Eduardo Suplicy lembra beijo em Joan Baez e perrengues com Mano Brown
Aos 80 anos, ele lembra trajetória na biografia "Um Jeito de Fazer Política" e resgata a surra que o levou para o boxe
Eduardo Suplicy nasceu e cresceu em uma casa com jardim, piscina e seis quartos na Alameda Casa Branca, esquina com a Santos, em frente ao Parque Trianon. (Nasceu, no caso, literalmente: o parto aconteceu ali.) A mansão foi um presente do avô materno, o conde italiano Andrea Matarazzo, aos pais dele, Filomena Matarazzo Suplicy e Paulo Cochrane Suplicy.
Um dia, o futuro senador da República voltava a pé pela Avenida Paulista quando cruzou, na esquina com a Augusta, com uma turma de garotos de um colégio rival. Um deles o desafiou: “O que você está olhando?”. “Partimos para a briga e por um bom tempo rolamos pelo chão”, conta Suplicy no livro Um Jeito de Fazer Política (Editora Contracorrente, 272 págs., 45 reais), o primeiro de dois volumes da autobiografia, que será lançado neste sábado (11) a partir das 12h na Cachaçaria do Rancho, na Praça Dom José Gaspar, no centro.
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Machucado na peleja, o jovem da aristocracia paulistana resolveu começar a treinar boxe, uma paixão que o acompanharia vida afora. Há, felizmente, diversos “relatos selvagens” sobre as lutas — físicas ou políticas — de Suplicy no livro, escrito em parceria com a jornalista Mônica Dallari, ex-namorada do vereador (e, por 24 anos, senador) pelo PT, do qual é um dos fundadores.
As memórias têm São Paulo como cenário, embora a mais apimentada tenha se passado no Rio. Envolveu a cantora Joan Baez, ícone da geração Woodstock. “Acabou o almoço, e voltamos caminhando para o hotel (Excelsior). (…) Subi ao quarto dela para usar o telefone. Enquanto eu falava, ela veio até mim e me deu um beijo muito especial na minha boca. Foi só isso que aconteceu. Nos despedimos, e fui embora. Liguei, então, para a Marta e resolvi contar a minha aventura. (…) Ela ficou muito brava”, narra.
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O autobiografado trata da longa amizade com Mano Brown, rapper dos Racionais MC’s e autor de um dos dois prefácios do livro. Em dois momentos, Suplicy ajudou Brown após confusões com a polícia. Uma delas, em 2004, aconteceu depois de um almoço na casa do político. Na volta, Brown furou uma blitz e acabou sendo pego com uma bituca de maconha no carro. “Paga a fiança, ele pôde ir embora”, conta Suplicy.
Em 2015, houve uma briga entre Brown e um policial durante uma abordagem. “Qual outro político estava lá (nas favelas)? Talvez em época de campanha aparecesse um ou outro, mas normalmente nenhum. Ele sempre esteve”, afirma Brown, no prefácio.
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O texto faz incontáveis defesas da Renda Básica da Cidadania, a proposta de auxílio universal que se tornou a causa — quiçá a obsessão — da vida do ex-senador. “Na crise, todos quiseram falar no tema. Boa hora para o livro”, acredita Mônica.
Além de coautora da biografia, a ex-namorada é a principal conselheira de Suplicy. Diz ser contra uma nova candidatura dele em 2022. “Não me decidi. A Mônica acha que devo passar o bastão, mas estou com boa saúde”, afirma Suplicy. “Faço ginástica três vezes por semana”, conta. Mas parou com o pugilismo, certo? “Bem… Estou sempre preparado, se for necessário.”
Rolês paulistanos
Momentos de Suplicy em São Paulo mostrados no livro do ex-senador
1) Ajudando a limpar a barra de Mano Brown
2) Na Cracolândia
3) Em Heliópolis
4) Com um carrinho da cooperativa de vendedores do Parque Ibirapuera
5) Após ser furtado na Virada Cultural de 2013, usando o microfone de Daniela Mercury para pedir que devolvessem os documentos (e devolveram)
6) Academia improvisada no porão de casa
7) No Teatro Bradesco, em 2014, quando Joan Baez o convidou para cantar Blowin’ in the Wind
8) Com Silvio Santos e Zé Celso Martinez Corrêa, tentando acordo para manter o Teatro Oficina aberto
9) No metrô de São Paulo, em 2015, foto que viralizou na internet
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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de dezembro de 2021, edição nº 2768