Ex-jogador Neto arruma brigas e faz barulho como comentarista
Estrela do programa "Papo de Craque", da Rádio Transamérica, ele fala o que lhe dá na telha
Grande ídolo do Corinthians no início da década de 90, o ex-jogador Neto, de 44 anos, entra vagarosamente em um dos estúdios da Rádio Transamérica, onde é a estrela do programa “Papo de Craque”, no ar de segunda a sexta, a partir das 18 horas. De tênis sem meias, bermuda de tactel, camiseta e jaqueta do Barcelona, movimenta seu corpanzil de cerca de 100 quilos com certa dificuldade (ele realizou uma cirurgia de redução de estômago em março, quando pesava 10 quilos a mais, e parece ainda não ter se recuperado completamente). Cumprimenta os colegas da emissora e acerta detalhes de compromissos futuros. Suas falas, sempre em alto volume e cravejadas de erres acaipirados, terminam quase sempre com um palavrão.
Assim que o programa vai ao ar, ele é instado a opinar sobre uma das notícias do dia: a nomeação do treinador Zagallo para embaixador do Botafogo no Oriente Médio. Suas palavras deixam todos ali boquiabertos: “Eu quero que esse técnico morra”. O negócio é sério? Claro que não. Convertido a comentarista esportivo há doze anos, Neto desenvolveu uma metodologia de trabalho que pode ser definida da seguinte maneira: fala o que lhe dá na telha para polemizar. “Digo o que penso e pronto”, assume. “Não fico em cima do muro como a maioria dos meus colegas.”
Com passagens pela Record, Rede- TV! e Band, onde ingressou na profissão e hoje participa dos programas “Jogo Aberto”, “SP Acontece” e “Terceiro Tempo”, além de comentar jogos de campeonatos como o Brasileiro, que começa neste sábado (21), Neto transformou-se em um profissional com bastante visibilidade. Seus pitacos ao vivo, em uma coluna no tabloide “Marca Brasil”, em blogs ou no Twitter — que alimenta através de um iPhone, do qual nunca desgruda — costumam repercutir em jornais e programas de televisão.
Aconteceu no mês passado, quando o humorístico “Pânico na TV”, da RedeTV!, veiculou entrevistas com Neto e Tiago Leifert, apresentador do Globo Esporte, sobre as farpas trocadas entre ambos recentemente. Resumo do entrevero: o primeiro antecipou a possível contratação do holandês Seedorf, astro do Milan, pelo Corinthians, e o global afirmou em seu programa tratar-se apenas de boato. “O sucesso subiu à cabeça, Tiago Leifert?”, repetiu Neto nos dias seguintes, feliz com a confirmação da notícia: o craque estrangeiro admitiu a negociação com o Timão.
Neto também espezinhou Ronaldo Fenômeno quando este declarou em fevereiro jogar somente por amor. “Então abra mão do 1,5 milhão de reais que ganha por mês”, provocou. O estilo “caneladas ao microfone” não agrada a todos. Numa enquete recente do site UOL, Neto foi apontado como o pior comentarista esportivo do país, com 140.000 votos. “Gostem ou não, ele é a maior estrela do momento nessa área”, defende Milton Neves, seu colega no “Terceiro Tempo”.
Natural de Santo Antônio de Posse, cidade a 140 quilômetros da capital, José Ferreira Neto estreou no futebol no Guarani, de Campinas, aos 15 anos. Talento nunca lhe faltou — tanto para jogar como para se meter em discussões. Exímio cobrador de faltas com sua canhota venenosa e capaz de executar passes perfeitos, passou também pelo Bangu, São Paulo e Palmeiras antes de defender a camisa do Corinthians, em 1989.
No ano seguinte, quando nove dos 23 gols marcados pelo clube no Campeonato Brasileiro saíram de seus pés, começou a ser venerado pela Fiel. Mas também ganhou a fama de encrenqueiro e indisciplinado. Isso bastou para que Sebastião Lazaroni, então técnico da seleção brasileira, não o convocasse para a Copa da Itália. “Se eu tivesse sido chamado, teríamos vencido o Mundial”, diz, sem a menor modéstia.
Ao contrário dos outros craques da sua geração, Neto nunca recebeu uma boa proposta para atuar no exterior. Em 1991, ao ser expulso de uma partida contra o Palmeiras, cuspiu no árbitro José Aparecido de Oliveira. “Eu me arrependo disso até hoje”, conta. Despreocupado com a forma física, bebia, fumava e não escondia isso de ninguém. “Tinha uma vida tão louca que, às vezes, passava uma semana na farra, sem voltar para casa.” Em razão desse histórico, não deixa de ser curioso vê-lo cobrar dos atletas da atualidade uma postura profissional.
Aposentado dos gramados em 1998, Neto afirma hoje ter uma vida muito mais regrada. Atribui essa mudança ao nascimento dos filhos Luisa, de 10 anos, e Gustavo, de 5, frutos de seu segundo casamento, com a agente de turismo Fernanda Ferreira, de 38 anos (o primeiro foi com uma analista de sistemas que, segundo ele, levou metade de seu patrimônio no divórcio).
Considerando apenas o aspecto financeiro, atualmente é mais bem-sucedido que na época de jogador. Estima-se que seu faturamento — no início, de 400 reais por partida de futebol — gire em torno de 50.000 reais mensais, mais que o dobro do maior salário recebido por ele no auge de seus tempos nos gramados. Neto não confirma o valor. “Poucos brasileiros ganham tanto quanto eu”, limita-se a dizer, com um sorriso de um canto ao outro do rosto, antes de disparar mais um palavrão.
BATEU, LEVOU
Algumas das discussões provocadas pelos comentários do antigo craque
Tiago Leifert
No início de abril, durante o programa Jogo Aberto, da Band, Neto antecipou a possível contratação pelo Corinthians do holandês Seedorf, astro do Milan. No mesmo dia, Tiago Leifert, âncora do Globo Esporte, afirmou no ar que a informação não passava de boato. “O sucesso subiu à cabeça, Tiago Leifert?”, bradou Neto nos dias seguintes, irado com o comentário do global. “Ele tentou diminuir o meu trabalho”, diz.
Ronaldo Fenômeno
Em fevereiro, pouco antes de se aposentar, Ronaldo escreveu em seu Twitter: “Jogo somente por amor”. A frase rendeu a seguinte provocação de Neto, postada no mesmo site: “Então abra mão do 1,5 milhão de reais que ganha por mês”. O Fenômeno rebateu: “Não vou responder a ex-jogador aproveitador”.
Marcos
Dois meses atrás, em meio uma má fase de seu time, o Palmeiras, o goleiro Marcos anunciou a intenção de se aposentar. “Estou de saco cheio dele. É igual a criança: toda vez que perde, diz que vai parar”, vociferou Neto diante das câmeras. A resposta de Marcos veio na mesma temperatura: “O microfone é para quem tem ética, não para quem quer ficar jogando contra os outros. Ele não é meu amigo”.