Festas LGBTQIAP+ onde sexo é permitido são suspensas devido à monkeypox
Organizadores lutam contra título de “peste gay”
Quarenta anos depois da epidemia de HIV/aids, homens gays e bissexuais estão lutando contra um novo estigma: o da monkeypox. Diferentemente do vírus de 1980, a varíola dos macacos, também chamada de varíola símia, não é uma IST (infecção sexualmente transmissível).
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Sua transmissão ocorre por vias respiratórias ou pelo contato direto com a lesão na pele de uma pessoa infectada e, por isso, há casos de gestantes e bebês contaminados.
Porém a doença vem se disseminando mais rapidamente entre gays e bissexuais, o que fez o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, pedir a “homens que fazem sexo com homens” que diminuíssem o número de parceiros e relações sexuais como medida para tentar conter o surto mundial.
Em São Paulo, onde se concentra mais da metade dos infectados no Brasil — terceiro país do mundo com mais casos —, já há um movimento de suspensão voluntária de festas LGBTQIAP+ liberais, onde as relações sexuais não são reprimidas.
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“Estamos fazendo a nossa parte, ainda que pequena, porque esse é um problema de saúde pública que afeta todo mundo, mas tem afetado mais diretamente a nossa comunidade”, afirma Rafael Maia, criador da festa Kevin. O empresário e jornalista conta que tomou essa iniciativa diante do aumento de casos e da preocupação dos próprios frequentadores.
A Dando teve de adiar uma edição em 6 de agosto após receber recomendações de cancelamento de infectologistas. “Carregando esse estigma e obedecendo a ciência, estamos sem clima para festa”, disse a organização, em comunicado na data.
“Devemos enquanto ‘festa’ e sociedade civil trabalhar juntos em um planejamento para a redução de danos.” Ambas as festas não têm previsão de retorno até a chegada das vacinas — cujo primeiro lote está previsto para setembro.
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A prefeitura de São Paulo não proibiu a realização de eventos do tipo, apenas divulgou, no fim de agosto, um pacote de medidas de prevenção e controle que indica a intensificação da limpeza e desinfecção de espaços como motéis.
A Secretaria Municipal de Saúde se reuniu com empresários do setor para orientá-los sobre os protocolos e, à VEJA SÃO PAULO, disse que as recomendações valem “para todas as situações e locais”.
“Proibir seria uma loucura, pois reforçaria o estigma sem bons resultados na contenção do vírus”, explica o infectologista Rico Vasconcelos, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Se as pessoas não se encontrarem nas festas, vão se encontrar em outro lugar.”
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Mesmo com a predominância de homens gays e bissexuais, o profissional, que é referência nos estudos sobre HIV, comenta que a doença não deve ser associada somente a essa população.
“Nós já vimos na história como chamar uma doença de ‘peste gay’ pode ser catastrófico, tanto pelo eco negativo ao grupo quanto pela falsa sensação de segurança aos heterossexuais”, acrescenta, referindo-se à epidemia de aids.
Enquanto não há vacina nem medicamentos para a varíola dos macacos, as medidas que podem ser adotadas são comportamentais e preventivas. Ao notar uma lesão ou constatar febre, gânglios doloridos ou dor de garganta, procure um médico para fazer o teste.
“Não fique vivendo a vida como se nada estivesse acontecendo, pois a curva de casos continua apontando para cima”, conclui Vasconcelos.
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Publicado em VEJA São Paulo de 21 de setembro de 2022, edição nº 2807