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Familiares de jovens brasileiras suspeitam de tráfico humano nos EUA

Familiares de Letícia Alvarenga e Desirre Freitas acusam coach de coagir meninas; Ministério das Relações Exteriores investiga o caso

Por Hyndara Freitas
18 out 2022, 18h56
Desirre Freitas e Letícia Alvarenga
Desirre Freitas e Letícia Alvarenga. (Instagram/Reprodução)
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Familiares de duas jovens brasileiras que estão nos Estados Unidos acreditam que elas foram vítimas de tráfico humano e são vítimas de uma seita, em uma história que envolve uma coach influenciadora e trocas de acusações nas redes sociais. Desirre Freitas é natural de São Paulo e tem 26 anos, e Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, é de Perdões, Minas Gerais.

A localização das duas é desconhecida, e familiares afirmam que elas sumiram após se relacionarem com a influenciadora e coach Kat Torres, que mora nos EUA e se identifica como “bruxa”, promete curar problemas de saúde e diz que ouve vozes e fala com alienígenas. Kat apagou suas páginas nas redes sociais e não foi localizada para comentar as acusações.

O caso já chegou ao conhecimento do Ministério das Relações Exteriores, que afirmou que, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Houston, está em “contato estreito” com autoridades policiais dos Estados Unidos que investigam o caso, e que permanece à disposição para prestar a assistência cabível às jovens e suas famílias. Os familiares já fizeram denúncia de tráfico humano às autoridades brasileiras e americanas.

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Desirre saiu do Brasil há cinco anos para morar na Alemanha até que, em setembro, amigos dela notaram que ela não respondia mais mensagens, bloqueou contatos e apagou suas páginas nas redes sociais e ninguém sabia onde estava. Por isso, criaram a página Searching Desirre. O contato com a família no Brasil já vinha diminuindo desde o início do ano. Com o seu suposto desaparecimento, amigos começaram a descobrir que ela era uma “seguidora fiel” de Kat, que sempre fazia consultas com a coach, a quem se referia como “bruxa”. Em determinado momento, a própria Kat entrou em contato com o perfil Searchin Desirre e pediu que ele “parasse de perseguir a menina [Desirre]”. Até então, a jovem seguia sem aparecer.

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No dia 19 de setembro, Desirre fez um novo perfil do Instagram e publicou um vídeo no qual diz: “Eu estou gravando esse vídeo para parar essa putaria, eu já mandei vídeo para vocês falando que eu não tô desaparecida, que eu parei de falar com quem eu parei porque eu quis, se eu quisesse falar com vocês eu tava falando, agora inventar esse fuzuê todo, falar que estou desaparecida, essa perseguição, eu tô indignada com essa perseguição contra mim”. Conhecidos e amigos relataram que, no WhatsApp, ela começou a falar de forma “estranha”, como se não fosse ela digitando, e que ela não mandou áudios, como costumava fazer sempre. Agora, os amigos não sabem se ela segue na Alemanha ou se está nos Estados Unidos.

Com a repercussão do caso de Desirre nas redes sociais, a família de Letícia começou a se mobilizar e contou uma história parecida: que a jovem teria parado de falar com a família e os amigos após se aproximar de Kat. Os pais da jovem já acionaram autoridades no Brasil e nos Estados Unidos para investigar o que ocorreu e seguem esperando por notícias.

Na semana passada, fotos de Letícia e Desirre foram vistas em sites de prostituição dos EUA, mas depois as imagens foram deletadas.

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Nos últimos dias, Letícia publicou diversos vídeos e fotos no Instagram e fez até uma live desmentindo que esteja desaparecida, que tenha sido alvo de tráfico humano ou que Kat tenha lhe feito alguma maldade. Os seguidores e familiares afirmam que ela está sendo coagida. Nesta terça-feira (18), porém, ela fez um novo vídeo, com falas desconexas e semblante preocupado, no qual diz que está em um cativeiro, pede ajuda e diz que Desirre está em perigo.

