Cães “voluntários”alegram pacientes em hospitais
O uso de animais em tratamentos médicos começou por volta de 1800, na Inglaterra
Aos 3 anos, o golden retriever Joe Spencer tem agenda cheia. Às segundas e quartas, bate cartão no Hospital São Paulo, na Vila Clementino. Toda terça, comparece a uma escola especializada em pessoas com paralisia cerebral, no mesmo bairro, e às quintas vai ao Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac), na Vila Mariana. “Quando Joe não tem trabalho voluntário, ele fica tristonho”, acredita a administradora Luci Borges, dona do cachorro, que desde 2005 é levado para visitar doentes e idosos. No mesmo ano, a pedagoga Cecília de Souza Leite criou um projeto similar. Hoje, coordena uma equipe com treze cães que se revezam em hospitais públicos, asilos e clínicas da cidade. “É impressionante ver como as crianças ficam felizes quando os animais entram nos quartos”, conta Cecília.
O uso de animais em tratamentos médicos começou por volta de 1800, na Inglaterra, em uma clínica de doentes mentais. Ali, os pacientes eram incentivados a cuidar dos bichos. Com o passar dos anos, outras técnicas foram desenvolvidas. Por aqui, a pioneira é a médica veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs, que em 1987 se doutorou na USP com um estudo sobre os benefícios da interação de animais com pacientes. Dez anos mais tarde, montou uma equipe – hoje formada por dezoito pessoas – para levar cães, pequenos roedores e tartarugas a hospitais como a Santa Casa, na Vila Buarque, e o Nossa Senhora de Lourdes, no Jabaquara. “Os pacientes ficam mais calmos, choram menos, e o relacionamento com os enfermeiros melhora”, afirma.
Antes de entrarem nos hospitais, os cães têm a boca e as patas limpas com anti-séptico. A cada quatro meses passam por um veterinário. As visitas, semanais, duram de uma a duas horas. Esse tempo, distribuído entre os pacientes, parece pouco para Mateus da Silva, 5 anos, tetraplégico desde os 3. Ele abre um sorrisão quando recebe o carinho da golden Lola. Ou para Rafael Souza, 2 anos, que, depois de ficar três dias internado com uma crise respiratória e obter alta, não queria nem saber de ir embora para casa. “O cachorro é meu”, dizia, enquanto levava Lola pela coleira no corredor do Hospital Mandaqui