Musical ‘Nara’ homenageia musa da bossa nova
De forma delicada, o espetáculo com a atriz Fernanda Couto retrata arte de Nara Leão
Clarice Lispector, Simone de Beauvoir, Hilda Hilst e Ana Cristina Cesar são as figuras femininas recentemente retratadas nos palcos paulistanos. A esse time de personagens reais — todas escritoras e de personalidade complexa — se junta outra mulher, desta vez uma cantora tímida e discreta. Interpretada com competência por Fernanda Couto, Nara Leão (1942-1989) é tema do musical ‘Nara’, escrito pela protagonista e pelo diretor cênico Márcio Araújo. No palco também estão os atores Rogério Romera, Sílvio Venosa e Rodrigo Sanches. Eles se revezam, um tanto irregulares, na pele dos compositores Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Chico Buarque, entre outros, sob a direção musical de Pedro Paulo Bogossian.
Em três décadas, a cantora popularizou-se como musa da bossa nova, gravou samba, tropicalistas e versões de clássicos americanos. A montagem reafirma a pluralidade e estabelece um olhar distanciado que acaba aproximando o público. Fernanda não imita a biografada. Convence pela delicadeza e pela voz macia; volta e meia recorre à terceira pessoa para falar de Nara. Rápidas pinceladas lançam luz a respeito de sua intimidade. Os namoros, o casamento, a separação do cineasta Cacá Diegues e a descoberta do tumor que a levou à morte são tópicos informativos. A direção encontra boas soluções para costurar a narrativa e músicas como ‘Insensatez’, ‘Opinião’ e ‘A Banda’. Inexplicável só o número no qual Fernanda e Rodrigo Sanches interpretam ‘João e Maria’, em um recorte caricato e bem longe de Nara e mais ainda de Chico Buarque.
AVALIAÇÃO ✪✪✪