Importante exposição que une África e América chega a São Paulo
O Masp inaugura nesta semana a grandiosa exibição, com 432 obras divididas entre o prédio na Paulista e o Instituto Tomie Ohtake
![](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/06/masp_haa-1.jpg?quality=70&strip=info&w=1000&h=710&crop=1)
Está marcada para sexta (29) a aguardada abertura de Histórias Afro-Atlânticas, no Masp. A mostra ocupará três pavimentos do prédio na Paulista e vai se desdobrar também no Instituto Tomie Ohtake, numa parceria inédita com o espaço de Pinheiros. No total, 432 obras de 213 artistas (perto de 50% deles negros) de doze países estarão em exibição até 21 de outubro. Não se trata, porém, da maior exposição realizada desde que Adriano Pedrosa assumiu a direção artística do Masp, em outubro de 2014 — a reedição de A Mão do Povo Brasileiro (2016) reuniu mais de 1 000 itens (confira outras montagens grandiosas no quadro ao final).
![a permanência das estruturas (acima, 2017), da paulista Rosana Paulino](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/06/masp_haa-4.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Em função da diversidade do conjunto, contudo, é possível afirmar que é a mais importante mostra desta gestão. Ao custo estimado de 3 milhões de reais, foram reunidas peças que tratam dos fluxos migratórios e culturais que unem África e América, incluindo a região do Caribe. Fazem parte da seleção expoentes célebres, como os holandeses Frans Post (1612-1680) e Albert Eckhout (1610-1665), e artistas contemporâneos brasileiros, entre eles Rosana Paulino, autora da impactante A Permanência das Estruturas (2017), uma alusão aos navios negreiros.
![o dominicano Gilberto Hernández Ortega fez marchanta (acima, 1976)](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/06/masp_haa-5.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Pedrosa está à frente da equipe curatorial, que conta ainda com Ayrson Heráclito, Tomás Toledo, Hélio Menezes e Lilia Schwarcz, com quem o diretor fez há quatro anos Histórias Mestiças, considerada a “mãe” da exposição atual. Se lá o foco estava na violência do período da colonização no Brasil, aqui o recorte é ampliado para as complexas relações entre os continentes e marca os 130 anos da promulgação da Lei Áurea, de 1888. “É preciso ver essa data de forma crítica e, assim, analisar os reflexos da escravidão na sociedade, como o alto índice de assassinatos de jovens negros, os casos de racismo e a exclusão do mercado de trabalho e do sistema de educação”, afirma Toledo, um dos curadores.
Além de estar representada em figuras batidas, como a da ama de leite, a população negra surge em retratos diversos, como o da mulher altiva de chapéu colorido da pintura Marchanta, do dominicano Gilberto Hernández Ortega (1923-1979). Dão força ao time brasileiro representantes de diferentes gerações, como Emanoel Araújo, Paulo Nazareth e Jaime Lauriano. “A mostra faz parte de um contexto maior, em que há o aumento da participação de artistas negros no cenário mundial”, analisa Lauriano.
![A Marcante What Goes without Saying (2012), do americano Hank Willis Thomas](https://vejasp.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/06/masp_haa-3.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Nos bastidores, Afro-Atlânticas chamou atenção também por um motivo mais burocrático. Na primeira semana de junho, o museu levou um susto com o valor das taxas que seriam cobradas pela entrada de alguns dos trabalhos no país. Devido a uma reinterpretação na política tarifária, o montante poderia alcançar 4,8 milhões de reais, valor que inviabilizaria o projeto. Graças a duas liminares, que valem para os aeroportos de Viracopos e Guarulhos, a situação foi revertida por enquanto. “Vamos trabalhar normalmente”, afirmou o diretor financeiro Lucas Pêssoa.
COLOSSOS DO MUSEU EM NÚMEROS
Tatsumi Orimoto
A mostra de 2008 do artista japonês, com 1 171 obras, é a maior da história do museu nos últimos doze anos.
A Mão do Povo Brasileiro
O segundo lugar fica com a reedição da exposição feita em 1969. A edição de 2016 era composta de cerca de 1 000 itens.
Charles Darwin
Em 2007, a mostra dedicada à biografia e à teoria da evolução do inglês, que viveu no século XIX, reuniu 400 itens.
Imperadores Romanos
Em 2012, 370 relíquias inéditas no Brasil retrataram as conquistas de uma das grandes civilizações da história.