Construções estaiadas se espalham pela capital e arredores
Com seus 138 metros de altura, a Ponte Octavio Frias de Oliveira se tornou um marco paulistano
Se a Ponte do Brooklyn é um dos grandes cartões postais de Nova York e a Golden Gate o maior símbolo arquitetônico de São Francisco, a Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira se tornou rapidamente um marco paulistano, com seus 138 metros de altura e 144 cabos de aço pintados de amarelo. “Minha ideia foi fazer um emblema do arrojo da cidade”, diz o arquiteto João Valente Neto, um dos responsáveis pelo projeto. Desde 2008, quando a obra sobre o Rio Pinheiros foi inaugurada, outras seis estruturas sustentadas por estais começaram a sair do papel na Grande São Paulo. Em média, elas são 15% mais caras do que as convencionais. Como não precisam de diversos pilares de sustentação, podem ser erguidas sem a necessidade de interrupção do trânsito. Essa vantagem, segundo os especialistas, acaba compensando o investimento.
A maior das novas estaiadas atualmente toma forma em frente ao Anhembi. Com 55 metros de altura (20 a menos do que previa o projeto original, modificado em razão da proximidade com o Campo de Marte), vai ligar a Marginal Tietê à Avenida do Estado. O desenho teve de ser refeito, com a inclinação maior dos cabos, para achatar a ponte e afastar riscos para o tráfego aéreo. “Se não fosse estaiada, a construção prejudicaria a calha do rio e interromperia o trânsito”, explica Antônio Cavagliano, gerente de projetos da Dersa. Na Zona Leste, um viaduto no Belenzinho, conectado a um pilar por quarenta cabos azuis, está quase pronto, mas a prefeitura depende da desapropriação de um terreno, em discussão na Justiça, para concluir uma das alças de acesso.
Entre as obras já finalizadas, chama atenção a inaugurada em Guarulhos, em julho de 2010. Trata-se de um viaduto sustentado por 32 cabos, por cima da Via Dutra. A justificativa para a escolha do modelo, mais uma vez, foi a vantagem técnica — no caso, a de não interditar a rodovia. O letreiro “Cidade de Guarulhos” destacado no pilar central azul entre as hastes amarelas, no entanto, sugere uma motivação extra: a cidade precisava ganhar um marco urbano. “Vários moradores reclamavam de que as pessoas passavam pela Dutra sem saber que cruzavam o município”, conta o secretário de Obras, João Marques. “Agora o viaduto virou nossa referência.”
Criada no século XIX, a técnica se tornou mais usual em grandes vias nas últimas duas décadas. Apesar dos benefícios construtivos, alguns especialistas começam a discutir se não há um exagero no uso desse tipo de recurso, com o risco de criar um novo tipo de poluição visual na paisagem. “A solução serve apenas para algumas situações”, afirma Francisco de Paiva Fanucci, sócio do escritório Brasil Arquitetura. “Temos de tomar cuidado para não haver excesso na proliferação das estaiadas.”