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Nós e os bichos

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 11h41 - Publicado em 29 jan 2016, 23h00
Cronica Ivan Angelo
Cronica Ivan Angelo (Veja São Paulo/)
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Leio otimista a notícia de que a tartaruga-das-galápagos da Ilha de Pinta, espécie terrestre declarada extinta em 2012, quando morreu o famoso George Solitário, poderá ser “desextinta” por uma sucessão de reproduções manipuladas por cientistas que visam a conseguir uma sequência genética igual à de George, a partir do sêmen dele e de óvulos de um grupo com DNA parecido encontrado em uma ilha próxima.

Parece coisa de cientista maluco de filmes de Hollywood, daqueles parques jurássicos, mas a informação é positiva, como se estivéssemos consertando um malfeito. Tantas espécies estão ameaçadas, tantas desapareceram — quem sabe um banco genético dos animais em extinção possa existir um dia?

Preservacionistas internacionais vivem acusando o Brasil, onde se encontram mais de 20% do total de espécies terrestres e aquáticas do planeta, de não cuidar bem do meio ambiente. Isso depois de gerações passadas terem destruído a vida natural nas terras deles. Com razão, e de consciência pesada, agora nos ajudam a preservar a fauna e a flora, para não se repetir o que aconteceu com a linda ararinha-azul, que hoje só existe em cativeiro, e não venha a acontecer com o mico-leão, o lobo-guará, o cervo-do-pantanal, a ariranha, a onça-pintada e outros.

Não foi aqui, no entanto, que aconteceu a mais gigantesca, mais brutal e mais sistemática destruição de uma espécie animal jamais vista no mundo. A vítima foi o pombo-passageiro, da América do Norte, que constituiu a maior população de aves já vista e descrita. Estima-se que tenham existido 5 bilhões desses pombos selvagens; faz 100 anos que não há um único exemplar vivo.

As descrições da migração de um bando de pombos-passageiros são impressionantes. O primeiro relato data de 1534. Eram aves grandes, cinzentas de peito alaranjado, e mediam até 40 centímetros de comprimento. Viviam a leste das Montanhas Rochosas e no inverno migravam para o sul dos Estados Unidos. Calcula-se que o maior bando avistado em migração tinha 1,5 quilômetro de largura e 500 quilômetros de comprimento; voando a 60 quilômetros por hora, levava mais de oito horas passando; a quilômetros de distância ouvia-se o ruflar das asas; o bando eclipsava o sol e as galinhas iam dormir.

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Colonos tremiam à aproximação, colheitas enormes eram destruídas quando o bando pousava à noite para se refazer; fezes fertilizavam o solo por muitos anos, mas isso não compensava o estrago. No fim do século XIX, o fim. Em um único dia de 1896, cerca de 250 000 pombos foram mortos na grande caçada.

Como foi possível acabar com tamanha quantidade de pássaros? Os pombos já eram caçados para alimentação pelos nativos americanos, antes da chegada dos brancos europeus, mas não de modo predatório. Os colonos e conquistadores tinham outros motivos: alimentação, defesa das lavouras, vingança, redução da subsistência do habitante nativo, esporte, exibicionismo, alimentação de porcos — era comida barata e farta. Os meios de extermínio?

Espingardas de chumbo em eventos quase esportivos durante as migrações (como os bandos eram densos, um único tiro, conta-se, derrubou 132 aves de uma vez), atear fogo sob os ninhais, pauladas nos ninhos das árvores, armadilhas com redes — criatividade não faltou. Então, em setembro de 1914, no Jardim Zoológico de Cincinnati, morreu a última ave da espécie, Martha, idosa de 19 anos.

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