Fernanda Montenegro: ‘A plateia é o grande diferencial da cidade’
A atriz relembra sua chegada a São Paulo
Fernanda Montenegro, atriz
Chegou em: 1954
Natural de: Rio De Janeiro (RJ)
“Quando o Fernando Torres (marido da atriz, morto em 2008) e eu nos mudamos do Rio de Janeiro para cá, a cidade estava cheia de uma energia especial por causa das comemorações do quarto centenário, da inauguração do Parque do Ibirapuera e do início das atividades da Bienal. Isso tudo, evidentemente, se refletiu nas companhias de teatro. Quem chegava sentia que havia algo acontecendo, que a engrenagem estava em movimento. Foi nesse cenário de efervescência cultural que amadureci como atriz. Passei pelos grupos Companhia dos Artistas Unidos, Companhia Maria Della Costa e Teatro Brasileiro de Comédia. Minha patota era composta de Antunes Filho, Manoel Carlos, Cyro del Nero e Flávio Rangel. Passávamos noites em claro, muitas delas batendo o queixo de frio, na Praça da República, discutindo os textos de Dostoievski, Balzac e Cecília Meireles. Invariavelmente, íamos ao Bixiga comer alguma coisa. Fazíamos tudo a pé e por isso alugávamos apartamentos no centro. Naquela época, moramos nas ruas Rocha, Jaceguai e Major Diogo. Foram cinco anos maravilhosos. Depois disso, voltamos para o Rio. Quando cheguei lá, descobri que a plateia de São Paulo é o grande diferencial da cidade: é participante, interessada, diversificada e calorosa. Aliás, o calor do público paulistano me conforta bastante. No fim dos espetáculos eu tinha — e ainda tenho — vontade de gritar ‘Bravo!’.”