Cursos ganham público usando a física como tema de aulas de autoajuda
A força da intuição, por exemplo, é explicada por meio de ideias científicas. Faça o teste para descobrir seu perfil segundo o método Quantum
Modismos como a neurolinguística de Lair Ribeiro e a inteligência emocional de Daniel Goleman já tiveram seus dias de glória no circuito de autoajuda. Para quem sempre achou essas coisas um tanto quanto abstratas, a onda do momento na cidade promete uma viagem ainda maior. Ela consiste em utilizar as complexas ideias da física quântica para explicar questões como a força da intuição e transformar parte de seus ensinamentos em regras aplicáveis no dia a dia das pessoas, nas mais diferentes áreas, da religião à gestão de carreira. Um exemplo do papo-cabeça? Segundo a disciplina em questão, um elétron pode viajar de uma órbita a outra sem passar por estágios intermediários. É o chamado salto quântico. De acordo com os gurus que pegam carona na teoria, o insight criativo trafega pelo mesmo canal, pois é uma ideia que surge do nada, sem passar antes por estágios de pensamento linear. Esses e outros conceitos alimentam um circuito de cursos, palestras e publicações na capital.
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O público que se dedica ao tema é bastante variado. A estilista Gloria Coelho, uma das adeptas mais entusiasmadas, que diz aproveitar alguns dos ensinamentos em suas coleções (a apresentada na edição verão do ano passado da São Paulo Fashion Week foi batizada de “psicodélico espiritual”), montou uma página no Facebook para compartilhar e discutir informações e afirma ter visto 23 vezes o blockbuster da turma, o documentário americano “Quem Somos Nós? — Uma Nova Evolução”. O filme, que saiu por aqui em 2005 e ganhou uma edição especial em DVD, reúne vários especialistas tratando de física quântica na versão autoajuda. “As pessoas estão chegando à conclusão de que não adianta ter, é preciso ser. Daí a busca por respostas”, comenta Gloria. Outra fã do assunto é a arquiteta Bya Barros, que atribui ao que chama de força positiva dos átomos a escolha acertada do ponto onde abriu sua nova loja no Jardim Paulista, em 2011. “Eu tinha o negócio em mente antes mesmo de achar o endereço. Se você pensa positivo e usa a intuição, só atrai coisas boas”, acredita.
Um dos principais mentores da tendência é o indiano Amit Goswami, professor da Universidade de Oregon. Ele criou em 2009 o Centro de Ativismo Quântico nos Estados Unidos e abriu em agosto do ano passado uma filial brasileira. Localizada no bairro de Pinheiros, no mesmo endereço onde fica a Aleph, editora que publica seus livros por aqui, ela registra até agora cerca de 450 pessoas inscritas em seus cursos. Devido a esse sucesso, o indiano multiplicou as visitas a São Paulo. No próximo dia 5, ele estará de novo na capital para apresentar um workshop para 300 pessoas. Com duração de um dia inteiro, o programa custa 390 reais e, até a última quarta (25), tinha dois terços das vagas preenchidas. “É a primeira vez que existe a possibilidade real de unir ciência e religião”, diz Adriano Fromer, publisher da Aleph.
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O negócio chegou ao mundo empresarial na forma de módulos de treinamento para funcionários, usando os preceitos de gente como o indiano Goswami. “Com base nessa filosofia, analisamos conceitos não palpáveis como a satisfação, o talento e a capacidade de empreendedorismo”, explica Claudia Riecken, presidente da consultoria de recursos humanos Quantum Assessment e criadora do método aplicado em empresas como Toyota, TAM e Votorantim.
E o que o mundo acadêmico acha da tendência? Nome bastante respeitado nessa comunidade, Sérgio Novaes, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp, gosta da popularização do assunto. “Há um interesse legítimo das pessoas”, afirma ele, que, no segundo semestre, vai comandar o curso “O interior da matéria”, na Casa do Saber. Mas Novaes faz ressalvas quanto a algumas interpretações que considera equivocadas. “Ciência e religião possuem propósitos e métodos completamente distintos. E, sinceramente, espero que continue dessa forma.” O colega Elcio Abdalla, professor doutor do Instituto de Física da USP, é ainda mais crítico. “A mecânica quântica ainda é largamente desconhecida em seu aspecto interpretativo”, destaca. “Isso dá margem para a imaginação correr solta.”
TEORIA NA PRÁTICA
Como o assunto está se popularizando por aqui
– Considerado o guru do ativismo quântico, o indiano Amit Goswami já esteve no Brasil mais de trinta vezes. Nos últimos anos, aumentou a frequência das visitas para atender à demanda de cursos e palestras, sobretudo em São Paulo. Desde o ano passado, passou três vezes por aqui.
– Na editora Aleph, uma das maiores no segmento, o comércio de livros sobre o tema vem aumentando, em média, 10% ao ano desde 2007. Um terço dessas vendas se concentra em São Paulo.
– A Casa do Saber realizou dois cursos diferentes abordando física quântica, de forma acadêmica, desde o ano passado. Prepara outro para o próximo semestre, comandado pelo físico Sérgio Novaes, um dos profissionais mais renomados da área.
– A empresa Quantum Assessment, com sede em São Paulo, desenvolveu um método de treinamento e avaliação de executivos baseado nos preceitos da física quântica. Entre os clientes estão empresas como Embraer, Toyota, TAM, Banco Santander e Laboratório Fleury
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