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O empresário que está mudando o mercado financeiro com gratidão

João Paulo Pacifico, do Grupo Gaia, aplica valores da psicologia positiva no ambiente de trabalho

Por Helena Galante Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 nov 2018, 06h00 - Publicado em 9 nov 2018, 06h00

Descalço, com camiseta do Mickey e jeans, talvez fazendo um hang loose com a mão para tirar uma foto com os funcionários e depois postar nas redes sociais. Ao entrar na sede do Grupo Gaia, que atua desde 2009 no mercado financeiro e já fez mais de 15 bilhões de reais em operações, o visitante tem grande chance de encontrar João Paulo Pacifico, seu fundador, dessa forma.

À primeira vista, o próprio ambiente de trabalho na Vila Olímpia, que lembra um coworking, já quebra o paradigma “engravatado sisudo” de um negócio voltado para setores tradicionais como o imobiliário e o agronegócio. Mas nem o tobogã azul, que liga os dois andares, nem a rede elástica, que faz as vezes de mezanino e é utilizada para reuniões, causam tanto espanto quanto o discurso de Pacifico. “Se não for para fazer o mundo melhor e as pessoas mais felizes, por que abrir uma  empresa?”, questiona. “Nosso propósito pode parecer utópico, mas sem isso não teria graça.”

“Gaianos” no tobogã do escritório: viagem à Disney após bater meta (Grupo Gaia - Divulgação/Divulgação)

Inspirado em um livro do bilionário inglês Richard Branson, do Virgin Group, que dizia que uma cultura forte permitia a uma empresa atuar com sucesso em ramos tão distintos quanto aviação e música, o então engenheiro formado pela Mauá e funcionário do Banco Matone decidiu montar um conglomerado de empresas à sua maneira — o que significava, entre outros sonhos, se livrar da obrigatoriedade do terno. Uma oportunidade de realizar uma operação no ramo de securitização (tipo de investimento baseado em títulos agrupados) foi a faísca para pedir demissão e empreender. Com uma sócia, ele comprou uma empresa já regularizada pela Comissão de Valores Mobiliários, mas ainda em fase pré-operacional. Era a Gaia  Securitizadora, transformada em GaiaSec. “O nome significava deusa da Terra e tinha a ver com meu lado mais alternativo”, lembra Pacifico, de 40 anos, vegetariano desde os 29.

“As pessoas pensam bem diferente do que eu penso, mas foi dando certo. Na média, mais certo do que errado”, pondera, ao enumerar os CNPJs que vingaram, como o da GaiaServ, de cobrança, e o da Gaia Esportes, e um projeto ou outro que ficou pelo caminho, caso da Gaia Fit, de confecção de camisetas. Hoje são quatro braços no mercado financeiro, um no de desenvolvimento pessoal e outro no terceiro setor, além de cinco investimentos externos à companhia.

O Grupo Gaia oferece aula de ioga para os funcionários (Divulgação/Divulgação)

Para criar unidade de atuação em tantas Gaias e com todos os “gaianos”, como são chamados os funcionários, o MBA em finanças foi tão importante para ele quanto o passado de nadador no Clube Pinheiros, que lhe trouxe a disciplina do treino diário, e a função de monitor de acampamento infantil, em grande parte responsável pelo bom humor e pela empolgação com que Pacifico se dirige a qualquer interlocutor. “Acredito que é  importante ter um líder que motiva sua equipe, que dá a direção e também acolhe as pessoas.”

Em 2013, quando a saúde econômica já estava  estabelecida, o empresário passou a desenhar os dez valores do grupo. O processo durou nove meses e incluiu ações propositivas para colocar todos os gaianos na mesma página. Em primeiro lugar, vem “pratique a gratidão”. A noção, difundida na psicologia positiva, ciência que busca valorizar posturas de sucesso ao invés de vasculhar problemas, chega a parecer batida em tempos de inflação de hashtags no Instagram. Numa empresa com sessenta funcionários que desenvolveram o hábito de agradecer constantemente a seus pares por cada conquista, porém, significa uma mudança considerável no clima organizacional.

