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Baixa gastronomia

As barreiras caíram. Há muitos anos, quando o peru à califórnia desembarcou no país, estranhava-se a mistura de doce e salgado: pêssego em calda com a tenra carne da ave. Tempos tímidos! Atualmente, a liberação é total. Eu não vou muito a pizzarias. Certa vez fui obrigado a enfrentar uma pizza romeu-e-julieta, de goiabada com […]

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18
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  • As barreiras caíram. Há muitos anos, quando o peru à califórnia desembarcou no país, estranhava-se a mistura de doce e salgado: pêssego em calda com a tenra carne da ave. Tempos tímidos! Atualmente, a liberação é total. Eu não vou muito a pizzarias. Certa vez fui obrigado a enfrentar uma pizza romeu-e-julieta, de goiabada com queijo, porque todo mundo na mesa queria. Só me revoltei diante da de brigadeiro! Pode? Os japoneses também atacam. Existe uma tendência, a culinária nipo fusion, na qual ingredientes são misturados. Há uma fronteira tênue entre um chef criativo e um desvairado. Já deparei com sushi de salmão com morango e maionese! Atum cru com maracujá! Quando fiz careta, fui criticado:

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    – Você não entendeu a proposta! – disse uma amiga.

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    Agora não posso sair para jantar tranqüilamente? Tenho de entender a tal “proposta” como se estivesse indo para uma defesa de tese na USP?

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    Há no Orkut uma comunidade divertidíssima, “O creme não compensa”, na qual se abrigam rebeldes como eu. Ela é dedicada ao frango com creme de leite, milho verde, uva-passa e batata palha, ícone da cozinha elegante de algum tempo atrás. A culinária também passa por modas. O creme de leite já esteve no auge. Era só atirar creme de leite em qualquer receita, e ficava chique! Picadinho, frango, peixe, panqueca, tudo nadava no creme! Na tal comunidade, soube de uma novíssima invenção: sushi de goiabada! Enquanto me contorcia, li outro depoimento, de alguém cujo pimpolho adora bolinhas de queijo fritas com sorvete de nozes!

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    Tenho uma amiga viciada em alecrim. Porco ou peixe, tudo fica com o mesmo gosto. Quando vou a sua casa saio cheirando a erva! É o problema de quem começa a cozinhar. Orégano, sálvia e o culposo alecrim são ótimos para dar um gostinho de fundo. Com medo de o prato ficar sem sabor, minha amiga atira tudo o que puder. Depois pergunta:

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    – Está bom?

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    – O alecrim ficou um pouco forte!

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    – Você sempre disse que gostava!

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    Claro! Alguém é capaz de encher a pança e declarar que a comida estava horrível? Cozinheiros são pessoas sensíveis. Outra amiga me serviu um risoto de arroz integral. Mas não cozinhou direito. Os grãos pareciam pedregulhos. Em vez de fritar um ovo, ela insistia:

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    – Mas o molho ficou bom, não ficou?

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    Já vi sashimi com ketchup. Camarão com ameixa-preta. Macarronada com feijão!

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    Alguns terrores são salvos pela tradição. Como o ovo de mil anos, requinte oferecido a imperadores chineses. O ovo de pata é enterrado cru por algum tempo. Quando o retiram, a gema já se tornou uma gosma gelatinosa e verde. Nas raras vezes em que me foi apresentado, não vi ninguém na mesa se comportar como um imperador chinês. Foi uma correria! Mais tarde a dona da casa encontrou os tais ovos escondidos até nos vasos de antúrios!

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    Para mim, as duas grandes vilãs ainda são a batata palha e a salsicha. A primeira transforma-se numa série de gravetos gordurosos. Perda de tempo comentar os hot dogs de carrinho, com tudo dentro, inclusive purê. Se dou uma mordida, o recheio espirra! Fico igual a um palhaço, com ketchup, mostarda e purê no nariz e nas bochechas! Agora um amigo está insistindo para eu ir experimentar sua grande descoberta: estrogonofe de salsicha! Sinto arrepios! As desculpas estão acabando. Do jeito que vai, a única saída é dizer que virei vegetariano! Por falar nisso, alguém já comeu almôndega de soja com molho de tomate e a textura de um pedaço de borracha? Essa, sim, é campeã!

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