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Depois de seis anos fechado, Bolshoi reabre com esplendor

Restauro do teatro russo custou 30 vezes a revitalização do Teatro Municipal de São Paulo

Por Fernanda Danelon
Atualizado em 14 Maio 2024, 11h14 - Publicado em 23 nov 2011, 13h33

Estrela de “Sex and the City”, Sarah Jessica Parker viveu seu momento tiete em agosto deste ano. Ex-estudante do Balé da Cidade de Nova York e apaixonada por dança a ponto de convencer o bailarino Mikhail Baryshnikov a participar do seriado, ela aterrissou em Moscou determinada a conhecer o Bolshoi. “Het”, ouviu do segurança diante da grade de ferro que impedia o acesso ao teatro — o prédio passava pelos retoques finais da maior reforma de sua existência. A 236ª temporada começaria daí a sessenta dias para convidados do presidente Dmitri Medvedev. Para o público, a partir deste mês. Parker gesticulou para driblar o “não” russo. Reconhecida pelos operários, conseguiu entrar.

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As paredes do interior ainda cheiravam a tinta rosa-chá fresca. Mas não havia mais sinal dos martelos que viraram do avesso o maior símbolo da vida cultural soviética antes da revolução comunista. A reforma durou seis anos e envolveu 3.500 profissionais, um terço deles restauradores. Teve capítulos dignos de uma ópera-bufa à moda da Rússia capitalista: escândalos de desvio de verba, investigações de superfaturamento, adiamentos da data de reinauguração. Foram consumidos cerca de 700 milhões de dólares — trinta vezes a cifra da revitalização do centenário Teatro Municipal de São Paulo, reaberto em setembro, e dezesseis vezes mais do que o valor orçado inicialmente.

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O desfecho é um Bolshoi com o esplendor original. Mais de 700 metros de veludo vermelho para as cadeiras foram fabricados com um pedaço de tecido descoberto no restauro. Na plateia, de 900 metros quadrados, quase 5 quilos de ouro tingem os arabescos dos camarotes, restaurados segundo o projeto do arquiteto russo Albert Cavos. O mármore veneziano, antes sob tapetes, voltou a reluzir. As pinturas decoradas, escondidas por rebocos, foram reveladas. A arquitetura permanece igual. As mudanças se concentram na modernização da estrutura e na ampliação do subsolo.

A nova ala, que fez a área total dobrar para 72.000 metros quadrados, inclui camarins, escritórios e uma sala de concerto para 130 músicos. O palco tem plataformas móveis para criar inclinações ou degraus. O piso leva um acabamento que suaviza a “aterrissagem” dos bailarinos. O maior desafio foi recuperar a acústica, trunfo de Cavos. Anos de comunismo transformaram o salão em forma de violino em palco para reuniões do partido. Concreto foi jogado sobre os mais de 1.000 painéis de madeira de abeto, pinheiro utilizado em instrumentos de corda e escolhido pelo arquiteto para revestir o espaço da orquestra. Gesso cobriu os ornamentos com papel machê, que melhor reflete o som.

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Fundado em 1776, o Bolshoi ocupa o atual endereço, na Teatralnaya Square, desde 1780. Passou por incêndios em 1805 e 1853, quando Cavos o reformou. Reabriu em 20 de agosto de 1856, com a presença de Alexandre II no auditório, de 2.150 lugares — hoje são 1.700, pois o espaço entre as cadeiras foi aumentado por razões de segurança. A reforma de 1920 revelou fundações abaladas. O prédio sobreviveu a bombas na II Guerra Mundial, mas em 2000 a situação era tão dramática que a reforma revolucionária foi necessária. O Bolshoi reabre agora com “Ruslan e Ludmila”, de Mikhail Glinka, pai da ópera russa, e fecha o ano com “O Quebra-Nozes”, balé com música de Piotr Tchaikovsky. No hall principal, os telamões das colunas do camarote do czar não seguram mais a foice e o martelo. Foram substituídos pela águia de duas cabeças, símbolo das dinastias russas.

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