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Paulistanos de alguns bairros reclamam de falta de água

Com a redução da pressão nos canos em 75%, moradores e comerciantes afirmam que falta água à noite

Por Silas Colombo
Atualizado em 17 Maio 2024, 10h58 - Publicado em 9 ago 2014, 00h00
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água1 (Lucas Lima/)
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O nível de água no Sistema Cantareira, que abastece 61% dos paulistanos, sofreu mais uma queda e atingiu o preocupante índice de 14,7% de sua reserva (o chamado volume morto) na última terça (5). A situação torna-se mais drástica porque a próxima temporada de chuvas, inicialmente prevista para outubro, só deve chegar em novembro — a estiagem recente é a maior das últimas cinco décadas, segundo estudo da USP.

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Em um panorama tão árido, alguns paulistanos desconfiam da promessa do governo do estado de que não haverá racionamento. Em abril, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) reduziu a pressão da água nos encanamentos em 75% entre zero e 5 horas para minimizar o desperdício com vazamentos, da ordem de 205 milhões de litros por dia. “É uma ação de economia para adequar a rede à nova realidade”, diz o engenheiro Marco Antonio Lopez Barros, superintendente de produção do órgão. A medida fez a capacidade de captação da empresa despencar 27% nesse período, ou 8 500 litros a menos por segundo, volume que seria suficiente para prover 250 000 pessoas por um mês. O resultado prático: a queda na força e na quantidade levou o líquido a desaparecer das torneiras em centenas de residências da capital, sobretudo naquelas mais afastadas dos reservatórios dos bairros ou em regiões elevadas — a Sabesp diz que não consegue quantificar esse número, o que demandaria um mapeamento minucioso rua a rua.

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Para especialistas, trata-se de um racionamento velado: o que acontece hoje é o mesmo que deixar alguns consumidores sem água por 35 horas em uma semana, o correspondente a um dia e meio de seca. “Se diminuiu a quantidade de água que sai do reservatório, não há outra palavra para definir o que está sendo feito”, afirma o professor Antonio Carlos Zuffo, chefe do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp.

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As mudanças coincidem com o aumento das reclamações contra cortes prolongados, e não informados, justamente no período noturno, em diferentes zonas da capital. Desde o fim de junho, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) tem coletado relatos de interrupção no fornecimento. Em pouco mais de um mês, houve 543 reclamações de consumidores, uma média de catorze por dia, número ainda ínfimo se considerado o tamanho da população. Destes, 74% afirmam que a tubulação fica seca durante a noite todos os dias. “O governo deveria ao menos avisar quando vai fechar a água, para que o cidadão possa se planejar”, afirma o gerente técnico da entidade, Carlos Thadeu de Oliveira.

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Uma de cada quatro dessas queixas vem da Freguesia do Ó, na Zona Norte. Por lá, o problema tira o sono de moradores há dois meses, especialmente em onze ruas e três condomínios de prédios. “Depois das 22 horas, só sai ar dos canos”, diz o empresário Roney Gouveia, que mora em uma casa na Rua Capitão José Amaral. O remanejamento no abastecimento de alguns bairros — do Sistema Cantareira para o Guarapiranga e o Alto Tietê — também está enxugando as torneiras na Praça Roosevelt, no centro.“Não tenho como lavar a maquiagem após as peças, e a plateia não consegue usar o banheiro”, conta o ator Hugo Godinho, que se apresenta em teatros dali.

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Lançado no começo do ano, o site Faltou Água (www.faltouagua.com) transformou-se em uma espécie de rede social da seca. Reúne mais de 15 000 usuários, com cerca de vinte novos depoimentos por dia. Em julho, 76% dos clientes da Sabesp reduziram o uso de água e economizaram 1 900 litros por segundo.

 

Na esteira da prática consciente, alguns negócios tiveram prejuízo. “É meu pior movimento dos últimos dez anos”, lamenta o empresário Marco Gambin, dono do lava-rápido Bel Park, nas Perdizes.Por lá, a média de 1 400 carros limpos por mês caiu pela metade. Esse não é o único setor atingido. Uma pesquisa produzida em maio com 413 associados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostrou que a preocupação com o impacto econômico de um racionamento aflige 68% dos empresários. Segundo a entidade, a Agência Nacional de Águas (ANA) alega falta de recursos de abastecimento para negar autorizações a novas empresas: desde janeiro, nenhuma foi concedida no estado. “Se o fornecimento é irregular, a indústria naturalmente diminui sua produção”, diz o diretor do departamento de meio ambiente da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis.

Em meio à crise, a Câmara Municipal aprovou na quarta (6) a abertura de uma CPI para investigar a Sabesp. “O contrato não está sendo cumprido”, diz o vereador Laércio Benko (PHS), autor do requerimento. A base aliada ao governo estadual reagiu. “É uma clara ação eleitoreira”, rebate overeador Floriano Pesaro (PSDB).

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Tempos áridos

Os principais percalços do consumidor durante a crise hídrica

– Quando o fornecimento é interrompido por algumas horas, a tubulação pode se encher de ar e impedir o escoamento da água: recomenda-se deixar as torneiras e o chuveiro abertos por alguns minutos

– No momento em que a vazão normal retorna aos canos, o ar comprimido forma bolhas, que dão coloração branca (e estranha) à água — no entanto, ela continua potável

– Com a volta da pressão, o atrito no interior de encanamentos enferrujados pode deixar o líquido com uma cor amarelada; o ideal é que ele escorra até que retorne ao aspecto incolor para ser consumido

– O ar que escapa pelas torneiras pode manter o hidrômetro girando; existem no mercado vários modelos de bloqueador que evitam isso

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