Deslizamento em local irregular na Zona Sul expõe descaso municipal
A avalanche de terra atingiu casas e veículos de moradores; gestão Nunes deixou obra continuar em área proibida mesmo após alerta da Defesa Civil
Uma séria rusga entre vizinhos criada após o deslizamento de terra de um loteamento irregular erguido em uma área de mananciais na Zona Sul revelou o descaso da prefeitura em relação à fiscalização na região. Ocupado há pouco mais de um ano num quadrilátero do Jardim Herculano, o loteamento começou as obras mesmo sem ter todas as licenças para isso. A confusão teve início quando o responsável pela propriedade foi passar os canos para fazer o esgoto. Essas obras acabaram por ceder parte da área, provocando deslizamento de lama que atingiu veículos e casas, colocando moradores em risco.
+SP: estado tem queda de homicídios dolosos e alta de estupros em 2021
O dono dos imóveis alcançados é o empresário Evano Francisco de Araújo, que afirma morar na região há 35 anos. Ele diz que as obras feitas de forma irregular pelo terreno vizinho atingiram inclusive carros de clientes do seu estacionamento e chegaram a derrubar parte de um muro. “(Durante as chuvas,) veio a lama e desceu com tudo”, conta. Evano acionou a Defesa Civil, que elaborou um relatório a respeito da situação no dia 13 de dezembro de 2021. O documento, ao qual a reportagem teve acesso, traz imagens que comprovam o deslocamento de terra, além de um curso de água por meio de uma tubulação desaguando no terreno do estacionamento e outra parte do muro que ficou de pé correndo o risco de ruir.
+“Fui para os EUA, e o Chico Buarque pagou a passagem pra ele ir me ver”
O dono do loteamento que causou o problema é Vandeir de Magalhães, empresário do ramo imobiliário que atua na região. Ele alega que isso só ocorreu porque Evano impediu a passagem de tubulações de esgoto. Vandeir também diz ser dono de parte do terreno onde está o estacionamento, que, a propósito, não tem licença para funcionar. “Ele (Evano) queria comprar (minha parte do) terreno de graça, pagar 100 000 reais e eu pedi 300 000 reais”, diz Vandeir. Enquanto Vandeir afirma que o terreno por onde passou as tubulações é seu, Evano alega ter escritura do local.
+Cena 2k22 divulga parte do line-up com Racionais e Tasha & Tracie
No meio da batalha de versões dos dois está o fato de que todo o local é Área de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM) e, portanto, está irregular. Segundo a subprefeitura de M’Boi Mirim, serão tomadas “medidas cabíveis”(lacrar a obra está previsto em casos assim) no âmbito da Operação Integrada de Defesa das Águas. A resposta, porém, só veio depois do questionamento da reportagem, já que as obras vêm sendo feitas há um ano, sem interrupção.
+Assine a Vejinha a partir de 12,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de fevereiro de 2022, edição nº 2774