Um pensamento tem sido recorrente na cabeça de Cleyde Yáconis. Aos 86 anos de vida e seis décadas de carreira, a atriz paulista de Pirassununga acredita que o caminho escolhido pode ter sido um equívoco. Não questiona o talento comprovado em 72 peças, trinta novelas e oito filmes, mas acha que a vocação estava mais dirigida à medicina, razão da chegada a São Paulo em 1948. “Sou uma mulher das ciências, introvertida, diferente do esperado de uma artista”, afirma ela, que, em 1950, substituiu a atriz Nydia Licia, adoentada, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), e não saiu mais de cena. Se o acaso orquestrou a estreia profissional, Cleyde — irmã mais nova de Cacilda Becker (1921-1969), uma das maiores atrizes da história do teatro brasileiro — foi guiada assim, sem planejamentos ou ambições. Interpretou personagens memoráveis sem sonhar com nenhuma delas. Apenas as incorporou da “melhor maneira”. A mais recente, a escultora sul-africana Helen Elizabeth Martins, de O Caminho para Meca, encantou 25 000 pessoas em 130 apresentações desde abril de 2008. A atriz brilha por noventa minutos em um roteiro de 100 páginas decorado sem dificuldade. Em setembro, o Teatro Cosipa Cultura, no Jabaquara, onde ela viveu por duas décadas e que sempre considerou seu “bairro”, ganhou seu nome. “Eu me senti como na hora em que as palmas começam a soar no fim do espetáculo”, compara Cleyde. “Nesse momento não tem jeito. Afloram o orgulho e a vaidade do ator.”