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‘O Inferno de Henri-Georges Clouzot’ traz filme inacabado do cineasta

Dirigido por Serge Bromberg e Ruxandra Medrea, documentário está em cartaz no Reserva Cultural

Por Miguel Barbieri Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h49 - Publicado em 6 Maio 2010, 20h38

Em ‘O Mamute Siberiano’ (2004), o diretor carioca Vicente Ferraz dissecava ‘Soy Cuba’, uma pérola do cinema soviético de 1963, para entender sua fracassada trajetória comercial. Praticamente os mesmos motivos movem a dupla de cineastas Serge Bromberg e Ruxandra Medrea no documentário francês ‘O Inferno de Henri-Georges Clouzot’. Interessa a eles descobrir o que teria acontecido a ‘L’Enfer’, o 11º longa-metragem do prestigiado realizador Henri-Georges Clouzot (1907-1977). Rodado durante três semanas de 1964, o trabalho não foi concluído, sumiu do mapa e virou lenda.

Embora ainda colhesse elogios pelos formidáveis suspenses ‘O Salário do Medo’ (1953) e ‘As Diabólicas’ (1955), Clouzot atravessava um período de depressão. ‘L’Enfer’ (o inferno), anunciada como uma das mais caras produções do cinema francês, seria a chance de sair do buraco emocional. Uma equipe de 100 pessoas, a presença das estrelas Romy Schneider (1938-1982) e Serge Reggiani (1922-2004) e a marcante locação na região de Cantal, no centro-sul da França, assinalavam uma obra-prima. Não foi bem assim.

Depois de uma longa conversa com a viúva de Clouzot, Serge Bromberg teve acesso às dezesseis horas de filmagem. O espectador encontrará, portanto, a absorvente anatomia de um filme. Além de recuperarem e restaurarem as imagens originais (sem som), os documentaristas foram atrás de técnicos e atores que trabalharam ao lado de Clouzot, radiografado como um perfeccionista irascível e insone. O roteiro, depois adaptado por Claude Chabrol em ‘Ciúme — O Inferno do Amor Possessivo’ (1994), enfocava o conturbado relacionamento de um casal (em preto e branco) e os delírios (coloridos) de ciúme doentio do marido. Clouzot experimentava aí sequências de apurado visual. No flerte com a arte cinética precursora do húngaro Victor Vasarely e de seu filho Jean-Pierre Yvaral, ele produziu cenas caleidoscópicas, texturizadas, e agora, felizmente, eternas para o público.

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