“R&J de Shakespeare” traz provocativa releitura de “Romeu e Julieta”
Espetáculo se inspira na tragédia romântica do fim do século XVI
Mexer em ícones do teatro, mesmo disfarçados de adaptação, é uma atitude corajosa. Não vão faltar comparações e cobranças. Sobretudo se estivermos falando de William Shakespeare e de uma de suas obras mais populares, “Romeu e Julieta”. O americano Joe Calarco desconstruiu a tragédia romântica do fim do século XVI e escreveu em 1997 o drama “R&J de Shakespeare — Juventude Interrompida”. Já montado por aqui pelo diretor Zé Henrique de Paula em 2006, o texto ganhou uma nova versão no Rio de Janeiro, agora em cartaz no Sesc Belenzinho. A releitura do clássico do bardo inglês, protagonizada por quatro atores, prova ser impossível ficar indiferente diante de tanta ousadia. Principalmente o diretor, João Fonseca, que realiza o melhor trabalho de uma carreira profícua e sacode o próprio estilo, um tanto conservador.
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A trama se passa num colégio para rapazes, onde quatro estudantes (os atores Felipe Lima, João Gabriel Vasconcellos, Pablo Sanábio e Rodrigo Pandolfo) começam a encenar Romeu e Julieta como válvula de escape. Cansados da rígida disciplina e das fórmulas matemáticas, aos poucos, eles mergulham no texto e fazem paralelos com suas vidas. Em um ritmo quase frenético, a direção tira proveito da metalinguagem e, sutilmente, oferece múltiplos desafios ao elenco. Cada um se divide em, pelo menos, três personagens. Rodrigo Pandolfo, na pele de Julieta, confirma-se um promissor talento e cativa o público sem cair na caricatura. Felipe Lima e Pablo Sanábio dosam bem as transformações e funcionam como bússola para guiar o espectador pela peça e pela “peça dentro da peça”. Apoiado no potencial de galã, João Gabriel Vasconcellos desenvolve um Romeu correto, embora não abrace as possibilidades com a mesma intensidade dos colegas.
AVALIAÇÃO ✪✪✪✪