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Irmãs criam marca de camisetas que enaltece cultura negra

Anna Laura Moura, 26, e Julia Moura, 19, lançaram digitalmente a Batú e oferecem produtos bordados à mão

Por Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 24 dez 2020, 14h22 - Publicado em 18 dez 2020, 06h00

Com talento (e tempo de sobra na quarentena), as irmãs Anna Laura Moura, 26, e Julia Moura, 19, decidiram lançar digitalmente uma marca que seguisse princípios feministas, apoiasse a comunidade LGBTQIA+ e enaltecesse a cultura negra. A Batú — derivado de batuque — oferece camisetas e ecobags bordadas pelas mãos das meninas em um estúdio em Franco da Rocha.

Julia, atriz e estudante de direção teatral na SP Escola de Teatro, assume a produção dos ensaios fotográficos da loja e também é responsável pela criação das peças. Aprendeu a bordar sozinha durante o isolamento social. Anna, jornalista, cuida da comunicação da marca e dos ensaios de divulgação. “Não é uma loja para só vender estampas fofas. Todas as peças têm uma mensagem por trás”, conta

Quatro coleções estão disponíveis no perfil do Instagram @usebatu_, pelo qual as peças são comercializadas via direct. Inaugurada em outubro, a primeira coleção da página, a Rebu, apresenta camisetas pretas com bordados brancos ou cinza. As peças são estampadas com palavras que causam alguma emoção, como “epifania”, “vendaval” e “penumbra”. Anna explica que o nome remete a bagunça e sentimentos caóticos, que às vezes são ignorados. “Ser good vibes é bom, mas se recolher e respeitar seus limites também”, diz a postagem na rede social.

A coleção de ecobags Cores tem três estampas à escolha — “Sol Azul”, “Nativa” e “Flor do Leste” —, todas de algodão cru.

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Modelo da Batú posando para foto vestindo a camiseta camiseta “Preta do Brinco de Pérola”
Paloma no ensaio: coleção Retratos (Reprodução/Instagram/Divulgação)

Uma releitura de pinturas renomadas é feita nas camisetas da coleção Retrato. “Preta do Brinco de Pérola” refere-se à obra Moça com Brinco de Pérola, de Johannes Vermeer. O perfil de uma mulher com cabelos black power é costurado na estampa. “Negros não são representados nas obras clássicas, a não ser como escravos”, afirma Paloma Pereira, 24, modelo do ensaio para a Batú. “Não acreditei quando me convidaram, porque sou gorda, fora dos padrões de beleza de propaganda.” Há cinco tamanhos de camisetas, que vão do P ao BG (referência a big grande) e todas as peças são unissex.

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As camisetas custam de 50 a 56 reais e as ecobags variam de 52 a 60 reais. A cobrança é feita por boleto ou transferência bancária. A produção começou no quarto das meninas, mas, com a alta dos pedidos, criaram o estúdio Bateliê na casa vazia dos falecidos avós. Elas investiram 1500 reais na compra dos materiais e equipamentos. Depois de prontas, as peças são embaladas em papel de seda, amarradas com barbante e colocadas dentro de sacolas de papel pardo. Acompanham um pequeno envelope com poemas de poetas brasileiros contemporâneos, como a cuiabana Ryane Leão.

A entrega é feita pessoalmente em Franco da Rocha e Jundiaí, mas o preço do frete é incluído no valor final para outras regiões de São Paulo. Em dois meses, as irmãs faturaram 1200 reais. Elas pretendem criar um site para suprir a demanda que só cresce e já planejam as próximas criações.

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Nos ensaios para divulgação, Julia e amigos das irmãs também são modelos. Elas organizaram o cenário no Pico do Olho d’Água, em Mairiporã, com lençóis das cores predominantes da marca: marrom, usado no logo oficial, preto e branco, no tom das roupas.

A peça escolhida por Rafael Mendes, 19, é a Afroporu, releitura do famoso quadro de Tarsila do Amaral. “Minha camiseta é o Abaporu em um corpo gordo. A ideia é dar visibilidade a pessoas de tamanhos maiores, esquecidas pelas grandes lojas.” De acordo com Anna, a maioria dos clientes é de jovens de 18 a 29 anos, atraídos pelas pautas que a marca prega.

Em dezembro, foi lançada a coleção Frente, tributo às pessoas que estão no front de lutas sociais e usam a arte como expressão. “Apoie artistas vivos” é a primeira frase escolhida, bordada com letra que imita a fonte de máquina de escrever. Outras camisetas da série serão lançadas no decorrer deste mês e em janeiro. “As pessoas só ovacionam artistas quando eles morrem. Por que não valorizá-los enquanto estão aqui?”, questiona Anna. “Nós mesmas somos duas mulheres pretas tentando ser valorizadas no meio artístico”, complementa Julia.

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Estampa da camiseta da Batú, uma releitura de obra clássica “Preta do Brinco de Pérola”
Releitura de obra clássica: camiseta “Preta do Brinco de Pérola” (Reprodução/Instagram/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 23 de dezembro de 2020, edição nº 2718

*Este texto foi alterado.

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