O nono valor, “espalhe gentileza, engrandeça as relações”, ganhou uma mascote, o Sr. Gentileza, boneco que passeia pelas mesas do escritório. Em tempo: todos, sem exceção para diretores nem para o próprio sócio majoritário, ocupam lugares iguais nos mesões de trabalho. “Hoje, a Gaia é mais conhecida pelos seus valores do que pelos negócios”, acredita Pacifico. Como parte do terceiro valor, “vá além e surpreenda”, criou um processo seletivo para “jovens acima de 50 anos”. Fátima Lima, de 59, foi selecionada para a recepção. Para uma vaga de analista financeiro, aberta em abril, o recorde foi de 17 000 currículos recebidos pelo RH, batizado de Área Vip (valores integrando pessoas).

O fundador da empresa é seguido por mais de 410 000 pessoas no LinkedIn, onde escreve sobre novas formas de gerir equipes e negócios (Alberto Rocha/Divulgação)

No LinkedIn, o empreendedor começou a escrever sobre sua forma diferente de gestão. “Nossa missão é desenvolver empresas saudáveis, felizes e com propósito”, reafirma sempre, a cada vez com uma abordagem diferente. O estilo de escrita despojado na forma mas engajado no conteúdo fez  sucesso, e mais de 410 000 pessoas começaram a seguir o seu perfil. Depois de ler tantos livros motivadores que mudaram o rumo de sua trajetória,  Pacifico escreveu em 2016 o próprio, Onda Azul — 5 Passos para Inspirar Pessoas e Fazer o Mundo Melhor. Em outubro, passou a levar o mesmo tema para o podcast Felicidade S/A, gravado na Rádio Globo, e também para a coluna A Tal Felicidade, de VEJA SÃO PAULO.

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O interesse pelo autoconhecimento, que começou com o estudo de ioga, hoje praticada semanalmente numa das salas de reunião, expandiu-se para a meditação e a espiritualidade. Com a recém-criada Gaia.Soul, passou a atender a demanda de treinamentos para empresas. Ao lado da família, cuida ainda da ONG Gaia+. Fundada em 2014, ela recebe hoje cerca de 75 crianças em Piracicaba. As atividades esportivas e educativas, que incluem alimentação equilibrada e treino de mindfulness, já beneficiaram 8 000 pessoas em situação de vulnerabilidade. Completa o leque de atuações a participação na sociedade do clube de futebol Ituano, em Itu, cujos jogadores em campeonato eventualmente batem um papo com Pacifico.

No gramado do Ituano: a Gaia é sócia do clube de futebol desde 2017 (Divulgação/Divulgação)

Em uma das práticas de convivência da Gaia, ele pediu aos funcionários que escrevessem três sonhos. Ele próprio desejou, por exemplo, voltar a praticar um esporte, a natação, e passar mais tempo com as filhas, Biazinha, de 5 anos, e Lelê, de 2, e a esposa, Carol. Ao ler os papéis de sua equipe, percebeu um desejo comum entre muitos: ir à Disney. Estabeleceu uma meta geral e prometeu: caso o objetivo seja cumprido, vão todos para Orlando em fevereiro por conta da Gaia. “Tem horas que esqueço que não estou no acampamento e transformo tudo numa gincana, mas fico muito feliz de vê-los empenhados.”

A recíproca é verdadeira, e todo o time entra no espírito da brincadeira, inclusive pregando peças ao estilo 1º de Abril. “Já cheguei a dizer que, se as pessoas estiverem felizes, uma empresa vai lucrar mais.  Mas agora eu penso: se não for para fazer as pessoas felizes, incluindo seus próprios funcionários, por que uma empresa vai existir?” Se o encontro  com o Mickey e a Minnie rolar no começo de 2019, é sinal de que o expediente da gratidão deu certo mais uma vez.

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