Os paulistanos passam, em média, três minutos por dia dentro de alguns dos mais de 60 000 elevadores em funcionamento na cidade. Muitos, no entanto, nem imaginam que a decoração daquele espaço movimenta uma lucrativa rede de profissionais — apenas na capital, há em ação cerca de trinta empresas especializadas em embelezar o interior das cabines. Max Santos, proprietário de uma delas, estima que 300 novos projetos sejam criados mensalmente. “Abrimos o negócio em 1991 e hoje virou tendência”, diz ele, que também atua como diretor executivo do Sindicato das Empresas de Elevadores de São Paulo (Seciesp). “Antigamente, as reformas mexiam apenas nas máquinas e no fosso.”
O trabalho desse segmento de decoradores concentra-se em prédios históricos, empreendimentos comerciais de alto padrão e, no caso dos residenciais, os edifícios construídos há mais de quinze anos. Dar uma nova cara a um elevador residencial de porte médio (que comporta até seis pessoas) custa de 8 000 a 50 000 reais. A variação deve-se ao tipo de acabamento, que pode ser em madeira, aço inox, bronze ou mármore — em condomínios de luxo, um único elevador chega a receber 250 quilos desses materiais. Do desenho à instalação, um projeto pode levar 35 dias para ficar pronto. “Para edifícios comerciais, o preço começa em 15 000 reais, e não tem limites”, afirma Francisco Bosco, diretor de operações da Atlas Schindler, gigante do setor.
Existem clientes que, em vez de apenas alterar o visual, optam por trocar a cabine inteira. Nesses casos e nos de prédios novos, a tecnologia utilizada dá status de investimento ao serviço. É que cerca de 60% das máquinas atuais são consideradas ecologicamente corretas: consomem 40% menos energia e não usam tipos de óleo que agridem o meio ambiente. “O foco principal dos lançamentos é a sustentabilidade”, diz Paulo Henrique Estefan, diretor comercial de outra líder do mercado, a ThyssenKrupp. Segundo a Seciesp, a indústria de elevadores movimenta cerca de 3 bilhões de reais no país, com crescimento de 12% registrado em 2009. Com o setor da construção civil aquecido, reforçado pelo lançamento de residenciais, a montagem e a instalação de um elevador podem demorar até 24 meses — em média, eles custam entre 70 000 e 100 000 reais. Em 2009, foram instalados cerca de 9 000, sendo 80% destinados a residências. Os fabricantes preveem crescimento de 15% até dezembro próximo.
Em São Paulo, os elevadores realizam cerca de 11 milhões de viagens por dia — para se ter uma ideia, isso equivale ao dobro das idas e vindas feitas em ônibus metropolitanos, por exemplo (5,7 milhões). Com os paulistanos passando cada vez mais tempo nessas cabines, a busca por bem-estar e conforto resulta na valorização dos imóveis, especialmente os residenciais. “Quando as pessoas compram um apartamento, estão realizando um sonho, e o que as transporta até lá é o elevador”, afirma Estefan. “O desafio é combinar a decoração da cabine com a dos demais ambientes do edifício.” Para isso, os fabricantes têm investido cada vez mais em equipes de designers e arquitetos especializados. E, embora a demanda pelo serviço venha aumentando a cada dia, a falta de mão de obra qualificada é uma realidade. “Chegamos a criar cursos de capacitação no sindicato para tentar diminuir esse gargalo”, conta Max Santos. Quem pretende contratar um desses profissionais, porém, deve antes solicitar licenças e autorizações do Contru-5, divisão do Departamento de Controle do Uso de Imóveis que é responsável pela fiscalização dos elevadores. A emissão dos documentos leva até cinquenta dias.
A CABINE IDEAL
Medidas e itens em que os decoradores apostam na hora de repaginar um elevador
1. DIMENSÕES
Pé-direito alto (de, pelo menos, 2,5 metros) aumenta a sensação de amplitude e bem-estar
2. REVESTIMENTOS INTERNOS
Não devem ultrapassar 15 milímetros de espessura nem ser de material que acumule poeira e sujeira – papéis de parede com textura, por exemplo
3. ILUMINAÇÃO
Luz indireta, sempre, para evitar desconforto visual
4. CORES
O piso da cabine deve contrastar com o do pavimento. Portas e revestimento também precisam ter tons diferentes – esse contraste aumenta a segurança
5. BOTÃO DE EMERGÊNCIA
Ativação de alarme sonoro por meio de símbolos táteis, localizados a uma altura máxima de 60 centímetros do piso
6. TEMPO DE PORTA ABERTA
Entre cinco e vinte segundos. O sistema de controle, acionado por sensor de movimento ou toque, deve possibilitar a reabertura das portas
7. CORRIMÃO
Uso obrigatório, no fundo e nas laterais da cabine. A superfície deve ser de fácil empanhadura e preferencialmente circular
8. ESPELHO DO FUNDO
Mais do que servir para ver se o cabelo está penteado, é recomendado para ajudar usuários de cadeira de rodas a se movimentar dentro da cabine. Deve ocupar a maior parte da parede, com distância mínima de 30 centímetros entre o piso e o espelho