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Justiça suspende compra de câmeras de reconhecimento facial em São Paulo

Juiz destacou riscos a proteção de dados pessoais e potencial viés racista da tecnologia

Por Hyndara Freitas
18 Maio 2023, 14h47
Câmera de monitoramento.
 (Alexandre Moreira/Veja SP)
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A Justiça suspendeu nesta quinta-feira (18) o edital de compra de 20 000 câmeras de reconhecimento facial pela prefeitura de São Paulo. A decisão do juiz Luis Manoel Fonseca Pires, da 3ª Vara da Fazenda Pública, atende a um pedido feito por vereadoras do Psol. O pregão estava marcado para a próxima terça-feira (23).

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O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tenta, desde o ano passado, implementar o Smart Sampa, projeto que visa monitorar as vias da cidade com câmeras com inteligência artificial que serão compartilhadas com a Guarda Civil Metropolitana. O Tribunal de Contas do Município (TCM-SP) havia suspendido o edital, mas liberou o programa no mês passado.

Na decisão, o juiz afirma que há dúvidas sobre como o sistema vai resguardar os dados pessoais dos cidadãos, e citou estudos que mostram uma maior chance de erro na identificação de pessoas negras pela tecnologia de reconhecimento facial.

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“Inúmeros pesquisadores de diversas áreas (direito, psicologia, sociologia, tecnologia de informação entre outras) e instituições renomadas (do Brasil e do exterior) apontam para riscos concretos de reprodução do racismo estrutural no uso do sistema de monitoramento por reconhecimento facial porque essa tecnologia reproduz padrões de discriminação incorporados na cultura e na dinâmica institucional das sociedades sem permitir qualquer revisão desses graves comportamentos. Exemplifico a assertiva com a referência à pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança de que 90% das prisões feitas no Brasil por meio dessa tecnologia foram de pessoas negras, e entre elas houve erros de identificação que levaram inocentes à prisão”, destacou o juiz.

O magistrado ainda citou casos de cidades que proibiram o uso da tecnologia para fins de segurança pública, como São Francisco e Boston, ambas nos Estados Unidos. O juiz também destacou que ainda não há uma regulamentação clara para o uso do reconhecimento facial em larga escala. “Não há como adquirir o sistema de videomonitoramento sem se saber como os dados podem ser processados (Lei Geral de Proteção de Dados) e como devem ser ponderados em proteção aos direitos fundamentais. A prévia definição legal em cumprimento ao princípio da legalidade é condição à definição de qual produto e quais serviços precisam ser contratados”, escreveu o juiz. A Prefeitura deverá se manifestar no processo em até 30 dias.

O projeto é uma das apostas de Nunes para melhorar a segurança da capital, com o compartilhamento dos dados captados com órgãos como a CET, Defesa Civil, Samu e também a Polícia Militar. Mas especialistas em segurança de dados e partidos da oposição criticam a medida por considerarem que o reconhecimento facial pode ferir a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e que a inteligência artificial pode ter um viés discriminatório para a população negra.

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O edital do Smart Sampa para contratar uma empresa que forneceria as câmeras e softwares de reconhecimento à cidade previa, inicialmente, que as câmeras iriam identificar o rosto das pessoas, a cor da pele e até “situações de vadiagem”. Após críticas, o último termo foi retirado do documento.

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