Ensaios fotográficos com recém-nascidos ganham adeptos na cidade
Pais contratam fotógrafos profissionais para fazer registro dos filhos com duas semanas de vida
Em meados de setembro, os pais do pequeno Danilo Santana Ribeiro resolveram registrar os doze dias de vida do bebê com um ensaio fotográfico profissional. No local escolhido para fazer as imagens, um estúdio em Alphaville, três aquecedores mantinham a temperatura ambiente entre 28ºC e 30ºC e um aparelho reproduzia o som de batimentos cardíacos, usado para deixar a criança mais confortável, como se ainda estivesse no útero. A representante comercial Patrícia Barbosa Santana e o empresário Christian Ribeiro — que começaram a pesquisar o serviço três meses antes do parto — não contiveram a emoção quando o filho foi ajeitado para a pose pensativa (a criança é deitada de bruços, com o queixo nas mãos). “Fica quietinho, fica”, dizia a mãe. Era o momento mais esperado pelo casal, assim como aquele que representava a chegada da cegonha, que Danilo não chegou a completar por causa de um imprevisto no instante de ser erguido — sujou a manta que o envolvia, acidente que se repetiu outras duas vezes ao longo das três horas e meia de duração do trabalho.
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Nos últimos tempos, outras famílias paulistanas vêm investindo em produções semelhantes. O custo varia de R$ 1.500,00 a R$ 3.000,00, de acordo com a quantidade de cliques e o local escolhido — um estúdio ou em casa. O álbum é cobrado à parte e pode triplicar o valor desembolsado. Uma das profissionais das lentes pioneiras na especialidade, Fernanda de Oliveira Sanchez, do Studio Gaea, começou a captar imagens de filhos de amigas em 2005. Hoje, com o marido, Alexandre Carnieri, atendendo em domicílio ou fazendo locações de espaços em São Paulo, chega a realizar quatro sessões por semana, quatro vezes o que fazia sete anos atrás. “Os recém-nascidos já representam 80% dos nossos clientes”, conta.
Os primeiros a trabalhar com bebês no país tiveram de buscar conhecimento no exterior, onde essa atividade é consagrada há pelo menos duas décadas. A fotógrafa Simone Silvério, dona do estúdio contratado pela família de Danilo, realizou cursos no Canadá e nos Estados Unidos — nesse último país, teve aula com as irmãs Kelley Ryden e Tracy Raver, os principais nomes internacionais da área, ao lado da famosa australiana Anne Geddes. Atualmente, os destaques brasileiros ministram seus próprios workshops, nos quais ensinam a manusear a criança com segurança e a preparar os cenários. São realizadas, em média, sete trocas de roupa e fundos, que incluem mantas, bichos de pelúcia, toucas, caixotes de madeira e, para as meninas, tiaras e saias de bailarina. “Converso com as mães sobre as preferências de cores e modelos, pois os retratos costumam ser usados para compor a decoração do quarto”, diz a fotógrafa Bianca Spirito.
Os resultados são encantadores, mas os especialistas se dividem com relação ao assunto. A psicóloga Rosely Sayão está no time que faz oposição à nova onda. “A sociedade vive um momento de culto à fama e à beleza e talvez os pais não percebam a superexposição à qual submetem as suas crianças”, opina. “Acho isso um claro exagero.” Outros profissionais mostram-se um pouco mais flexíveis. “É importante observar a limpeza do ambiente, a higiene e os materiais usados, que, caso não sejam próprios para recém-nascidos, poderão desencadear alergias”, diz a pediatra Érica Santos, coordenadora da unidade materno-infantil do Hospital Albert Einstein. “Eu não chegaria a proibir meus pacientes de contratar o serviço, desde que com os devidos cuidados. Mas eu não faria.” A relações-públicas Lara Molina, que pagou para fotografarem a filha, Laura, há dois meses, optou por realizar o ensaio em sua própria residência. “Jamais a tiraria de casa para isso”, afirma. Mas nem todos têm esse tipo de precaução. “Muitas vezes a família quer fazer de tudo por uma boa imagem, e os profissionais contratados é que acabam sendo obrigados a estabelecer os limites”, admite a fotógrafa Simone Silvério.