Frota de food trucks cai pela metade após moda
Em sites como OLX e Mercado Livre, há pelo menos 140 veículos do gênero à venda

Não só de roupas e acessórios vivem as modas passageiras. Na capital, é comum ver atrações gastronômicas virar hit para logo depois cair no esquecimento. Nos últimos anos, esse movimento atingiu as paletas mexicanas, os cupcakes, o frozen yogurt… Tanta gente enxerga a oportunidade de lucrar com as tendências que o mercado acaba saturado. Em pouco tempo, o fenômeno esfria e segue apenas com alguns sobreviventes.
Os food trucks enguiçaram nessa mesma montanha-russa. Caminhõezinhos, vans e Kombis tomaram as ruas a partir de 2014. Variado, seu cardápio inclui massa, comida mexicana e cerveja artesanal, entre outras coisas. O negócio configura uma variação das tradicionais carrocinhas de cachorro-quente, com pegada gourmet e preços quase sempre mais salgados.
Passado o frisson inicial da novidade e com tantos concorrentes na praça, os administradores do ramo resolveram pisar no freio. De acordo com um levantamento do Sebrae-SP, circulavam em São Paulo, em 2015, cerca de 300 veículos do tipo. O Guia Food Trucks, de Osvane Mendes, chegou a ter registrados em sua plataforma nesse mesmo ano 400 automóveis.
Apesar da diferença entre os números, ambas as fontes apontam que a frota caiu pela metade. “Muita gente costuma perder dinheiro com essas modas por causa da oferta excessiva e da falta de experiência de alguns empresários”, avalia a consultora Karyna Muniz, do Sebrae-SP. Em sites como OLX e Mercado Livre, há pelo menos 140 veículos do gênero à venda, por valores a partir de 12 000 reais, 40% menos do que o produto valeria caso o mercado estivesse em alta.
Entre aqueles que amargaram prejuízos, aparece o chef Rafael Coutinho, de 29 anos, com passagem por restaurantes como o D.O.M. Em 2014, ele pôs o pé na estrada e investiu na venda de pratos caprichados por até 30 reais. O sonho durou apenas um ano e três meses. “Parte dos clientes queria mais conforto, preferia sentar-se embaixo do ar-condicionado para almoçar”, analisa.

Ainda na ativa, Gustavo Geigner, de 33 anos, trocou no começo do ano sua Kombi por um veículo de 90 000 reais. As vendas de seus lanches despencaram, e lhe restou uma dívida no banco. “Estou tentando vender o carro”, lamenta o rapaz, que nos tempos áureos faturava 40 000 reais por mês. Muitos dos chamados food parks, espaços que concentram diversos veículos, também sumiram do mapa.
O Marechal, em Santa Cecília, durou seis meses e acabou no fim de 2015. O PikNik Faria Lima resistiu cerca de um ano e fechou em 2016. Desde janeiro, contabilizaram-se as baixas das feirinhas da Praça Oswaldo Cruz, nos arredores da Paulista, e da Rua Gaivota, em Moema. Ambas perderam a autorização da prefeitura para operar. A administração municipal diz que está reestruturando as regras para a ocupação desses locais.
No Calçadão Urbanoide, no Baixo Augusta, resistem 27 negócios, entre automóveis e barraquinhas. Em dois anos, o público dali caiu de 6 000 para 3 000 pessoas por fim de semana. O food park Panela na Rua, em Pinheiros, que funciona apenas uma vez na semana, adaptou-se aos novos tempos: cortou pela metade a quantidade de expositores, após ver o número de frequentadores ret rairse de 6 000 para 1 500 pessoas aos domingos, e segue lucrando.
Antes Butantan Food Park, o Vila Butantan tem agora os negócios itinerantes como minoria. Reinventou-se com lojinhas e restaurantes instalados em contêineres. Muitos donos de veículos desviaram as atenções também para eventos e ações corporativas. Responsável há quatro anos pelo pioneiro Buzina Food Truck, Márcio Silva pretende expandir o negócio. “Adaptamos o cardápio para manter preços justos”, conta.
Com dois carros, a marca deve inaugurar neste semestre uma hamburgueria em Pinheiros. Também entrou na onda de migração para pontos fixos o La Peruana Cevichería, campeão da categoria “food trucks” no especial VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER de 2015. “O caminhão foi uma porta de entrada para o restaurante”, afirma a chef Marisabel Woodman, que recebe 700 clientes por fim de semana em um pequeno salão nos Jardins.
O QUITUTE DA VEZ
Algumas modas gastronômicas recentes na cidade
Temaki
Lojas dedicadas ao cone oriental viraram hit em 2008
Cupcake
O bolinho confeitado foi sucesso em 2009
Frozen yogurt
O iogurte gelado bombou em 2010
Brigadeiro
O docinho, em versões diferentes, marcou 2012 com as brigaderias
Paleta mexicana
O picolé brilhou em 2014 e foi para a geladeira um ano depois