Os jovens paulistanos que se destacam nas olimpíadas de estudantes, como robótica e astronomia
Guilherme Beyruti Surányi, um dos cientistas mirins, criou protótipo de respirador mecânico doado a empresa ligada à Santa Casa
“Faço robôs desde pequeno”, conta o paulistano Guilherme Beyruti Surányi. Com apenas 17 anos e prestes a completar o ensino médio, acredita ter sido um dos primeiros criadores de respiradores mecânicos no Brasil na pandemia. “Eu acordava às 6 da manhã para fazer as coisas da escola e depois ficava no projeto até de madrugada. Usei impressora 3D e tentei fazer tudo com o menor custo possível.”
Após doar a invenção a uma empresa ligada à Santa Casa, o aluno do Colégio Santa Cruz teve uma nova ideia: criar um minissubmarino. “Começou em uma viagem à Bahia, em um recife de corais.” Para facilitar o monitoramento dessas espécies, montou, com a orientação de seu professor, um drone subaquático com duas câmeras, seis motores e transmissão de dados por fios elétricos. “Usei materiais comuns, como canos de PVC e anéis de vedação, que aguentam bastante pressão. Não entendo de corais, mas quis fazer uma ferramenta para quem entende.”
Os “cientistas” mirins não são raridade. Entre medalhas e projetos científicos, muitos concentram horas diárias de estudo em atividades extracurriculares e disputas que vão muito além do Enem. “Sempre fui curioso e, depois da primeira medalha, um professor do colégio viu que eu tinha potencial”, relembra Alexandre Bastos, 17, medalhista em disputas olímpicas de física, matemática, robótica e astronomia. Com o apoio do professor de física, ele conseguiu uma bolsa para estudar no Colégio Objetivo e chegou a visitar Botsuana, na África, ao ser classificado na Olimpíada Brasileira de Ciências. “Tive contato com pessoas do mundo todo e pude aprender muito inglês em apenas dez dias.”
A experiência internacional também é uma das metas de Gabriela Gomes Frossard, 13, que cursa o nono ano no Colégio Renovação e participa de provas olímpicas desde os 10 — no último ano, a estudante conquistou medalha de prata na Olimpíada Nacional de Ciências. “Meu foco é estudar em Harvard”, sonha. “Eu compro cursos que ensinam o processo e lá eles valorizam muito esses projetos.”
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Classificada entre os dez primeiros alunos selecionados para a fase final da Olimpíada Paulista de Neurociências, Isabela Jakomulsky, 17, é uma das promessas na disputa deste ano e estuda desde dezembro para a competição. “Terceiro ano já não é fácil e eu quero fazer medicina, então reservo parte da tarde e da noite para esse assunto”, resume a aluna do Santa Maria. No mesmo colégio, onde completou o ensino médio no ano passado, Natália Más Conde, 18, foi destaque ao ter sua redação da Olimpíada de Química de São Paulo publicada pela USP. Incentivada pela mãe, ela abordou o potencial da nanotecnologia nos processos de produção de vinícolas, das embalagens ao cultivo. “Sempre me dei melhor na área de humanas, por esse motivo decidi participar da olimpíada… Achei que seria um bom desafio.”
Para Giovanna da Silva, 17, moradora do Capão Redondo, um dos maiores desafios foi migrar da escola pública para o Colégio Anglo São Paulo ao ganhar bolsa integral. “Foi um baque enorme, passei por bons apuros porque a diferença entre o ensino público e o privado é escancarada”, reflete. “Como gosto de me aventurar, queria aproveitar o que pudesse e passei a me inscrever em tudo.” Hoje ela acumula medalhas nas áreas de robótica e astronomia, incluindo o desafio nacional da Olimpíada Brasileira de Astronomia com a construção de um modelo de foguete em software. “Decidi trazer essa vivência para as escolas das periferias e até fiz aulas olímpicas para alguns alunos. Foi pelas olimpíadas que descobri que poderia estudar fora… Sempre tive esse sonho, mas antes achava que não passava de uma fantasia na minha cabeça.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de abril de 2021, edição nº 2734