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“O eleitor não vai entender a saída de Geraldo Alckmin”, diz José Aníbal

Uma das principais lideranças do PSDB, substituto de José Serra no Senado diz que vai trabalhar contra a cada vez mais iminente desfiliação do ex-governador

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h42 - Publicado em 27 ago 2021, 06h00
josé aníbal sentado em cadeira em sua sala de jantar. ele está de lado na cadeira, com o braço esquerdo apoiado no suporte da cadeira. ele está sorrindo, usando óculos e camisa azul. na parede ao fundo, há papel de parede beje escuro com detalhes em branco e um quadro colorido
José Aníbal, em seu apartamento em São Paulo: sequência ao trabalho de Serra (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Ex-deputado federal e ex-presidente nacional do PSDB, José Aníbal assume pelos próximos quatro meses o mandato do senador José Serra, que foi diagnosticado com a doença de Parkinson. Membro da velha guarda tucana, o agora senador fala da derrota dele e de várias lideranças do partido nas eleições de 2018, das rusgas que teve com o governador João Doria e da provável saída de Geraldo Alckmin.

Como foi a conversa com o senador José Serra sobre o afastamento dele?

Ele me chamou para conversar, disse que vai adequar o tratamento e que é importante que eu possa substituí-lo neste momento. Ele sabe da minha postura, do meu compromisso com políticas públicas. O mandato é dele, é o gabinete dele, a equipe já me conhece.

O senhor acredita que ele terá condições de reassumir o mandato ao final da licença?

Com certeza voltará. Esse período será bom para ele se recuperar e estar em forma em dezembro.

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A possível saída de Geraldo Alckmin do PSDB poderá levar junto boa parte da velha guarda que sobrou no partido. Ele não tem mais espaço?

A velha guarda não sobra, estamos aí (risos). Se dependesse de mim, ele não sairia. Deveria ficar no PSDB. O Geraldo tem enorme espaço e apreço dentro do partido. Foi quatro vezes governador, duas vezes candidato a presidente, liderou o partido nacionalmente. O PSDB mudou o Brasil com o Plano Real, a quebra dos monopólios, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o fim da inflação. Eu gostaria que o Alckmin continuasse.

Se ele sair e disputar o governo do estado por outro partido, o PSDB deverá lançar o Rodrigo Garcia. O eleitor vai ficar confuso, não?

O eleitorado não vai entender. O importante é que o PSDB tenha a consideração por São Paulo, o desejo de servir, continuar servindo. Estamos no governo desde o Mario Covas, que pegou o estado em situação vergonhosa, pré-falimentar. Não podemos, na disputa política, mesmo interna, pôr a perder isso que foi acumulado. São sete mandatos e 28 anos de história.

Depois de sua derrota nas prévias do PSDB em 2018, o senhor chamou o governador Doria de mentiroso, gestor inepto e incompetente e um político carreirista. Como está a relação de vocês três anos depois?

Eu sou coordenador nacional das prévias do partido. Junto com mais cinco companheiros construímos os critérios para as prévias, que terão a participação de quatro candidatos. Estamos vivendo o processo e em noventa dias teremos as prévias. Esperamos que possamos apresentar não a terceira via, mas a primeira via. Pode ser tanto Eduardo Leite quanto Doria, Tasso Jereissati e Arthur Virgílio.

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Mas e a relação com o Doria, como está?

Nesse período de prévias conversamos várias vezes. A política tem de ter dinamismo. O Ulysses Guimarães falava que mesmo se houvesse um contencioso, um conflito, isso não poderia pautar as relações políticas. É isso.

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Nas últimas eleições para deputado federal, nomes importantes do partido, como Fernando Capez, Floriano Pesaro, João Paulo Papa, Carlos Bezerra Jr. e o senhor, perderam a eleição. O senhor teve 46 000 votos, a metade do último eleito do seu partido. Como estará o PSDB na eleição federal do ano que vem?

Primeiro deixa eu lhe dizer: a campanha começou em junho, não foi trabalhada, foi em cima da hora. Mantive uma posição frontal de questionamento ao Bolsonaro e ao PT. Acompanhei o Alckmin até o fim, pode ver pelos meus materiais de campanha. Da minha boca ninguém ouviu uma palavra de condescendência a Bolsonaro. Sou político com posições e não as submeto a circunstâncias. Foi um momento. E todos esses companheiros que você citou são grandes quadros. O Papa foi um grande prefeito de Santos, o Floriano conhece como ninguém a questão social. Não conseguimos nos eleger, mas isso não nos tirou da política. Olha eu aqui de novo outra vez (risos).

“O Tomas Covas precisa viver a vida dele, cuidar da formação profissional e da juventude. Ele precisa de tempo para se cuidar”

O senhor vai se candidatar a algo no ano que vem? Pode tentar o Senado?

Não pensei nisso. Assumi o mandato há apenas dez dias. Estou concentrado, vendo as matérias. São temas importantes, como a minirreforma trabalhista que a Câmara aprovou, a volta das coligações partidárias e a reforma tributária que não é reforma, é um rearranjo. Não dá para não enxergar o que está acontecendo no Brasil. Fome, desemprego, inflação. O brasileiro está ansioso, preocupado e com medo.

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Quando o senhor fala em ansiedade, a primeira coisa que vem à cabeça são cenas do fim de semana passado, com praias cheias, bares lotados. O fim da quarentena em São Paulo foi precipitado?

Nossos governantes (Doria e Ricardo Nunes) tiveram papel importantíssimo no combate à pandemia. Mas ficam pressionados. Sempre têm uns que querem a abertura. Eles veem uma redução da pandemia e acham que é possível expandir, se aglomerar. Tomara que mesmo com essas flexibilizações as pessoas se mantenham preocupadas.

Na prefeitura, o PSDB, que venceu as duas últimas eleições, poderá perder espaço na gestão de Ricardo Nunes. O partido deveria ter pensado em outra estratégia no ano passado?

Eu acho que a política é dinâmica. Tenho visto reiteradas declarações do prefeito sobre o reconhecimento de que foi o Bruno Covas que ganhou e ele que o convidou para ser vice. E dentro dessa confiança o Ricardo fará um governo de muito entendimento com o PSDB, com os oito vereadores da nossa bancada, com outras lideranças. O mandato será de convergência.

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O que o senhor acha da filiação do filho do Bruno Covas ao PSDB?

O Tomas Covas, 16, vai trabalhar no Palácio dos Bandeirantes, mas há quem diga que é uma exposição desnecessária para alguém tão novo. Acho que é natural a filiação. Ele conviveu intensamente com o pai, no último período ainda mais. É provável que tenha vocação política, mas ele tem de viver a idade dele, cuidar da juventude, da formação profissional. Depois de um impacto duro e cruel pelo qual passou, precisa de tempo para se cuidar. É importante o menino viver a vida dele.

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Publicado em VEJA São Paulo de 1° de setembro de 2021, edição nº 2753

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