“A Vida em um Dia” traz registros de gente comum ao redor do mundo
Tristezas e alegrias, pobres e ricos, sarados e doentes se unem num documentário de sentimentos plurais
Tudo começou com uma ideia fascinante, cujo resultado não fica atrás. Numa parceria do YouTube com os irmãos cineastas Ridley (“Gladiador”) e Tony Scott (“O Sequestro do Metrô 1 2 3”), milhares de pessoas pelo mundo aderiram a uma convocação. Os internautas deveriam postar imagens de algo ocorrido nas 24 horas do dia 24 de julho de 2010. Também responderiam a três simples questões: o que há no seu bolso, o que você ama e do que tem medo?
A aceitação foi incrível. De 192 países, chegaram 80.000 vídeos, representando 4.500 horas de gravação. A tarefa do diretor escocês Kevin Macdonald (de “O Último Rei da Escócia”) foi dificílima. Era preciso sintetizar o material bruto em apenas 95 minutos. Embora lançado tardiamente e em sessão única no Frei Caneca Espaço Itaú de Cinema, o documentário “A Vida em um Dia” consegue arrebatar pela simplicidade do projeto. Trata-se de registros domésticos de gente como a gente.
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Não há padrão de sequência nem de formato. A fita começa e termina sob uma bela lua cheia. Em seguida, surgem cenas do cotidiano: espreguiçar, escovar os dentes, tomar o café da manhã sem pressa… afinal, era um sábado. Às vezes, o diretor acelera a montagem para mostrar imagens com o mesmo efeito, como focar os próprios pés caminhando, por exemplo. Em outra direção, o realizador deixa fluir personagens e suas surpreendentes histórias. Aí aparecem o indiano ganhando a vida como jardineiro em Dubai, o pequeno engraxate peruano, a senhora de Bali encarregada de abençoar casas, um fotógrafo do Afeganistão mirando as lentes para o dia a dia em Cabul.
Tristezas e alegrias, pobres e ricos, sarados e doentes se unem num filme de sentimentos plurais. Impossível não ficar chocado com o abate de um boi na Itália ou compartilhar a felicidade de um americano ao revelar ser gay para sua avó pelo telefone. Dos fatos curiosos, são marcantes o ciclista coreano que visitou mais de 190 países em nove anos e a paupérrima família de um viúvo árabe vivendo num cemitério. O Brasil está lá, representado por um pai de câmera na mão desmaiando no nascimento do filho.
AVALIAÇÃO ✪✪✪