso conjunto de caminhões que recolham os sacos de lixo pretos vindos de residências e os amarelos, que reúnem os detritos juntados nas ruas. “A coleta das casas e a varrição das ruas vão falar a mesma língua, o que é uma visão técnica correta que facilita a gestão e resulta em ganho de escala”, afirma Fábio Pierodomenico, diretor-geral do Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb) entre 2002 e 2004, na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Segundo ele, no entanto, o governo demorou para realizar a licitação e elaborou um projeto de vida útil breve. “No final do mandato, o prefeito lançou um edital para apenas três anos, deixando claro que não conseguiu estudar um modelo definitivo”, complementa Pierodomenico. Outra crítica à proposta parte das pequenas empresas que hoje exploram o filão de forma segmentada. Por meio do Sindiverde, sindicato que as representa, elas ingressaram com um pedido de anulação do negócio, alegando “supressão da competitividade”. O processo continua tramitando na Justiça.
Além desse pacote de mudanças, os paulistanos podem esperar por outras novidades na área. Fruto de compromissos assumidos em 2004, quando assinaram um contrato de vinte anos para fazer a coleta domiciliar na cidade, as empresas Ecourbis e Loga devem começar, já no próximo ano, a implementar projetos-piloto com modernizações para o serviço. Até 2014, por exemplo, as calçadas da capital deverão ser tomadas por enormes contêineres verdes que, distribuídos entre os quarteirões, servirão para depósito dos sacos de lixo de prédios e casas. Com o mecanismo, novos veículos, que também entrarão em fase de teste, poderão recolher o material apenas estacionando ao lado dos recipientes.
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Outra tecnologia que pode ser aproveitada em breve é uma lixeira da marca europeia Sotkon, que chegou a ser experimentada no Parque do Anhembi durante o primeiro semestre. Acoplada a um reservatório subterrâneo para receber dejetos domiciliares e de pedestres, ela reduz quase pela metade os investimentos em transporte, pois não obriga os caminhões a fazer visitas diárias aos locais de coleta. O sistema já está sendo adotado em cidades do interior, como Paulínia, onde, a partir deste mês, 25 jogos do equipamento serão instalados em valas escavadas pelas calçadas do município. Cada um custa entre 20.000 e 25.000 reais. “O método reduz o entupimento de bueiros causado pelos detritos espalhados pelas ruas”, diz José Pavan Junior, prefeito de Paulínia. Em São Paulo, o governo planeja implementar a tecnologia em 2012, atendendo comunidades periféricas e bairros populosos, como os Jardins.
AS PRINCIPAIS NOVIDADES NO SISTEMA
– As cinco empresas que varrem as ruas hoje serão substituídas por dois grandes consórcios
– Os grupos vencedores receberão 2 bilhões de reais por três anos de concessão
– Foram acrescentados aos contratos serviços como retirada de cartazes, recolhimento de entulho das ruas e limpeza de bueiros, bocas de lobo, poços de visita e galerias
– Além de medir a quilometragem varrida, a prefeitura vai criar um índice de qualidade que determinará a aplicação de multas ou reduções no valor pago mensalmente às empresas. A opinião da população terá peso nesse indicador
COLETA MODERNA
Como funciona a nova tecnologia que foi testada recentemente na capital
1. Dentro de um buraco de 2 metros de profundidade na calçada, os técnicos instalam uma cuba de concreto de 5 toneladas
2. É colocado dentro da vala um contêiner com capacidade média para 3.000 litros, com uma lixeira conectada à superfície
3. Um caminhão dotado de um braço móvel recolhe a caçamba com os dejetos acumulados e devolve o recipiente