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Entenda o projeto de lei que permite criação de “Times Square paulistana”

Proposta de mudança da Lei Cidade Limpa gera controvérsia entre associações

Por Luana Machado
8 ago 2025, 08h00
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Cartão-postal: cruzamento entre São João e Ipiranga está no centro do debate (Edson Lopes Jr/ Secom/Divulgação)
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Há dezoito anos, quem cruzasse a Rua Treze de Maio ou a Marginal Pinheiros estaria cercado de anúncios em plotagens, lambe-lambes, outdoors em semáforos e até nas fachadas de comércios e prédios. “Foi uma luta para aprovar a Lei Cidade Limpa em 2006. A capital estava encoberta, um horror”, lembra Edison Farah, presidente da Associação Viva o Centro, que integrou na época a campanha “Amo São Paulo. Quero minha Cidade Limpa”, em prol da aprovação da Lei 14.223 pela Câmara Municipal. A medida cria uma série de normas para coibir a poluição visual, como a proibição de anúncios em logradouros públicos, com exceção dos que celebram parcerias público-privadas, em árvores, obras de arte públicas, faixas e placas de sinalização de trânsito.

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Poluição: Marginal Pinheiros antes da Lei Cidade Limpa (Mário Rodrigues/Veja SP)

Quase duas décadas depois, os vereadores da capital aprovaram em primeira votação um projeto de lei que busca modernizar o dispositivo que regula a publicidade para gerar receita. Proposto em 2023 pelo vereador Rubens Nunes (União Brasil) — que enfrenta um processo de cassação na Justiça Eleitoral pela acusação de uso indevido de meio de comunicação social —, o PL visa a permitir a instalação de painéis publicitários luminosos sob diretrizes como não comprometer 30% da visibilidade de bens culturais e limites de área para imóveis públicos ou privados. “Não quero rever a Lei Cidade Limpa, mas criar um centro de publicidade, algo que se tornou popularmente conhecido como ‘Times Square’. Seria uma ‘Times Square’ paulistana. Para isso, é preciso uma pequena alteração para delimitar essa área especial composta exclusivamente por painéis de LED”, afirma o vereador.

Inicialmente, o projeto sugeria uma modificação mais ampla, o que foi alterado durante a tramitação e as tratativas com associações e entidades. Agora, quatro locais figuram como os mais cotados para receber a mudança: o cruzamento da Avenida Ipiranga com a São João, a Rua Santa Ifigênia, o Largo da Batata e a Avenida Paulista.

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP) reagiu publicando, em junho, um manifesto contrário ao projeto com ilustrações em inteligência artificial mostrando possíveis efeitos. Representante do IAB na Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), que atua junto à Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) no cumprimento da Cidade Limpa, Claudia Muniz indica que o órgão já recebeu várias propostas para instalação de painéis luminosos em edificações. “Quando a lei foi elaborada, os dispositivos não eram recursos utilizados pelos estabelecimentos. Uma atualização pode e deve ser feita, mas não de forma desenfreada. Primeiro, temos que conhecê-los em termos de preço, variação de luminosidade e de imagens, dimensões e carga de energia”, pondera a arquiteta, que cita a necessidade de um plano de ordenamento da paisagem urbana, algo previsto na diretriz de 2007. Agora, com o avanço do novo PL, a CPPU criou uma subcomissão para analisar os efeitos dessas tecnologias na paisagem urbana.

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Manifesto: IAB ilustra efeitos na paisagem (Google Streetview com uso de IA/ IAB SP/Reprodução)

Apoiador da instalação da “Times Square” na Santa Ifigênia, Charles Resolve, presidente da Associação Geral do Centro de São Paulo (AGC-SP), que reúne empresários e moradores, cita o benefício econômico da medida. “A pandemia, com o crescimento do e-commerce, e a violência derrubaram o centro. Então, a gente recebe com muito entusiasmo, como uma ferramenta para reavivar mesmo. Porém, não concordo com a criação na São João porque é uma parte histórica e tem residências. Mas na Santa Efigênia seria maravilhoso, até por ser um polo tecnológico”, defende.

Outra associação da área, a Pró- Centro, concorda com o argumento da retomada financeira do centro por meio da flexibilização. “Quando aplicada a um perímetro controlado e acompanhada de regras claras, pode representar uma oportunidade concreta de valorização da região central.” Em contrapartida, a entidade Viva o Centro atesta estar radicalmente contra a modificação e que irá recorrer judicialmente em caso de nova aprovação. Ainda sem previsão de data para a segunda votação, o PL deve passar por uma rodada de audiências públicas.

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Publicado em VEJA São Paulo de 8 de agosto de 2025, edição nº 2956

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