Publicitário doa coleção com primeiras edições de 700 revistas
ESPM receberá acervo de José Francisco Queiroz com publicações apenas nacionais
Em sua infância, na cidade de Ribeirão Bonito, no interior do estado, o publicitário José Francisco Queiroz, de 69 anos, colecionava flâmulas. Tinha aproximadamente 150 das bandeirolas. Algum tempo depois, começou a investir em uma coletânea de caixinhas de fósforos. Chegou à marca de 600 itens. Mais adulto, resolveu expandir sua carta etílica. Juntou aproximadamente 400 garrafas de cachaça, com que presenteou um clube especializado. Por fim, tornou-se um aficionado de revistas. Não eram, porém, quaisquer publicações: apenas as edições número 1.
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No fim do ano passado, doou o acervo de cerca de 700 volumes, todos nacionais, ao Instituto Cultural da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), onde atua como vice-presidente de comunicação e marketing. Os artigos estão sendo catalogados e digitalizados. Devem estar disponíveis para consulta do público em breve. “Trata-se de um modo de fazer com que essas publicações continuem vivas”, diz.
No início da década de 70, trabalhando na agência de publicidade J.W. Thompson, Queiroz foi transferido para a área de planejamento de mídia. Passou a levar para casa vários títulos a fim de estudá-los e analisar quais anunciantes eram privilegiados pelas editoras. O período coincidiu com um tempo de economia próspera no país e lançamento de diversas publicações.
Naquele momento, o profissional teve a ideia de começar mais uma de suas coleções. A compilação conta com exemplares dos mais diversos tipos, de grandes títulos em atividade até hoje, passando por aqueles voltados a pequenas associações de classe, até especializados em esporte, moda, variedades, entre outros temas.
No meio dos tesouros da coletânea, aparece a estreia do gibi O PATO DONALD, a primeira cria da Editora Abril, que publica VEJA SÃO PAULO, que circula até hoje. A demora em encontrar o exemplar de 1950 só fez crescer a vontade do publicitário de ter a joia em mãos.
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Nos anos 80, ele passeava pela Avenida Paulista com a família, quando encontrou a tal revista em quadrinhos dando sopa em uma banquinha de rua. Fingiu desinteresse. Por mania da profissão, tentou negociar os 50 reais pedidos pelo vendedor, pouco ciente do valor de sua mercadoria. “Mal sabia ele que eu pagaria até 1 000 reais”, lembra Queiroz.
Sua neta, entretanto, resolveu sair correndo, e o publicitário prometeu voltar em breve, após acalmar a garota. Ao retornar alguns minutos depois, adivinhe, a revista acabara de ser vendida. “Mais tarde descobri: meu genro quis fazer uma surpresa comprando-a para mim”, recorda. “Hoje, é meu troféu.” Ele mira um dia conseguir os volumes iniciais de O Cruzeiro, Manchete e Visão.
Há outras peças curiosas no acervo. O mais antigo título data de 1947. Grande Hotel, da Editora Vecchi, continha romances em quadrinhos cujos diálogos nos balões eram escritos a bico de pena. Grande parte das marcas não existe mais por aqui, como as masculinas Penthouse, de 1982, que estreou com destaque para a atriz americana Corinne Alphen, e Lui, de 1976, que trazia uma sósia de Sophia Loren na capa.
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A ideia agora é que o acervo cresça com mais doações e seja estudado como retrato de cada época, a partir das reportagens e peças publicitárias contidas nas edições. Queiroz manterá o hábito de procurar em bancas e sebos as primeiras edições. Não pretende, porém, pelo menos por enquanto, iniciar uma coletânea de outros itens. “Agora, com a minha idade, junto apenas remédios e fotos dos netos”, brinca.