Galeria dos Pães: receita lucrativa
Padaria atrai de baladeiros a executivos e fatura aproximadamente 1,5 milhão de reais por mês
Seja em dia santo, Carnaval ou final de Copa do Mundo, a Galeria dos Pães não fechou as portas uma vez sequer desde sua inauguração, em julho de 1999. Aberto 24 horas, sete dias por semana, o estabelecimento na Rua Estados Unidos já vendeu cerca de 78 milhões de pãezinhos e serviu por volta de 3,5 milhões de cafezinhos e 2,6 milhões de sucos de laranja. Em média, passam pela casa diariamente 5.000 clientes, que no vai e vem da cidade às vezes se encontram em situações opostas.
Pouco depois das 6 horas da manhã do último dia 10, uma quinta-feira, a estudante de moda Gabriela Zequini chegava direto de uma noite de ferveção na boate Hot Hot, na Bela Vista. Com vestido curto e acompanhada do também estudante Lucas Werneck, resolveu fazer uma escala técnica para repor as energias com um lanche antes de ir para a cama. Na mesa ao lado, em clima totalmente inverso, a produtora Luisa Oliveira alimentava-se com um pão na chapa e um chocolate quente para tomar o caminho do escritório. E sentia uma pontinha de inveja do casal: “Bem que eu preferia fazer parte do pessoal que volta da balada a essa hora”.
Já se tornou uma cena corriqueira nesse horário: os primeiros a pegar o rumo do trabalho encontram os retardatários da noitada, que muitas vezes continua pela manhã adentro. “Já aconteceu de não arrumar nenhuma paquera na balada e acabar arranjando algo por aqui”, conta o empresário Felipe Oliveira, há dez anos frequentador da Galeria após os programas noturnos. No balcão, o engenheiro Rodrigo Dantas, que três vezes por semana toma ali seu café da manhã, diverte-se ao observar os boêmios que o cercam. “É um encontro tranquilo, mas às vezes alguém meio bêbado vem fazer gozação com quem está de terno indo para o batente”, diz.
Situado próximo à esquina com a Rua Haddock Lobo, o endereço é, disparado, o maior do gênero nos Jardins. Segundo o Sindicato dos Industriais de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sindipan), a Galeria é também a segunda maior do estado em faturamento, atrás apenas da Cepam, na Vila Prudente. Estima-se que o valor por mês gire em torno de 1,5 milhão de reais. “Ela é referência para o setor, e vários copiaram o modelo, oferecendo produtos e serviços cada vez mais diversificados”, afirma o presidente do Sindipan, Antero José Pereira. Para manter o negócio em atividade ininterrupta, revezam-se cerca de 400 funcionários. Somente a brigada de padeiros conta com 28 homens, grupo que recebe o auxílio de outras catorze pessoas, seis delas no comando dos 24 fornos da cozinha.
Há cerca de 18.000 itens nas prateleiras, desde álcool em gel para réchaud até bombons trufados suíços. Essa vocação para o comércio de artigos variados está, de certa forma, arraigada no imóvel. Ali, entre 1936 e 1994, funcionou a Mercearia Estados Unidos. Carinhosamente apelidado de supermercado MEU, foi um dos maiores da capital antes da chegada das grandes lojas de varejo. O engenheiro civil Milton Guedes de Oliveira arrematou o ponto em 1994, realizou uma ampla reforma e, no fim da década de 90, reabriu com o nome atual. Acertou em cheio na aposta. “Cliente de padaria é o melhor que existe”, afirma. “Em qualquer casa, todo dia falta alguma coisa que vendemos aqui”, completa ele.
UM DIA NA PADARIA
1.000
quilos de farinha, 30 quilos de sal e 30 quilos de fermento são usados na produção
24
fornos assam a massa a 200 graus
28
padeiros, oito ajudantes e seis forneiros trabalham no processo
18.000
pães saem da cozinha e são vendidos a 8,90 reais o quilo
O CONSUMO DENTRO DA CASA
2.000
pães
1.000
cafezinhos
800
copos de suco