Central técnica do Theatro Municipal abre seu acervo ao público
Espaço, localizado no Canindé, reúne cenários, documentos, objetos de cena e figurinos das produções, desde a década de 1940
A montagem de uma ópera vista por seu avesso. É isso que propõe a experiência imersiva inédita No Centro, a Técnica, que acaba de estrear na Central Técnica de Produções Chico Giacchieri, braço do Theatro Municipal de São Paulo. O espaço, que fica no bairro do Canindé e não era aberto à visitação, reúne cenários, objetos e móveis de cena, figurinos e documentação dos espetáculos apresentados no Municipal desde a década de 1940. É lá também que as próximas montagens estão em desenvolvimento, a partir do trabalho de profissionais que não sobem aos palcos para soltar a voz ou executar passos de dança, mas que são essenciais para que o espetáculo aconteça. São figurinistas, cenógrafos, iluminadores e maquinistas, entre outros, imersos na função de concretizar todo o imaginário de uma obra artística. “Essa é uma oportunidade muito rica para que o público entenda o processo de criação de um espetáculo”, diz Andrea Caruso Saturnino, superintendente geral do Municipal, que acredita na valorização do teatro não apenas como casa de encenação, mas também como lugar de produção artesanal e de encontro de vários saberes.
A programação de No Centro, a Técnica inclui uma visita à seção de documentação, imagens e libretos de óperas recentes e também à oficina de produções, onde o público pode acompanhar in loco a execução de ofícios pouco conhecidos fora do universo teatral. É o caso do trabalho de maquinista — que, apesar do nome, define a função de auxiliar cenotécnico e nada tem a ver com dirigir trens. “Fazem sempre essa confusão”, diz Anibal Marques, de 65 anos, que desde os 18 trabalha na Central Chico Giacchieri ajudando a encontrar soluções técnicas para as ideias (por vezes mirabolantes) dos cenógrafos. O nome do lugar, aliás, é uma homenagem ao cenógrafo Francisco Giacchieri, que dirigiu o departamento de cenotécnica do Municipal até 1985.
Durante a visita, o público poderá conferir duas exposições montadas especialmente para a ocasião. A primeira, batizada de Carmen, uma Insurreição, traz objetos e figurinos da ópera Carmen, do francês Georges Bizet. Segundo o curador Ricardo Muniz Fernandes, a mostra revela uma dimensão poética do universo da personagem – uma mulher forte e transgressora em busca de liberdade. A segunda vai permitir ao público sentir-se dentro de um espetáculo, ao percorrer parte da cenografia da ópera O Contractador de Diamantes, remontada para a ocasião e inspirada na plateia da Casa da Ópera de Ouro Preto, construída entre 1746 e 1770.
A Central Técnica de Produções Chico Giacchieri ainda guarda outros tesouros — estes, acessíveis apenas com agendamento específico. É o caso do acervo de figurinos, que reúne cerca de 24 000 trajes, parte deles confeccionada há mais de duas décadas. Ali, uma equipe de historiadores cuida da preservação e da catalogação de peças de roupas e acessórios que passaram pelo palco do teatro. Entre as raridades estão os figurinos da temporada do Balé do Quarto Centenário, de 1954, um dos marcos da arte coreográfica no país, com roupas idealizadas por nomes como Di Cavalcanti, Burle Marx e Lasar Segall.
Central Técnica Chico Giacchieri. Rua Pascoal Ranieri, 75, Canindé. ☎ 3311-9816. Qua. a sex., 10h e 14h (qui., somente grupos agendados via educacao@theatromunicipal. org.br). Grátis. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de julho de 2024, edição nº2902