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Pais denunciam creche em Pinheiros por maus-tratos

Ex-professores também relatam agressões físicas em instituição com mensalidades na casa dos 3 000 reais, que nega o problema

Por Guilherme Queiroz
Atualizado em 9 mar 2020, 17h49 - Publicado em 9 mar 2020, 17h25
Fachada da escola Casa da Vovó, em Pinheiros
Fachada da escola Casa da Vovó, em Pinheiros (Divulgação/Divulgação)
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Pais de crianças matriculadas em uma creche localizada em Pinheiros, Zona Oeste da capital, protocolaram na Polícia Civil uma denúncia que afirma que 23 alunos que estudaram no local foram vítimas de maus-tratos. A instituição, chamada Casa da Vovó, tem mensalidades na casa dos 3 000 reais e atende de bebês até crianças de 5 anos de idade. As denúncias vão desde más condições de higiene dos banheiros e cozinha, falta de infraestrutura nos parquinhos até relatos de agressões contra os pequenos, que teriam sido realizadas pela diretora da instituição, Nereide Tolentino. Um vídeo feito por um ex-professor mostra uma mulher colocando à força comida na boca de uma criança. A reportagem da Vejinha fez um pedido de entrevista via assessoria de imprensa, o que foi negado.

O caso, que vai ser investigado pelo 15º DP, do Itaim Bibi, começou quando dois docentes foram demitidos da instituição em fevereiro, após alertarem os pais do que estaria acontecendo além dos muros. Ambos trabalharam pouco mais de 1 ano no local e, em relato para a Vejinha, relembraram o cotidiano na escola. “Ela [diretora] deu um soco na barriga de um menino de cinco anos”, lembra a mulher, que não quis se identificar. Segundo ela, a diretora teria imitado o gesto que a criança teria feito com um colega, como uma forma de “aprendizado”. “Ele [o menino] começou a chorar em posição fetal, eu fiquei em choque, sou professora há dez anos, não sabia o que fazer.”

Segundo os professores, as agressões ocorriam principalmente na hora da alimentação e da soneca diária. “A coordenadora ia passando [pelo corredor] e ia pisando na mão dos que tinham dificuldade para dormir, enfiava dedo no olho”, afirma a mulher. “No começo era um sonho, uma metodologia linda: oficinas de música, movimento, psicodrama, artes. Mas, quando comecei a trabalhar, a primeira coisa que percebi foi a falta de higiene”, relembra outro ex-professor.

Uma das mães que tirou a criança da escola, e também não quis se identificar, lembra que começou a suspeitar da instituição quando, segundo ela, a filha chegava com uma das trocas de roupa molhada na mochila. A menina estudou por lá durante 1 ano e dois meses. “Quando ela chorava, a coordenadora a colocava debaixo do chuveiro gelado”, afirma a mãe, que recebeu o relato dos professores que foram demitidos.

Imagens mostram embalagens de leite colocadas próximas a produtos de limpeza, banheiros com sacos de lixo transbordando, além de baratas próximas ao local onde as crianças descansavam.

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“Eu confrontei a diretora pela água molhada, falavam que ela sujava a roupa. E aí começaram a aparecer roxos e nada tinha explicação”, lembra. “Ela não queria mais ir para a escola, vomitava de tão nervosa que ficava quando chegava na porta.”

Diretora da The School Of Life, Diana Gabanyi teve a filha matriculada no local por quatro anos. Ela conta que ficou com “uma pulga atrás da orelha” quando a filha relatou que a diretora havia dado um soco em um colega, no ano passado. As agressões contra sua filha teriam sido principalmente verbais. “Ela falava que a diretora dizia que o cabelo dela era horroroso”, recorda-se. “Eu achava difícil de acreditar. Falei com professores, e eles diziam que sofriam chantagem emocional, tinham medo de denunciar”, diz ela, que afirma que levou também a denúncia para o Ministério Público.

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Os ex-professores afirmam que a diretora proibia o uso do celular dentro da instituição, o que teria dificultado o registro das agressões. “A rotatividade era muito alta. Todo mês tinha gente saindo. O que a gente conseguiu [registrar] é uma migalha”, afirma a mulher. O ex-professor afirma que comprou um relógio equipado com câmera para gravar as supostas agressões. “Todo mundo tinha medo de denunciar.”

Procurada, a Casa da Vovó afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que ingressou com ações judiciais contra os professores que foram demitidos e os pais que realizaram a denúncia a fim de “comprovar a verdade dos fatos e reestabelecer a Justiça”. Segundo a instituição, a “enorme maioria dos pais, que representam 70% da escola, optaram em permanecer com os filhos na instituição”. “Temos plena confiança no nosso trabalho, convictos de que as crianças sempre foram bem tratadas aqui conosco, cumprindo com nosso ideal primordial de dar uma infância feliz e saudável aos nossos pequenos”, diz também o posicionamento.

Confira a nota completa da escola abaixo:

Diante dos fatos e últimos acontecimentos na escola Casa da Vovó, gostaríamos de nos manifestar que ingressamos com Ações judiciais perante os dois professores demissionários e perante os pais que fizeram a denúncia junto à Delegacia para o fim de comprovar a verdade dos fatos e reestabelecer a justiça, em especial em relação a enorme maioria dos pais (que representam 70% da escola e optaram em permanecer com seus filhos na instituição) e a própria escola, que possui mais de 43 anos de reputação cujos resultados são reconhecidos pelas inúmeras escolas que acolhem nossos ex-alunos.
Fruto de uma campanha difamatória, associando situações de fato completamente distintas (caso de Goiás) ou inexistentes (chuveiro frio), apresentando inverdades em relação a escola, sem que se dê o devido direito de defesa à nossa Instituição e aos atuais pais, verificamos uma desmedida reação social, resultando em fortes ameaças à coordenadora envolvida, à Diretoria, aos funcionários da escola, aos pais e às próprias crianças que ali permaneceram, além de insultos e vandalismos, cuja desproporção esvaziam os direitos e discursos de quem ali entende ter sofrido algum desrespeito.
Entendemos que a verdade dos fatos será revelada nos autos do processo em curso. E esperamos que não sejamos “condenados” antes de sermos sequer ouvidos. Temos plena confiança no nosso trabalho, convictos de que as crianças sempre foram bem tratadas aqui conosco, cumprindo com nosso ideal primordial de dar uma infância feliz e saudável aos nossos pequenos. Compreendemos a posição dos pais que optaram prematuramente por trocar os filhos de escola, mas temos a consciência tranquila de que os fatos alegados são inverdades. Continuaremos a realizar o nosso trabalho com a mesma seriedade e afetuosidade que nos guiam há 43 anos.”

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