“Gente, eu quero a ajuda de vocês. Eu estou tentando falar e vocês não estão acreditando. Por favor, a Desirre está em perigo, eu consegui sair do cativeiro, mas a Desirre ainda está lá. Eu vou tentar salvar ela”, afirma. No vídeo, ela ainda cita a modelo Yasmin Brunet, a quem acusa de comandar um esquema de prostituição.

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Em seu Instagram, Yasmin disse que já acionou seus advogados e que entrou na história a fim de ajudar, mas que foi criada uma “confusão”. “Entrei nessa história buscando ajudar, mas agora vendo essa confusão que estão fazendo, entendi que buscam apenas atenção. Só que fazer isso envolvendo um assunto tão importante é chocante. Tráfico humano é um assunto grave, não é para brincar ou ganhar fama em cima. Quanto mais a gente banaliza, mais essas vítimas se tornam invisíveis, parte de um senso ficcional, sendo que esse mercado horrível existe, movimenta muito dinheiro em cima dos corpos das mulheres. Tráfico humano não é fanfic. É assunto sério e urgente”, escreveu.

O primo de Desirre, Luan Freitas, disse à Vejinha que estranhou o vídeo em que ela pede para que os amigos e familiares deixem de persegui-la. “Pelo que eu conheço da Desirre, naqueles vídeos onde ela pede para o pessoal parar de perseguir ela, aquilo não é a Desirre que eu conheço. Uma pessoa completamente diferente, sem expressão nenhuma. A Desirre, não usa esse tipo de linguagem naturalmente, tem carisma e é sorridente”, afirmou.

“A Kat dizia que iria deixar ela milionária”

Elenize Alvarenga, mãe de Letícia, disse à Vejinha que sua filha fazia consultas com Kat há anos, pela internet, até que em maio de 2019, viajou para os Estados Unidos por meio de um programa de au pair – em que a pessoa trabalha de babá para uma família americana em troca de um salário, moradia e alimentação – já influenciada por Kat, que prometia uma oferta de emprego com ganhos milionários.

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“Desde as consultas, a Kat foi manipulando ela, começou daí. Falava que ela não podia ouvir a família, que a família queria o mal dela, que a mãe tinha inveja. E incentivou ela a ir para os Estados Unidos, falou que era mais fácil ela ir pelo programa de au pair, ela chegaria lá, trabalharia um tempo como babá e depois abandonaria o programa para poder ficar com ela. A Kat dizia que iria deixar ela famosa, milionária”, relatou a mãe à Vejinha. Inicialmente, a jovem foi para o Texas, mas depois se mudou para Mount Vernon, no estado de Nova York, pelo programa de au pair. No ano passado, abandonou o trabalho e foi viver com Kat.

“A Kat a chamou para trabalhar como assistente. Levou ela para uns hotéis chiques, prometeu que ia ajudar a Letícia a ficar milionária, lá que elas duas juntas iriam construir um hotel com spa, e a Letícia começou a pedir dinheiro para esse hotel. E aí nós falamos que não, que nós não tínhamos dinheiro para investir lá. Depois, ela falou para a Letícia pedir dinheiro para investir na Bolsa de Valores, também falamos que não tínhamos. A gente alertava, mas não adiantava, ela só via a Kat na vida dela”, relembra Elenize.

Com o passar dos meses, Kat publicava vídeos de Letícia nos quais, segundo a mãe, ela aparecia “totalmente descontrolada” e “diferente”. As conversas no WhatsApp com a filha começaram a ficar mais estranhas, não houve contatos por vídeo ou áudios, somente por textos e mais recentemente, fotos da filha foram vistas em um site de prostituição. “Eu andei mandando umas mensagens para ela falando oi, falando do cachorrinho dela, que ela era apaixonada pelo cachorrinho, mas ela nem visualizou”, diz. Ela afirma que, pelos vídeos que a filha tem postado no Instagram, é possível perceber “que ela não está normal”.

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