Continua após publicidade

Invasão telefônica

Ao entrar em casa, recebo o recado. – Ligaram do banco. Disseram que era muito importante. Vejo o bilhete. Trata-se do mesmo banco em que tenho conta. Imediatamente me arrepio. Só pode ser conta estourada! Disco apressado para a gerente. Do outro lado, a surpresa: – Não… Ninguém ligou daqui, não. Era telemarketing. Alguém queria […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Ao entrar em casa, recebo o recado.

    Publicidade

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Ligaram do banco. Disseram que era muito importante.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Vejo o bilhete. Trata-se do mesmo banco em que tenho conta. Imediatamente me arrepio. Só pode ser conta estourada! Disco apressado para a gerente. Do outro lado, a surpresa:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Não… Ninguém ligou daqui, não.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Era telemarketing. Alguém queria me vender algum serviço. Isso me acontece o tempo todo. Recebo ligações de operadores de celulares nos horários mais absurdos. No trânsito. Pelado, pronto para entrar no banho. Durante o almoço. Ouço a voz feminina cheia de mel:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Aqui é da central de relacionamento…

    Continua após a publicidade

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Respondo, rápido:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Agora não posso falar.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – A que horas eu posso ligar novamente?

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Confesso: o telemarketing me transformou num tremendo mal-educado. Digo:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Nunca. Não quero saber de promoção nenhuma.

    Continua após a publicidade

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    A vozinha me agradece. Foi treinada para isso. Mas não me livrei. Continuam ligando todos os dias. Enquanto eu não comprar, continuarão me chamando automaticamente. A cada novo telefonema, radicalizo:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Não estou interessado em nenhuma promoção, seja qual for.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Mas eu me sinto péssimo ao tratar alguém assim! Mais ainda: muitas vezes a promoção parece atraente. Pode ser a proposta de participação em um concurso para ganhar um carro, por exemplo. Só que participar implica o que chamam de “fidelização”. Ou seja, torna-se impossível romper o contrato durante mais um ano! Ninguém explica tal coisa na hora de vender o peixe.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Já me ligaram dos lugares mais inesperados. Às vezes, pergunto curioso:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Como vocês têm meu telefone?

    Continua após a publicidade

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – O senhor foi escolhido como cliente especial!

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Ah, é? Conta outra. Escolado, cada vez que alguma loja me pede para preencher um cadastro, me recuso.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Depois vocês fornecem meu nome e endereço a outra empresa. Não quero.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Não é nossa política fazer isso – sorri o vendedor.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Sinceramente, você não tem como impedir – retribuo.

    Continua após a publicidade

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Ficam me olhando torto.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    É incrível como também criam necessidades. Tenho internet de alta velocidade. Estou satisfeito. Mas nos últimos meses me ligaram várias vezes para oferecer pacotes de velocidade ainda maior. Sem precisar de nada disso, acabei aceitando porque o velho ditado funciona muito bem comigo: água mole em pedra dura…

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Sem falar nas associações beneficentes. Eu acho que é uma obrigação ajudar o próximo. Faço o que posso. Mas me sinto realmente invadido quando liga alguém de um lar ou casa de apoio que não conheço. Vem a conversa:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – É só uma pequena quantia para ajudar as crianças carentes e…

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Eu já ajudo uma instituição há muitos anos.

    Continua após a publicidade

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Se o senhor der uma contribuição mensal…

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Aí sou obrigado a fazer o papel de bicho-papão:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Sinto muito, não quero ajudar as crianças carentes.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Dizer o quê, para me livrar do telefonema? Óbvio que me sinto um monstro ao falar tal absurdo. Fazer o quê? Não adianta explicar que, puxa vida, quero ajudar uma instituição que já conheça de perto. O marketing da caridade é assustador. Ainda mais porque fiquei sabendo que com freqüência os “consultores” são profissionais. Usam o sentimento de solidariedade normal nas pessoas para ganhar comissão!

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Agora criei um truque para me livrar. Se atendo e perguntam pelo meu nome, faço a voz bem fina e respondo:

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    – Seu Walcyr não está. Viajou sem data de retorno.

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Talvez acreditem. Ou então vão achar que tem um doido do outro lado da linha. De qualquer jeito, eu me livro!

    Publicidade
    Publicidade

    Essa é uma matéria fechada para assinantes.
    Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

    Domine o fato. Confie na fonte.
    10 grandes marcas em uma única assinatura digital
    Impressa + Digital no App
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital no App

    Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

    Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
    *Para assinantes da cidade de São Paulo

    a partir de R$ 39,90/mês

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.